Disco: “Always”, Xiu Xiu

/ Por: Cleber Facchi 25/01/2012

Xiu Xiu
Experimental/Electronic/Indie
http://xiuxiu.org/

Por: Fernanda Blammer

 

O grande problema de qualquer artista que traz a experimentação como foco principal do trabalho está na constante necessidade de renovação dessas mesmas experiências musicais. Não basta apenas arriscar solos de guitarras instáveis, sobreposições instrumentais sem qualquer toque convencional, texturas mil ou doses de uma eletrônica quebrada e não óbvia. É preciso experimentar a própria experimentação, romper com a natureza dos trabalhos anteriores e estar sempre em constante transformação, feito que inúmeros artistas até arriscam, mas em grande parte das vezes não conseguem acertar.

Ótimo exemplo disso está em Always (2012, Polyvinyl), nono registro em estúdio do músico californiano Jamie Stweart, que é obviamente muito mais conhecido pelo nome de Xiu Xiu (que em chinês quer dizer sapato). Vindo de uma série de trabalhos genuinamente experimentais, o músico apresenta o novo álbum indisposto do mesmo brilhantismo de outrora, amarrando eletrônica, pós-punk, art rock e os mais puros experimentos musicais sem a mesma criatividade e distinção de outrora.

Uma cópia de si próprio. Essa é a sensação repassada desde os minutos iniciais do novo álbum de Stwart até o encerramento do mesmo. Quem acompanha o trabalho do músico californiano desde que os primeiros lançamentos do artista começaram a se destacar em princípios dos anos 2000, sabe que há tempos Xiu Xiu vem se aventurando em uma maré de lançamentos decrescentes, trabalhos que nem com muito esforço conseguem resgatar a boa forma anunciada através do disco Fabulous Muscles (2004) ou do bizarro A Primise (2003), que logo na capa anunciava toda a rebeldia (ou esquisitice) do músico.

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Mesmo que ao longo dos últimos anos o músico (e os diversos parceiros não fixos que o acompanham) tenha alcançado alguns resultados razoáveis – como no não óbvio Dear God, I Hate Myself de 2010 –, a sucessão de lançamentos pouco relevantes acabam predominando. Com Always não é diferente. Por mais que em faixas como I Love Abortion, um noise rock eletrônico e raivoso, o músico até consiga quebrar as amenidades do disco (e dos próprios trabalhos anteriores), os excessos que controlam o restante do álbum acabam impedindo que ele cresça e rompa com o básico.

De fato, muito do que sustenta o trabalho passa longe de soar experimental ou próximo das composições vanguardistas de Stwart na década passada. Parte predominante do registro explora uma musicalidade inteiramente convencional, tradicionalista e básica, com o músico em diversos momentos expondo o quanto não é mais o mesmo inventivo criador de outrora. Nem a presença de Greg Saunier (Deerhoof) na produção do disco consegue salvar o trabalho de um fracasso completo.

Cada faixa ao longo do trabalho parece apenas uma desculpa para que um compositor pouco inspirado consiga se anunciar. Always é frio, cansativo e atrasado, até parece não ser fruto da mesma árvore musical que deu sombra e forneceu criatividade aos anteriores trabalhos do Xiu Xiu. Na dúvida entre ouvir ou não o trabalho, fique com a segunda opção e mergulhe fundo nos primeiros trabalhos do músico, quando ainda havia algo de inventivo e verdadeiramente interessante no trabalho de Stwart.

Always (2012, Polyvinyl)

Nota: 5.0
para quem gosta de: Deerhoof, Cold Cave e High Places
Ouça: Hi

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.