Disco: “An Object”, No Age

/ Por: Cleber Facchi 20/08/2013

No Age
Indie/Experimental/Noise Rock
http://noagela.org/

 

Por: Cleber Facchi

No Age

Quem acompanha o trabalho do No Age desde a estreia com Weirdo Rippers (2007) sabe: nada permanece estável nas mãos de Randy Randall e Dean Allen Spunt. Ainda que a dupla traga no Noise Rock um princípio de estabilidade e base natural para o projeto, a cada novo registro a busca por um cenário lírico/musical distinto se transforma em uma proposta criativa ao desenvolvimento da banda. Não diferente é o exercício sonoro que orienta conceitualmente An Object (2013, Sub Pop), quarto registro em estúdio dos californianos e possivelmente o exemplar mais “estranho” de toda a curta trajetória da dupla.

Há de se esperar que uma banda responsável por composições anárquicas como Eraser, Teen Creeps e Fever Dreaming mantenha durante toda a trajetória o mesmo esforço crescente das composições, correto? Errado. Ao pisarmos no território que define o presente disco, nada ecoa de forma aproximada àquilo que a dupla parecia sustentar até poucos tempo. Esqueça as distorções descontroladas do álbum de estreia, o teor Punk que consome cada faixa do clássico Nouns (2008), ou mesmo as melodias agressivas de Everything in Between (2010), An Object é um álbum de desconstrução.

Mais lento e instrumentalmente ponderado em relação aos demais lançamentos da dupla, o novo disco aproxima cada uma das 11 composições que o recheiam dentro de um ambiente musical pensado sob forte relação. Faixas que substituem o desespero intencional dos registros anteriores em prol de uma obra quase introspectiva, volta ao experimento em um esforço de incorporação climática. É como se a Ambient Noise de Weirdo Rippers voltasse a crescer, porém, em outro sentido. Se antes a sonoridade da dupla parecia explodir, fazendo de cada disco uma onda de ruídos, vozes berradas e sons estridentes, hoje ela implode, e de maneira quase silenciosa em alguns instantes.

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Claro que algumas das composições espalhadas pela obra repetem a boa forma do trabalho anterior. É o caso da faixa de abertura, No Ground, que ao se livrar da carga de sujeira (típica dos lançamentos anteriores), soa como alguma música perdida do Liars ou quem sabe um Japandroids desanimado. Já C’mon, Stimmung e I Won’t Be Your Generator trazem no toque visível de Punk-Surf um novo horizonte para a banda. Seria de forma natural a salvação para todo o trabalho, se não fosse pela overdose de canções insossas e sons intelectualmente climáticos que ocupam grande parte da metade final do álbum.

An Object é, como todos os trabalhos do No Age, uma sequência efêmera de ruídos e experimentos musicais orquestrados de acordo com as necessidades pontuais da dupla. A diferença em relação ao mesmo posicionamento nos álbuns anteriores, principalmente do último, está na ausência de “testosterona”. Não que as composições soem como cópias, mas nada do que caracteriza o presente registro se aproxima do teor agressivo que tingia anteriormente o trabalho do duo. É como se outra dupla buscasse emular o trabalho dos californianos, seja em faixas mais lentas, como My Hands, Birch And Steel (com uma proposta já explorada em outras como Keechie do álbum Nouns), ou de canções mais “intensas”, caso de I Won’t Be Your Generator, quase uma sobra do álbum Everything In Between.

Mais do que uma obra centrada no presente, An Object parece fluir como um princípio de transformação para os futuros lançamentos da dupla. Sem o mesmo “refinamento” do disco passado e produzido no melhor estilo D.I.Y., o disco se estabelece como um misto de regresso ao começo de carreira e uma sequência natural ao trabalho dos californianos. A própria arte do álbum foi desenvolvida pela dupla, também explorada como carimbo, a ser aproveitado em camisetas e outros produtos da banda. Uma prova contínua de que o No Age parece longe de encontrar conforto, o que no presente caso, não necessariamente quer dizer acerto.

 

An Object

An Object (2013, Sub Pop)

 

Nota: 6.0
Para quem gosta de: Male Bonding, Deerhunter e Women
Ouça: C’mon, Stimmung, Running From A-Go-Go e No Ground

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.