Disco: “And Heady Fwends”, The Flaming Lips

/ Por: Cleber Facchi 24/04/2012

The Flaming Lips
Experimental/Psychedelic/Alternative
http://www.flaminglips.com/

Por: Cleber Facchi

Wayne Coyne

Poucos artistas compreendem o real significado da palavra “surpresa” quanto Wayne Coyne. De fato, o eterno líder do The Flaming Lips parece viver exatamente disso: pequenas, mas, constantes doses de surpresa e produções musicais não óbvias. Em atuação desde primórdios dos anos 1980, porém descoberto pelo público somente ao final da década seguinte, o artista Oklahoma foi ao longo de quase três décadas de atuação conquistando um amplo número de seguidores, relação que ele enaltece com o lançamento de The Flaming Lips And Heady Fwends (2012, Warner Bros.), projeto em parceria com uma série de renomados artistas da música internacional que acabam involuntariamente tragados para dentro do estranho universo dos lábios flamejantes.

Diferente do fracasso que foi o trabalho anterior comandado por Coyne e sua banda – uma versão esquizofrênica e ambiciosa do clássico do Pink Floyd The Dark Side of the Moon -, com o novo lançamento o grupo parece dar exata continuidade ao que foi interrompido no final do excelente Embryonic de 2009. Longe do conjunto de guitarras melódicas e harmonias vocais místicas que os Lips vinham desenvolvendo desde o clássico absoluto The Soft Bulletin de 1999, a banda segue empenhada no uso de guitarras tomadas pela distorção, vozes não óbvias e toda uma soma de elementos que pouco se assemelham ao ambiente suave que tanto marcava a carreira dos norte-americanos.

Mesmo a presença de nomes como Bon Iver, Neon Indian, Chris Martin (!) e Ke$ha (!!) não são suficientes para afastar a banda do caminho iniciado na disforme 2012 (You Must Be Upgraded), canção de abertura do trabalho e um ótimo exemplo do que será explorado no restante do álbum. Tudo no interior da obra é abordado de maneira ruidosa, com a banda sobrepondo colagens de distorções em cima de vozes carregadas de efeitos empoeirados. Um estranho acúmulo de sensações que aos poucos se tornam compreendidas e estranhamente desafiadoras ao ouvinte, como se o grupo buscasse o tempo todo testar quem se aventura pelas 13 canções do álbum, presenteando o espectador com toda uma nova carga de referências e estranhas sensações musicais a cada nova faixa.

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Talvez o que mais encante no resultado final do disco seja a maneira como as músicas que o compõem pareçam brilhantemente próximas, como se todas fossem captadas em um espaço de tempo único e não ao longo de um ano como de fato ocorreram as gravações. Outro fator de grande importância para o trabalho está na maneira como os colaboradores – vindos dos mais distantes cantos musicais – parecem bem acomodados na fluência experimental do registro. Seja Erykah Badu na etérea e gigante The First Time Ever I Saw Your Face ou o líder do Coldplay na mística I Don’t Want You To Die, ao entrarem no mundo flutuante da banda, todos se transformam, como se fossem há tempos membros permanentes do projeto.

A grande beleza do trabalho, entretanto, se encontra justamente quando Wayne e os parceiros de banda se encontram com artistas donos de uma sonoridade naturalmente próxima da projetada por eles. Em Children Of The Moon, por exemplo, a parceria com os australianos do Tame Impala acaba resultando em uma surpreendente produção, um tipo de música que poderia facilmente ser encontrada nas proximidades do icônico álbum Yoshimi Battles the Pink Robots, de 2002. A própria Yoko Ono, há décadas sem lançar nenhum projeto de grande relevância parece naturalmente confortável na rápida Do It!, uma das poucas canções que puxam o registro de volta pra o chão.

The Flaming Lips And Heady Fwends só não alcança um melhor desempenho por justamente se alongar demais em alguns momentos, exagerando nos mesmos experimentos que por vezes engrandecem o trabalho. Tanto I’m Working At Nasa On Acid (ao lado da banda de noise rock Lightning Bolt) como Girl, You’re So Weird (com os texanos do New Fumes) soam redundantes e desnecessárias ao trabalho, com o grupo trabalhando em cima de algo que fora previamente melhor abordado em outras composições do disco. Todavia, feito uma imensa viagem de ácido coletiva, é mais do que natural que o registro esbarre em algumas oscilações típicas e certos usuários se deparem com alguns efeitos adversos, o que de forma alguma prejudica o bom rendimento do restante da obra ou da lisérgica viagem proposta pela banda.

The Flaming Lips And Heady Fwends (2012, Warner Bros.)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Mercury Rev, Animal Collective e Tame Impala
Ouça: Ashes In The Air e Children Of The Moon

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.