Disco: “Angels of Darkness, Demons of Light I”, Earth

/ Por: Cleber Facchi 08/01/2011

Earth
Drone/Post-Rock/Instrumental
http://www.myspace.com/earthofficial

 

Em meio à explosão do movimento grunge no início da década de 1990 um único homem teve a ousadia de trilhar seu caminho totalmente alheio ao que borbulhava na efervescente Seattle daqueles dias. O corajoso homem em questão era Dylan Carlson e sua banda-de-um-homem-só o Earth, que munido apenas de uma guitarra soube explorar um som até então vanguardista e inominável, mas que anos mais tarde serviria de influência para um sem número de bandas do Post-Rock ao Doom Metal.

O som vindo do Earth era uma quase oposição ao que às guitarras urgentes e berradas de Kurt Cobain e sua trupe pregavam, embora o músico nunca fizesse questão de rivalizar com tal movimento não havia em seu som a mesma coerência do que era tocado no momento. Enquanto o Nirvana lançava em 1991 o clássico absoluto Nevermind, com suas faixas dinâmicas e repletas de versatilidade, Carlson dava ao público seu primeiro EP, Extra Capsular-Extration, com as faixas que beiravam os 20 minutos de solos quase inalteráveis de puro metal minimalista.

Apesar de bandas como The Melvins se dizerem profundamente inspirados pela sonoridade proposta pelo Earth seriam necessários mais de dez anos caminhando na contramão da indústria fonográfica (e até mesmo da própria cena alternativa), vários discos de estúdio e EPs até que o reconhecimento chegasse. Somente em meados dos anos 2000 quando grupos como Boris e Sun O))) passaram a ter destaque dentro do cenário independente, que o som de Dylan Carlson passou a ser citado como referência.

Com seus mais de vinte anos de existência (o projeto existe desde 1989) em 2011 chega Angels of Darkness, Demons Of Light o sexto álbum de estúdio do músico que vem dividido em duas partes. A primeira é lançada agora, enquanto a continuação vem no segundo semestre do ano.

Não há muita distinção dos trabalhos anteriormente lançados pelo músico. Quem conhece o Earth sabe que não pode contar com a mesma instrumentação sombria que perpassa as faixas do Sun O))) ou não encontrará a eficácia sonora desenvolvida nos discos dos japoneses do Boris (principalmente do álbum Pink), os dois maiores expoentes do Drone Metal nos últimos anos. Carlson se utilizada de nuances menos agressivas de guitarra, já que as faixas vêm trabalhadas dentro de uma sonoridade que pende muito mais para o post-rock de bandas como Godspeed You! Black Emperor do que para uma instrumentação voltada para o metal em si.

Com cinco faixas (a mais curta conta com 7:30 minutos de duração, enquanto a mais extensa ultrapassa os 20 minutos) o álbum mostra que Carlson ainda sabe como conduzir sua guitarra, embora se volte muito mais para uma instrumentação ambientada do que agressiva. Angels of Darkness, Demons of Light I, por exemplo, que encerra o trabalho vai aos poucos agregando elementos para além da básica guitarra e bateria. Um violoncelo vai esporadicamente soltando alguns acordes enquanto o músico segue com seus longos solos de guitarra.

Mesmo em meio a faixas que raramente sofrem alguma alteração em sua composição é difícil cansar do disco. As canções transitam em momentos de puro brilhantismo épico além de toques introspectivos de pura apreciação. Agora é esperar pela segunda parte do disco e ver se o músico consegue manter a mesma qualidade do trabalho atual.

 

Angels of Darkness, Demons of Light I (2011)

 

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Sun O))), Boris e Om
Ouça: Angels of Darkness, Demons of Light I

Por: Cleber Facchi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.