Disco: “Angles”, The Strokes

/ Por: Cleber Facchi 15/03/2011

The Strokes
Indie Rock/Alternative/Rock
http://www.myspace.com/thestrokes

Por: Cleber Facchi

Antes de discutir sobre a qualidade (ou a ausência dela) no novo disco do The Strokes outro fator bem interessante veio à cabeça. No dia dois de fevereiro de 2011, há pouco mais de um mês Jack e Meg White vieram a público para dar a triste notícia sobre o fim do The White Stripes. Entre as várias alegações expressas pela dupla estava a de evitar que toda a discografia do duo fosse desmoralizada a partir do lançamento de um trabalho ruim, destruindo um projeto com mais de dez anos de história e uma série de registros fundamentais para a história do rock dos anos 2000. Embora a tristeza sobre o término de uma banda tão amada impedisse de ver: Jack e Meg estavam certos.

Por mais que fosse difícil de aceitar, haveria um dia em que o casal nos presentearia com um trabalho nem tão envolvente como seus clássicos White Blood Cells (2001), Elephant (2003) ou Icky Thump (2007), transformando todo o orgulho, que sempre pairou sobre o duo, em tristeza. Quase cinco anos e muitas dúvidas separariam o The Strokes de First Impressions of Earth (2006) para seu recente Angles (2011), e nessa quase meia década, entre idas e vindas, além de um quase fim da banda, após ouvir esse recente álbum fica uma constatação: Jack e Meg continuam certos.

Angles, suas dez faixas e toda a agonia antes desse lançamento transformam-se infelizmente em um lamento. Não, dessa vez não há a mesma expectativa que assolou a estreia do The Vaccines. Desde anunciado, boa parte das pessoas (inclusive este que vos escreve) mantinham os dois pés atrás em relação a um novo álbum da banda de Julian Casablancas, Nick Valensi, Albert Hammond, Jr., Nikolai Fraiture e Fabrizio Moretti, embora lá no fundo, escondido atrás de ressentimentos (muito por conta do ultimo disco) havia sim um pingo de esperança. Sentimento este que se extingue após uma primeira audição do quarto disco dos nova-iorquinos.

É complicado aceitar cada acorde apresentado dentro desse novo trabalho. Muitos filhos da década de 1990 (além de um bom número do final dos anos 80) tiveram com Is This It (2001) uma ponte para chegar até muitos dos sons da década passada e principalmente dessa década.Os Strokes foram (e ainda são) aquela banda clichê que todo mundo cita no início de um bate papo puxado pela pergunta “Quais são suas bandas favoritas?”. Pode até ser revoltoso para alguns, mas eles são o Nirvana dos anos 2000, que mesmo livre dos mesmos conceitos, ideologias ou das simples questões técnico-instrumentais servem para dizer “esse é o rock que eu ouço”.

Por conta de todos estes fatores e muitos outros, que envolvem desde noites perdidas e discussões de bar sobre “qual é o melhor disco da banda” ou o quanto eles influenciaram o trabalho de outros artistas, mas o fato é que os 34:09 minutos de Angles são excruciantes.

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Se o álbum é uma verdadeira relação de amor e ódio, sendo o amor definido pela beleza de faixas como Under Cover Of Darkness e You’re So Right, e o ódio por todo o resto, o resultado final é mais do que previsível.

Não há problema algum na intenção do quinteto em se aventurar pelo mundo mágico dos anos 80, elemento que se evidencia da capa às faixas. O problema está em fazer isso sem ter a mínima noção do que está sendo feito. Talvez pela contribuição mútua dos integrantes dentro desse trabalho (antes as composições eram quase exclusivas de Casablancas) e pela pluralidade de influências externas, fica visível o quanto Angles atira para todas as direções sem exatamente atingir um objetivo que seja. Seria de se imaginar, que com mais de dez anos de carreira a sapiência do grupo em proporcionar um trabalho sólido aos seus ouvintes seria algo obvio e esperado. Entretanto, não é isso que acontece.

Quando lançaram seu primeiro álbum em 30 de julho de 2001 a banda era muito mais lembrada por sua posição descontraída e pela atitude largada de seus integrantes, o próprio Casablancas conheceu Hammond Jr enquanto ambos frequentavam um colégio interno por conta do uso abusivo de álcool. Além dessa atitude “descolada”, “cool” e “roqueira” existia um elemento fundamental na composição do grupo: a boa música. Você pode até ser um “cara das antigas”, que só gosta das velharias do rock, mas é muito difícil não se motivar pela levada marcante de faixas como Barely Legal, Last Night ou cantar emocionado ao som de Hard To Explain. Quem nunca brincou de fazer air guitar ao som de Reptilia? O problema/solução é que as pessoas crescem e para a maioria dos integrantes do Strokes crescer significou ser chato.

Você pode até ter se apaixonado pelos trabalhos solo de Albert Hammond Jr, com toda sua delicadeza e beleza nas composições, pode muito bem ter cantado com o Little Joy e sentido toda a energia festiva do primeiro álbum da banda, quem sabe ainda (duvidoso isso) pode ter gostado do Nickel Eye, mas uma coisa é impossível negar: nada se comparava aos primeiros discos da banda, quando o som era cru, enérgico e a banda era una.

Dessa forma, Angles e suas pequenas vergonhas, como Games, Life Is Simple In The Moonlight e Gratisfaction parecem mais um projeto paralelo com todos os membros da banda, mas sem que de fato ele seja um disco do The Strokes. Não importa o ângulo que você observe esse disco, assim como a capa do álbum nada parece coerente, tudo é confuso, errado e desnecessário. O que seria resolvido com um simples lançamento de um single precisou de um registro inteiro de canções repletas de erros e sons maçantes. Assim como o Kings of Leon e Interpol, o quinteto nova-iorquino precisa acabar, antes que destruam ainda mais sua relevante história.

Angles (2011)

Nota: 6.0
Para quem gosta de: Little Joy, The Libertines e Anos 80
Ouça: Under Cover Darkness

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.