Disco: “Anxiety”, Ladyhawke

/ Por: Cleber Facchi 28/03/2012

Ladyhawke
Indie/Electronic/Female Vocalists
http://www.ladyhawkemusic.com/

Por: Cleber Facchi

Phillipa Brown, ou como é melhor conhecida, Ladyhawke é um fruto típico de sua própria geração. Com a infância em desenvolvimento ao longo de toda a década de 1980, a cantora, compositora e multi-instrumentista só foi descobrir o amor pela música de sua época quando adulta. Como resultado, a neozelandesa não tardou a exprimir em suas composições um sentimento nostálgico e perfumado pela saudade. Manifestação que se revela com maestria tanto no primeiro disco de estúdio, um homônimo álbum lançado em 2008, como no próprio nome que usa para se apresentar, inspiração retirada de um clássico filme da mesma década – no Brasil adaptado como Feitiço de Áquila.

Enquanto ao estrear a cantora vinda de Masterton contou com a boa repercussão da imprensa e principalmente a quase adoração do público, com o segundo e mais novo trabalho, Anxiety (2012, Modular), o esforço é todo orientado para que Ladyhawke para que não caia no esquecimento. Se por um lado os quatro anos que passou entre gravações em estúdio e pequenas turnês ao redor do globo serviram para aumentar a ansiedade do público por um novo álbum, por outro lado o longo espaço sem grandes novidades serviu para que a artista fosse aos poucos apagada da mídia ou simplesmente esquecida por alguns velhos seguidores.

Entretanto, a chama deixada por My Delirium, Dusk Til Down, Magic e algumas das mais encantadoras faixas do último álbum possibilitam que a cantora retome a carreira agora de forma segura, mesmo que ao longo do novo disco Ladyhawke tente aos poucos desfazer a figura frágil construída por ela no passado. Saem os sintetizadores (ou pelo menos boa parte deles) e entram as guitarras, instrumento que auxilia a neozelandesa na construção do toque sério e por vezes até raivoso que se desenvolve com o passar das faixas. Anxiety, como o próprio nome assume, revela um constante caráter de inquietação, distanciando a cantora do synthpop melancólico de outrora, arrastando-a para o rock.

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Mas calma, mesmo que os sintetizadores quase mágicos de Back Of The Van ou demais composições do último disco não tenham mais espaço no presente trabalho, isso não quer dizer que alguns focos de resistência New Wave não possam ser encontrados até o fim da obra. Cellophane e o single Black, White & Blue talvez sejam as composições que melhor se aproximem dos antigos lançamentos da cantora, entretanto, mesmo que os teclados tenham um lugar de destaque, a maneira como são empregados (ao fundo das faixas), garantem ao álbum e a carreira de Ladyhawke novo significado. Esqueça a garota sofrida de outrora. As lágrimas secaram e é justamente sobre isso que ela escreve e canta.

De fato, o toque amargo que se manifesta com o passar das faixas aos poucos afasta a cantora da década que tanto inspirou o disco de estreia, transportando os versos e toda a energia do registro para junto dos anos 90. A estrutura crua montada em cima de faixas como Girl Like Me, por exemplo, quase tocam no rock firme que alguns grupos como Garbage e (em menor escala) Liz Phair conseguiram desenvolver. Mesmo que os toques de eletrônica até tentem se manifestar, solos sujos de guitarra se apoderam das canções, permitindo apenas que a voz doce (e sofrida) de Brown possa se manifestar – o único elemento inalterado entre os dois discos.

Contra todas as possíveis expectativas, em Anxiety Ladyhawke conseguiu garantir certo toque de novidade a carreira que vem construindo, explorando um som que mesmo não tão novo, consegue se modelar de forma quase inédita nas mãos da musicista. Embora o trabalho não seja capaz de arremessar a neozelandesa para junto das grandes vozes da cena alternativa, pelo menos ele se compromete com o que a cantora havia iniciado no trabalho anterior: produzir músicas que mesmo doces ou amargas, cativam e movimentam o ouvinte sem grandes esforços. Um disco que se compromete com o objetivo de fazer o público dançar. E é exatamente isso que ele faz.

Anxiety (2012, Modular)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: La Roux, Cansei de Ser Sexy e Little Boots
Ouça: Cellophane, Anxiety e Black, White & Blue

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.