Disco: “Anything In Return”, Toro Y Moi

/ Por: Cleber Facchi 04/01/2013

Toro Y Moi
Chillwave/Electronic/Lo-Fi
https://www.facebook.com/toroymoi

Por: Cleber Facchi

Toro Y Moi

Chazwick Bundick parecia flutuar em um oceano de reverberações etéreas e essencialmente caseiras quando apareceu em idos de 2009 com os primeiros registros do Toro Y Moi. Sempre em busca de um composto instável, o produtor conseguiu compilar algumas de suas invenções de maneira “física”, alcançando no começo do ano seguinte o experimental Causers of This (2010). Um dos símbolos da crescente Chillwave – ao lado de Life of Leisure do Washed Out e Psychic Chasms de Neon Indian -, o álbum parece se desfazer nos ouvidos do espectador, resultado óbvio na formatação liquefeita de Blessa, Freak Love e outros inventos que colecionam camadas sobrepostas, vozes transformadas e pequenas sonorizações que parecem recortes de papel espalhados de maneira aleatória.

O que em princípio transpirava leveza passou a assumir formas mais bem definidas no começo de 2011, afinal, tão logo Underneath the Pine, o segundo álbum do Toro Y Moi foi apresentado, Bundick deixava mais do que claro que a proposta dali em diante seria outra. Cada vez mais íntimo da música pop, mas sem abandonar suas origens, o produtor faria de Freaking Out (EP lançado em setembro do mesmo ano) o anuncio final do que seria a sonoridade proposta por ele, bem como um provável retrato do que outros “veteranos” da Chillwave buscariam em seus próprios trabalhos. A psicodelia, o rock, a eletrônica e a experimentação passaram a surgir diluídos em um invento Lo-Fi e intencionalmente pop. Nasciam ali as bases para o que hoje se materializa em Anything In Return (2013, Carpark).

Terceiro registro oficial da carreira do músico, o novo álbum parece se dividir entre a sutileza experimental do primeiro disco e a formatação “comercial” dos projetos seguintes – resultado que deve agradar aos novos e velhos seguidores do músico. Mais do que isso, com o novo trabalho Bundick perverte novamente a construção instrumental que tanto definia a proposta do Toro Y Moi, garantindo novo sentido às bases e preferências que outrora caracterizavam cada fração da obra do norte-americano. Maior registro do músico, até agora, o álbum coleciona elementos temperados pelo ineditismo, vertentes que se aproximam abertamente do Hip-Hop, absorvem o R&B e, principalmente, aprimoram a relação com a música eletrônica.

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Ainda que a construção descompromissada que tanto acompanhou a produção de Chazwick se mantenha inalterada, com o novo disco é visível a busca do artista por um som mais “sério” e menos descartável, resultado claro no último EP. Apoiado em sentimentos melancólicos e encaixes eletrônicos que ultrapassam os quatro minutos de duração, o músico transforma cada faixa em um registro cuidadoso e sempre pessoal. Da carência assumida em So Many Details (You send my life, into somewhere/ I can’t describe, so many details) aos pequenos pontos dolorosos que se escondem em High Living e Day One, tudo se sustenta de maneira adulta, como se o R&B de Frank Ocean  e até os inventos de veteranos como Prince se derretessem em meio a sintetizadores oitentistas e batidas de proposta irregular.

Parte do que auxilia o cantor a estabelecer um resultado maduro ao longo do disco se conecta diretamente à instrumentação que guia cada uma das novas faixas. Do Hip-Hop (e principalmente da recente relação com Tyler The Creator e Frank Ocean) vêm as batidas firmes, um complemento que ajuda a solidificar cada verso espalhado pela obra. Do Les Sins, projeto paralelo de Bundick, surge todo o reforço eletrônico que rompe as limitações do álbum, resultado que tanto proporciona inovação como serve de estímulo para a criação de faixas aos moldes de Say That (um verdadeiro achado para as pistas) e Touch (momento em que o músico se entrega à experimentação em diálogos claros com a IDM).

Íntimo dos anteriores inventos de Toro Y Moi, porém dono de uma proposta diferente em essência, Anything In Return mantém a força de Bundick, nome de maior destaque em um gênero que ele próprio ajudou a construir. Com fôlego renovado e estabelecendo uma multiplicidade de novos caminhos em relação ao anterior Underneath The Pine, Chaz prova (mais uma vez) que a Chillwave (ou seja lá qual for o título do estilo assumido por ele) está longe de parecer um movimento passageiro, prevalecendo como um gênero que carece e vive de transformações. Há pouco menos de dois anos Chaz Bundick parecia ter inventado a música pop à sua maneira, agora ele faz o mesmo, porém, com uma série de outros estilos.

Toro Y Moi

Anything In Return (2013, Carpark)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Les Sins, Washed Out e Neon Indian
Ouça: Say That e So Many Details

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.