Disco: “Aquário”, Tono

/ Por: Cleber Facchi 15/10/2013

Tono
Brazilian/Indie/Alternative
http://www.tono.mus.br/

Por: Cleber Facchi

Tono

A leveza ainda parece ser a base das composições que abastecem o grupo carioca Tono. Do percurso tropical iniciado no debut de 2009, passando pelo segundo registro em estúdio, logo em 2010, ao alcançar o recente cenário instrumental, o quinteto formado por Ana Claudia Lomelino, Bem Gil, Bruno Di Lullo, Rafael Rocha e Eduardo Manso parece ter finalmente encontrado um espaço de conforto e invenção. Brando, Aquário (2013, Independente) é uma obra que se faz arquitetada em camadas, centenas delas, um exercício que praticamente obriga o ouvinte a se desprender de tudo que o rodeia para mergulhar com plena atenção nas canções, versos e limites sonoros que o álbum busca ressaltar.

Intencionalmente tímido quando voltamos os ouvidos para os dois primeiros exemplares do grupo, o trabalho segue da primeira última faixa em um exercício cuidadoso, quase hermético. Habitantes de um cenário específico, o grupo espalha guitarras polidas dentro de um efeito em que o controle parece ser a principal engrenagem para o movimento das faixas. São pequenos complementos eletrônicos capazes de esbarrar em ritmos típicos da cena nacional e até além dela. Décadas de referências posicionadas em câmera lenta, o que faz com que a Bossa Nova, o Samba e o Rock sejam abduzidos para um universo de ambientações próprias.

Aos comandos do guitarrista/produtor Arto Lindsay, o disco encontra no jazz e em doses tímidas de experimentação o princípio para o que ecoa de forma sedutora em cada música. Aqui não há hits, faixas a serem observadas individualmente ou mesmo caminhos fáceis, entretanto, uma vez dentro do ambiente conceitual proposto pela banda, sair parece simplesmente um erro. Leve, o disco desenrola uma lenta tapeçaria instrumental, esbarrando vez ou outra em momentos de engenharia melódica e pontos mais acessíveis – vide os elementos impostos em Como Vês e Tu Cá Tu Lá. Longe de qualquer urgência, Aquário, mais do que um disco, é um lugar e um ponto de distanciamento, tanto para a banda, como para o ouvinte.

Autorizando passagens que vão do Jazz ao Pós-Rock, a banda faz de cada canção um território livre para criar – sem necessariamente parecer inclinada a isso. Enquanto músicas como UFO se vestem de ruídos, atos e pequenos acertos eletrônicos, provocando a atenção do espectador, outras como a ensolarada Da Bahia assumem um detalhamento plástico, quase direto. Entusiasmada e de versos prontos, a faixa flerta com uma série de elementos expostos na cena nacional dos anos 1970, trazendo nas emulações eletrônicas e pequenas doses de distorção um efeito de novidade. Não há temporalidade ou possíveis instantes característicos para fixar a obra do grupo carioca, apenas passagens rápidos de orientação e referências a serem observadas com efemeridade.

No que tange o manuseio das líricas, Aquário se revela uma obra ainda mais provocante. “Trocamos as escamas/ Trocamos uns beijos também/ Fundo pude respirar/ Me perco nesse mar”, brincam os versos de Sonho Com Som, típica canção de amor, mas que nas mãos do grupo dança em um lago de subjetividade e efeitos não óbvios. Surgem ainda faixas como Leve e Do Futuro (Dom), músicas que incorporam os versos como um complemento instrumental até maior do que o próprio significado dos temas. No meio desse jogo de palavras, curioso perceber o quanto Chora Coração, faixa de Tom Jobim, se encaixa com acerto na mesma estética da banda. Melancólica, a canção encontra na dualidade dos versos entre Lomelino e Rocha um jogo de experiências típicas das emanações que dançam pelo disco, deixando o abrigo sorumbático do próprio criador para brilhar rara, inédita.

Fazendo valer o título curioso que carrega, Aquário concentra todos os elementos – vozes, versos e sons – em um mesmo ambiente, ondulando e misturando tudo sem que haja qualquer forma de separação entre eles. Cada canto ou sentimento anunciado pela banda borbulha em experiências pouco convencionais, o que torna a audição da obra um catálogo imenso, a ser revisitado não uma, mas diversas vezes. Por ora, há apenas o sentimento de um exemplar não óbvio, singular em natureza e pontuada pela mudança das formas. Um jogo de incertezas e pequenas inseguranças que contraditoriamente tencionam o ouvinte a mergulhar cada vez mais fundo dentro desse cenário.

 

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Aquário (2013, Independente)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Sexy-Fi, Domenico Lancellotti e Kassin
Ouça: Como Vês, Murmúrios e Leve

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.