Disco: “Arc”, Everything Everything

/ Por: Cleber Facchi 18/01/2013

Everything Everything
British/Indie Rock/Alternative
http://www.everything-everything.co.uk/home

Por: Cleber Facchi

Everything Everything

De todos os registros lançados em 2010, Man Alive do grupo inglês Everything Everything talvez seja um dos mais superestimados. Sem o esforço da inovação e protegido por uma proposta que “falsificava” o Art Rock, a estreia do quarteto de Manchester parecia agradar somente a um grupo diminuto de publicações britânicas, veículos como NME que fizeram de tudo para exaltar o pequeno feito da recente banda. Envaidecidos, seria natural que o grupo transformasse o segundo álbum em uma sequência exata do que fora proposto há três anos, entretanto, é o completo oposto que encontramos ao desvendar os tesouros musicais que habitam a construção do recente Arc (2013, Sony/RCA), segundo álbum da banda e de fato uma evolução em relação ao disco anterior.

Construído dentro da mesma proposta dance-experimental que caracteriza a atuação do Foals desde o álbum Total Life Forever (2010), o novo álbum coleciona melodias focadas no pop ao mesmo tempo em que as bases eletrônicas tiram o grupo da repetição de outrora. Maduro sem perder a acessibilidade que tanto orientava a formatação de obras como Photoshop Handsome, Suffragette Suffragette e demais composições de destaque que recheavam o primeiro disco, com o segundo álbum a banda passa por uma verdadeira transformação musical, valorizando aspectos antes ocultos e abandonando de forma decidida uma série de pequenos erros do passado.

De abertura expansiva, ao iniciar o álbum o EE engata uma sequência bem diluída de faixas que só alcançam a leveza no exaltar de Choice Mountain. Antes disso, o Indie Rock eletrônico de Cough Cough e as melodias quebradas de Kemosabe (um misto de These New Puritans com Foals) dão conta de preparar o terreno para o que a banda trata de aprimorar faixa após faixa. Sem a aceleração do primeiro álbum, Arc possibilita ao grupo provar de novas experiências, visitando vez ou outra o rock alternativo da década de 1990 e até o Krautrock em seu momento de maior invento nos anos 1970. Some isso a um jogo de vozes bem executadas e pronto, você tem em mãos um dos melhores registros do gênero desde a explosão do “novo” rock inglês em meados de 2000.

 

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Quem talvez pensasse que as composições crescentes posicionadas na abertura do álbum fossem o único ponto de acerto dentro da obra talvez acabe surpreso com a segunda metade de Arc. Explorando o lado menos festivo do disco (ainda que a entusiasmada canção de encerramento Don’t Try prove o contrário), a partir de Undrowned a banda se aconchega em um jogo inventivo de guitarras climáticas e vocais liquefeitos que (pela primeira vez) deixam fluir uma real aproximação com o Art Rock – marca erroneamente empregada para definir o primeiro álbum do grupo. Entre aproximações nítidas com o Radiohead da fase The Bends (1995) e associações pacatas (como as de The House Is Dust) que lembram o Wild Beasts, é no grupo “secundário” de canções que a banda evidencia novidade e transita por um terreno que prepara um possível trabalho maior.

Além da incorporação de uma sonoridade tomada pela calmaria, do meio para o final algumas preferências antes exageradas surgem de forma coerente. Elo mais consistente com o trabalho passado, Armourland utiliza da relação com a música eletrônica como uma espécie de aquecimento para o uso melódico dos vocais e dos instrumentos restantes, garantindo ao grupo um pop seguro e vendável. A própria melancolia, anteriormente mergulhada em clichês, hoje se concretiza nas passagens comportadas de The Peaks (e seus falsetes que parecem um misto de Thom Yorke e Bon Iver) ou na grandiosidade cativante de Undrowned, faixa capaz de incorporar o que há de mais seguro no clima amplo de Smother (2011) do Wild Beasts.

Registro de profunda relevância, Arc é um ponto fundamental dentro do processo recente de reestruturação da música britânica. Um dos poucos álbuns da nova fase que conseguem se desligar (parcialmente) das repetições obscuras que tanto desgastaram o pós-punk na década passada ao mesmo tempo em que apresenta um universo de novos experimentos e possibilidades. Salto imenso em relação ao pretensioso debut de 2010, o novo álbum amarra o que há de mais belo na curta atuação do grupo, aproximando a banda (e o próprio público) de uma trama que sabe como explorar os vocais, as guitarras não redundantes e principalmente as texturas instrumentais que atravessam décadas de experiência.

 

Everything Everything

Arc (2013, Sony/RCA)


Nota: 7.8
Para quem gosta de: Foals, Egyptian Hip Hop e Wild Beasts
Ouça: Kemosabe, Torso Of The Week e Undrowned

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.