Disco: “Are You Alone?”, Majical Cloudz

/ Por: Cleber Facchi 20/10/2015

Majical Cloudz
Indie/Alternative/Electronic
http://majicalcloudz.com/

 

Dois anos após o lançamento de Impersonator (2013), obra que apresentou oficialmente o Majical Cloudz a toda uma nova parcela de ouvintes, Devon Welsh e o parceiro Matthew Otto mais uma vez se encontram para produzir uma obra tecida pelo sofrimento. Entre casos de amor não resolvidos, confissões e dramas típicos de qualquer romântico, a dupla canadense define a base melancólica para o recém-lançado Are You Alone? (2015, Matador), terceiro registro de inéditas e obra mais acessível da banda.

Livre das pinceladas existencialistas que definem o trabalho entregue em 2013, cada faixa do presente álbum se projeta como um conto sofredor do personagem real vivido por Welsh. São composições que detalham o medo de se apaixonar (Heavy), abraçam a temática da morte (Silver Car Crash) ou simplesmente confessam os sentimentos mais honestos do compositor (Downtown). Um resumo dramático de todos os pensamentos, cenas e tormentos que invadem a mente de qualquer indivíduo que já tenha se apaixonado pelo menos uma vez na vida.

Síntese de toda a obra, If You’re Lonely caminha com sobriedade por diferentes aspectos – felizes ou tristes – de um relacionamento, definindo o alicerce temático do registro. Da descoberta do amor (“Em um verão eu me apaixonei / Pela primeira vez / Ele iria mudar toda a minha vida”), passando pelo sofrimento (“Eu não queria perder esse amor / Eu não queria deixar para trás”) e libertação (“Ninguém tem que ser assim / Ninguém tem que ter medo de ser amado”), Welsh utiliza da composição como um mecanismo de diálogo e delicada interação com o ouvinte, lentamente seduzido para dentro do rico catálogo lírico da obra.

Embora genuíno, fruto de diferentes relacionamentos fracassados e medos de Welsh, Are You Alone? em vários momentos cria passagens para o trabalho de outros cantores românticos da música pop. São adaptações sombrias, caso da faixa-título, uma reciclagem dos versos de Motion Picture Soundtrack – “Vinho tinto e pílulas para dormir” -, do Radiohead, ou mesmo Silver Car Crash, nova interpretação da mesma história de amor (e morte) detalhada em There Is A Light That Never Goes Out, do grupo britânico The Smiths – “E nós dois morreremos rindo / Enquanto eu seguro você”.

A relação de Welsh e principalmente do parceiro Matthew Otto com o trabalho de outros artistas não se concentra apenas na composição dos versos, mas em toda a base instrumental que garante vida ao registro. Durante toda a formação do álbum, bases tímidas de sintetizadores passeiam pela obra de veteranos como Brian Eno, Depeche Mode e Arthur Russell. Propositada ou não, a própria turnê ao lado de Grimes e Lorde no último ano parece se refletir na sonoridade comercial, quase pop, de diversas canções, proposta explícita na dobradinha So Blue e Heavy, mas que ecoa com maior naturalidade no interior do “hit” Downtown. Arranjos minimalistas delicadamente preenchidos por sentimentos. 

Irrestrito, Are You Alone? parece pensado para ampliar todo o universo de canções entristecidas lançadas pela banda desde a estreia no começo da presente década. Durante toda a execução da obra, Devon Welsh parece confortar e perturbar o ouvinte na mesma medida, detalhando composições tão particulares, dolorosas e intimistas, quanto próximas do espectador. Logo, ao final do trabalho, soterrado pela avalanche emocional que cresce ao longo do disco, não é difícil responder a pergunta levantada pelo compositor logo no título do trabalho: “Você está sozinho?”.

Não mais.

 

Are You Alone? (2015, Matador)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: How To Dress Well, Owen Pallett e The Smiths
Ouça: Silver Car Crash, Heavy e If You’re Lonely

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.