Disco: “Areia”, Sobre a Máquina

/ Por: Cleber Facchi 22/07/2011

Sobre a Máquina
Brazilian/Experimental/Post-Rock
http://www.myspace.com/sobreamaquina

Por: Cleber Facchi

Quando Barca, primeiro single do novo álbum do Sobre a Máquina foi apresentado no começo de maio havia uma clara percepção de que algo havia mudado na maneira de compor e na forma como o trio carioca elaborava suas estranhas melodias. A mesma densidade e o emaranhado de sonorizações obscuras que eram apresentadas pela banda ainda se mantinham presentes, porém havia algo de renovado e inédito através dos sons que eram repassado nos mais de quatro minutos da composição. Um tipo de grandeza pairava pelas reverberações da faixa, certo toque de poderio instrumental que a trinca de integrantes anteriormente não haviam alcançado.

Com a chegada de Areia (2011, Sinewave), segundo álbum lançado por Cadu Tenório, Emygdio Costa e Ricardo Gameiro – registro que sucedesse o brilhante Decompor (2010) – é que essa atmosfera grandiosa tornou-se melhor compreensível, sendo melhor traduzida como maturidade. Em apenas quatro canções, o trio eleva suas experimentações a um nível ainda mais apurado, deixando de lado o aspecto rebuscado que amarrava as faixas do trabalho anterior e partindo para a construção de algo musicalmente maleável, mais acessível e levemente distante do toque hermético anteriormente encontrado nas composições da banda.

Composto de faixas mais curtas que as anteriormente apresentadas – com exceção da gigante Garça, música que quase chega aos dez minutos de duração – o trio deixa claro logo na canção de abertura que suas opções agora são outras. Embora os ruídos iniciais de Língua Negra ainda se aproximem do aspecto recluso e brusco do álbum anterior, à medida em que a composição se desenvolve um aspecto atmosférico e hipnótico vai ganhando fôlego, com o trio se perdendo em meio a loopings de guitarras e uma percussão cacofônica, sempre transitando entre os essenciais limites do drone e a experimentação do Pós-Industrial.

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Cada vez mais límpida, a faixa vai lentamente desembocando na composição seguinte a já conhecida e bela Barca. Mesmo que cada mínimo acorde, ruído ou batida assíncrona revelada através da faixa sejam naturais aos ouvidos, em cada nova audição da ambiental composição é como se ela revelasse algum tipo de novidade, um detalhe anteriormente imperceptível ou um singelo ruído que agora faz toda a diferença. Menos experimental que qualquer outra composição dos cariocas, a faixa se firma dentro das mesmas frequências ressaltadas pelos grupos de pós-rock ao final dos anos 90, revelando uma musicalidade mais suave e melódica, algo que só parece possível após a preparação estabelecia pela composição que a precede.

Longe da mesma ambientação suave, Foz surge de maneira também inédita dentro da pequena discografia do grupo. Mantendo a mesma linha experimental e rebuscada, a faixa caminha por um caminho distinto, trazendo sua sonoridade de forma mais material, menos esvoaçada do que aquilo que o grupo já habitualmente vem desenvolvendo. Tanto a guitarra quanto a bateria revelam uma sonoridade nova, proporcionando algumas doses de transições eletrônicas, pelo menos até a metade da faixa, aos exatos 4:00 minutos, quando a composição se reconfigura em prol de um som menos denso e novamente puxando o álbum para próximo de seu aspecto ambiental.

Para o fecho da obra, o trio apresenta a grandiosa Garça, faixa que soa de maneira exorbitante não apenas por sua duração, mas pelo seu legue de instrumentos – que incluem até o uso de um saxofone tocado por Alexander Zhemchuzhnikov – e experimentações musicais. Delirante, a composição surge como uma grande síntese de todo o álbum, mostrando não haver limites para as estratégias musicais exaltadas pelo Sobre a Máquina, banda que através de seu excepcional registro se assume como uma das maiores ou a maior dentro de seu meio.

Areia (2011, Sinewave)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Herod Layne, This Lonely Crowd e Labirinto
Ouça: Barca e Garça

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.