Disco: “Arrow of My Ways”, Rosie and Me

/ Por: Cleber Facchi 27/01/2012

Rosie and Me
Brazilian/Folk/Indie
http://www.rosieandmemusic.com/

Por: Cleber Facchi

 

Existem duas maneiras de se incorporar referências musicais externas aos padrões naturais da música brasileira. A primeira consiste em absorver tais ritmos e experiências de maneira plástica e forçada, buscando sempre a produção de um resultado claramente comercial e falacioso. Tal aspecto é facilmente observado no trabalho de bandas tupiniquins surgidas ao longo de toda a última década, grupos que incorporaram artificialmente referências vindas do dance-rock britânico ou do rock indie norte-americano, meras cópias de algo já copioso, mas dotadas de um som estranhamente “novo” aos joviais ouvidos do novo público.

Já a outra maneira consiste não apenas em incorporar as sonoridades não convencionais aos sons da música pátria, mas vivê-las. É justamente isso que fez Tom Jobim ao mergulhar nas experiências do jazz em meados da década de 1950 ou nomes como Clube De Esquina e Novos Baianos ao incorporar de forma original a psicodelia em idos dos anos 1970. É também exatamente isso o que faz a banda curitibana (ou seria estadunidense) Rosie and Me, transformando elementos típicos do folk e da música country em algo sincero e próximo dos nossos sons locais, como se estivéssemos nos deparando com um típico trabalho do cancioneiro norte-americano.

Desde 2006 comandado a pulsos firmes pela paranaense Rosanne Machado, o projeto é um típico exemplo de um plano que rompeu os limites das redes sociais (onde Machado apresentou suas primeiras composições) e pouco a pouco foi convergindo para o mundo não-virtual. Com um EP lançado – o adorável Bird and Whale, de 2010 – e um bom currículo de shows, a banda chega finalmente ao tão cobiçado primeiro disco, não apenas explorando com afinco as mesmas experiências que há mais de meia década circundam a carreira da banda, como reforçando e maturando essas mesmas possibilidades musicais.

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Tão suave quanto os anteriores lançamentos da banda, Arrow of My Ways (2012, Independente) aproxima o trabalho do hoje quinteto de um resultado menos “indie-pop-carinhoso” e o mergulha em um universo de doces desafetos, melancolias típicas de jovens adultos e toda uma firmeza sóbria natural de grupos veteranos. Assim, sem o ressaltar do aspecto gracioso que outrora movimentava faixas como Bonfires e Old Folks (New Year) – alguns dos pequenos clássicos da carreira virtual da banda -, os curitibanos se encaminham para a construção de um trabalho claramente adulto, pendendo ora para o misticismo do Bon Iver, ora para a tristeza sufocante do Band Of Horses.

Provavelmente aos que acompanham a banda há bastante tempo – quando o projeto ainda era um duo -, a maturação atual do grupo aconteça de maneira bastante natural, um passo decisivo e firme de uma já bem conceituada carreira. Entretanto, aos que seguem o trabalho do quinteto desde o leve destaque com o último EP talvez sintam certa dificuldade em adentrar o terreno nebuloso do presente disco, que se ausenta de criações comerciais, refrães brandos ou quaisquer facilidades de outrora, para se organizar na promoção de um tratado quase hermético e minucioso, algo que a amargura de Jamie e o romantismo penoso de Shotgun to The Heart acabam caracterizando.

Situado no mesmo universo sombrio em que Metals da cantora Feist parece se posicionar, e observando o amor (e o fim dele) com a mesma honestidade que Justin Vernon no primeiro disco do Bon Iver, o primeiro disco do Rosie and Me acaba se elevando como um trabalho maduro e triste, trazendo em diversos momentos o cheiro imoderado de álcool, talvez o melhor remédio para aplacar a dor que preenche o registro. Mesmo contando com algumas colaborações – como a do músico inglês Joshua Thomas nas duas primeiras canções do trabalho -, Arrow of My Ways é um trabalho que se sustenta inteiro no núcleo original da banda, percepção natural desde as primeiras criações do grupo, mas que talvez apenas agora sejam verdadeiramente assimiláveis.

Arrow of My Ways (2012, Independente)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Feist, Mumford & Sons e Bon Iver
Ouça: Jamie, Arrow of My Ways e Where The Heart Is

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.