Disco: “Ascension”, Jesu

/ Por: Cleber Facchi 10/05/2011

Jesu
British/Post-Rock/Experimental
http://www.avalancheinc.co.uk/jesu

Por: Fernanda Blammer

Embora sejam costumeiramente caracterizados como um grupo de Doom Drone ou Post-Metal, essa vertente obscura do grupo britânico Jesu há muito foi deixada para trás. Talvez os rótulos dados à banda sequer tenham tocado sua pequena discografia, vindos na verdade como uma pequena bagagem adquirida por Justin Broadrick (vocalista, guitarrista e líder da banda) em seu antigo projeto, o Godflesh. Com Ascension (2010), novo disco da banda, Broadrick e seus companheiros se afastam ainda mais dos sons pesados de outrora, partindo para um som bem menos hermético e quase pop.

Quando Broadrick e mais alguns parceiros deram vida ao Godflesh no final da década de 1980, a tomada pelo rock industrial, o noise e o Sludge Metal eram os elementos que pairavam em cada mínimo acorde exposto pelo grupo naquele momento. Com o fim da banda em 2002 (e que voltou recentemente para novas apresentações) a prova por novas sonoridades estava mais do que clara à Justin, que ao lado dos parceiros Diarmuid Dalton e Ted Parsons trouxeram ao Jesu um som, que embora mantivesse as mesmas tonalidades instrumentais do extinto grupo, davam novos rumos às brutas guitarras do projeto.

Através do novo disco, quarto trabalho de estúdio em uma sequência que vem desde 2004, a banda ainda transpira boas sonorizações com foco no Post-Metal, entretanto dentro de uma temática completamente diferente, fácil, mais límpida e que em determinados momentos se aproxima do etéreo. O que antes ressoava de forma quase caótica, criando um cenário imaginário de um futuro pós-apocalíptico, agora se manifesta em uma linguagem quase oposta, com o grupo trocando a destruição pela criação.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=ySJ0cXJGoyY?rol=0]

As reverberações menos claustrofóbicas e mais radiantes do trio são entregues através da extensa Fools, na abertura do disco, onde o jogo de guitarras, baixo e bateria, que dura mais de oito minutos, transporta o ouvinte para dentro dos novos padrões da banda. Em meio a momentos de calmaria e pressão, a voz de Broadrick tenta a todo momento se revelar, sendo sempre submersa em diversas camadas de guitarras, divididas entre o raivoso e o suave. Embora traga alguns sons menos pasteurizados ao longo da canção, ressaltando as raízes de seus integrantes, a predominância é a de um instrumental menos raivoso, lembrando muito algumas composições do Mogwai, principalmente das encontradas nos dois últimos discos das banda escocesa.

A aproximação com o rock alternativo da década de 90, lembrando muito Sonic Youth e Sugar acaba se tornando outra característica fundamental de Ascension. Principalmente nas canções mais velozes, feito Sedatives e Black Lies (onde o trio não se posiciona em meio à viagens instrumentais) o ritmo, os vocais e a sujeira se apresentam em um resultado mais concentrado e dinâmico, entregando toda a versatilidade do grupo e, a partir desse ponto, revelando a Jesu como um grupo menos experimental e quase radiofônico.

Se em 2009 ao lançarem Infinity, o trio dava formas a uma canção épica (no melhor sentido da palavra), contabilizando quase 50 minutos de duração (a versão japonesa do disco trazia ainda uma faixa bonus com mais 17 minutos de pura experimentação), com Ascension o resultado é completamente outro. É bem provável que com o retorno do Godflesh, os trabalhos da Jesu sejam ainda mais “suaves” que o presente registro, o que em nenhum momento chega a ser ruim, já que teremos o bom e velho Broadrick se entregando em sonoridades de pura oposição.

Ascension (2011)

Nota: 7.4
Para quem gosta de: Godflesh, Boris e Isis
Ouça: Birth Day

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.