Disco: “Asiatisch”, Fatima Al Qadiri

/ Por: Cleber Facchi 15/05/2014

Fatima Al Qadiri
Electronic/Experimental/Ambient
http://fatimaalqadiri.com/

 

Por: Cleber Facchi

Fatima Al Qadiri

Nunca houve um provável sentido de padronização ou fórmula específica dentro da sonoridade assinada por Fatima Al Qadiri. Pelo contrário, desde os primeiros inventos, quando ainda se apresentava como Ayshay – caso de WARN-U EP (2011) -, ou os primeiros registros em carreira solo – entre eles os EPs Genre-Specific Xperience (2011) e Desert Strike (2012) -, cada invento assinado pela artista nova-iorquina sempre abraçou o ineditismo e a busca pela transformação. Para o desenvolvimento de Asiatisch (2014, Hyperdub), primeiro álbum “de verdade” da produtora não poderia ser diferente.

Reflexo da pluralidade de culturas que sempre abasteceram o cotidiano de Al Qadiri – artista que nasceu no Senegal, cresceu no Kuwait e depois mudou-se para Nova York -, o presente álbum é uma tentativa da produtora em interpretar as referências asiáticas. Do título ao visual que estampa a capa do trabalho, passando pelos arranjos e temas escolhidos para as faixas, cada composição instalada no interior do álbum usa da excentricidade da musicista como um filtro para a cultura oriental.

Por opção distante do fluxo acelerado exposto nos últimos inventos da artista, principalmente o EP Desert Strike, Asiatisch é uma obra que em que Al Qadiri passeia com suavidade pelos arranjos. Ponto de partida para o restante do disco, a melancólica Shanzhai, um dos raros momentos em que a voz ganha espaço na obra da senegalesa, entrega todas as pistas sobre o restante do álbum. Um catálogo doce de harmonias angelicais (típicas de Juliana Barwick), sintetizadores e pequenas colagens eletrônicas. Quase uma adaptação (mascarada) do ambiente etéreo que conduziu a New Age há quatro décadas.

De fato, a comunicação de Al Qadiri com o (ainda) desprezado gênero serve de princípio para toda a solução da obra. Como uma passagem para um universo de formas flutuantes e sons reflexivos, cada música do disco abraça com leveza o ouvinte, guiando a expectativa do público com notável calmaria até o último segundo. Das batidas pontuais de Szechuan, ao tratamento caricato de Dragon Tattoo, Al Qadiri jamais ultrapassa uma bem instituída zona de conforto do disco, amortecendo o espectador a cada harmonia sintetizada ou coro robótico de voz que surge pelo trabalho.  

Manipuladora atenta dos domínios que definem a própria obra, Al Qadiri, mesmo inserida em um contexto harmônico para o trabalho, de forma alguma se acomoda dentro de um efeito monótono. A comunicação entre as faixas é apenas um dos caminhos para o experimento, que lentamente manipula as interpretações, regras e arranjos do disco a seu favor. Por mais que Wudang, no meio do álbum, ou Jade Stars, no encerramento, partilhem de um mesmo conjunto de ideias, nada permanece estável, com a artista sempre adaptando referências eletrônicas, folclóricas, regionais e até mesmo da música pop (vide Dragon Tattoo) sem fugir da atmosfera de aconchego do disco.

Da mesma forma que os projetos lançados anteriormente, ou a curta atuação como Ayshay, a produtora apresenta um conceito – neste caso, a cultura asiática -, e o desenvolve de maneira temática, ainda que livre. Sem a pretensão de estabelecer algo maior ou um possível diálogo com o trabalho de outros artistas próximos, Fatima Al Qadiri pontua Asiatisch como um tratado hermético, um atento e rápido exercício de criação, mas que está longe de ser encarado como um recorte efêmero de experiências.

 

Fatima Al Qadiri

Asiatisch (2014, Hyperdub)
Nota: 8.0
Para quem gosta de: Julianna Barwick, Oneohtrix Point Never e Grimes
Ouça: Shanzhai, Dragon Tattoo e Shanghai Freeway

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.