Disco: “Assim Que Nóis Trabalha”, Hó Mon Tchain

/ Por: Cleber Facchi 18/01/2016

Hó Mon Tchain
Nacional/Hip-Hop/Rap
https://www.facebook.com/AgaEmeTe

 

Desde o lançamento de Malandrão, em setembro de 2015, que o som produzido pelo Hó Mon Tchain parece longe de repetir os conceitos aplicados do bem-sucedido Ascensão (2012). Da solução de batidas, bases e rimas ancoradas no hip-hop dos anos 1990, o coletivo paulistano dá um salto de pelo menos duas décadas, encontrando em temas que dialogam com o cotidiano do trabalhador brasileiro a matéria-prima para o segundo registros de inéditas, Assim Que Nóis Trabalha (2016, Independente).

Canção de abertura do disco, A.Q.N.T. não apenas reforça a temática conceitual que rege a obra, como resume a plena evolução do grupo em relação ao primeiro álbum de estúdio. Se em 2012 a produção assinada pelo produtor e também integrante Mud parecia dançar pelo mesmo universo de veteranos como Wu-Tang Clan, Madlib e outros gigantes da década de 1990, com a chegada do novo registro, cada elementos espalhado pelo disco dialoga de forma assertiva com o presente.

Difícil não lembrar de obras recentes do selo TDE, como Oxymoron (2014) do SchoolBoy Q ou mesmo Good Kid, M.A.A.D City (2012) de Kendrick Lamar. Mesmo a temática “eletrônica” de Cores & Valores (2014), último registro de inéditas do Racionais MC’s, parece replicada de forma autoral em composições como Gueto Árabe e Números não Mentem. Da mesma forma que em Ascensão, Mud, continua a brincar com fragmentos instrumentais de diferentes artistas, recortando, costurando e adaptando referências de forma a produzir um material próprio do HMT.

Nesse cenário de ondulações que vão do Trap ao R&B, o grupo se concentra em projetar uma verdadeira metralhadora de rimas versáteis. Composições que passeiam pelo universo caótico de cada integrante (Malandrão), criam paralelos entre diferentes periferias (Gueto Árabe) e ainda discutem com maturidade a conflituosa relação entre dinheiro e valores pessoais a cada nova curva do disco (Ostentação Interior, Por onde Voo e Amo os que Me Odeiam). Sobram até pequenos respiros intimistas dentro de faixas como Sessão da Tarde e Essa Noite.

Mais do que uma obra centrada no universo de cada integrante do Hó Mon Tchain – junto de Mud, Amiltex, Diham, Falcon Mc, JG.Mano e Plano B -, Assim Que Nóis Trabalha autoriza a interferência direta de um time de novos colaboradores. Nomes como Jimmy Luv (A.Q.N.T.), D-Cazz (Ostentação Interior, Essa Noite) e Yunei Rosa (Fim de Expediente), responsáveis por parte das rimas e vozes que preenchem determinadas faixas ao longo do disco. Até a cantora Björk “aparece” ao fundo de Ame os Que Me Odeiam, composição que utiliza de samples da música Pagan Poetry, faixa originalmente apresentada como parte do álbum Vespertine, de 2003.

Ambientado de maneira conceitual em um típico dia de trabalho – vide a disposição de faixas como A.Q.N.T., Hora do Almoço e Fim de Expediente -, Assim Que Nóis Trabalha nasce como um reflexo da própria atuação do Hó Mon Tchain quanto coletivo. Para além das rimas e apresentações ao vivo, um time atento de colaboradores que se desdobra na produção, divulgação e distribuição da própria obra.

 

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Assim Que Nóis Trabalha (2016, Independente)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Racionais MC’s, Plano B e Ogi
Ouça: A.Q.N.T., Malandrão e Ostentação Interior

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.