Disco: “Atlas”, Baleia

/ Por: Cleber Facchi 21/03/2016

Baleia
Nacional/Indie/Alternative
http://baleiabaleia.com/

 

Em Atlas (2016, Sony Music), os integrantes do coletivo Baleia seguem um caminho distinto em relação ao antecessor Quebra Azul. Longe das melodias acessíveis, letras frágeis e arranjos orquestrais de composições como Casa, Breu e Motim, todas do trabalho lançado em 2013, são os vocais em coro, percussão tribal e versos caóticos que orientam a nova postura do grupo carioca. Um explícito exercício de ruptura, mas que acaba servindo de passagem para um território criativo essencialmente detalhista, curioso e complexo.

Inaugurado pelo gemido tenebroso de Hiato, faixa de abertura do disco, Atlas lentamente explode em guitarras, encaixes percussivos e arranjos de cordas que preenchem em totalidade a execução de cada faixa. Superficialmente, uma espécie de diálogo com o trabalho de gigantes como Arcade Fire, Grizzly Bear, Broken Social Scene e toda a soma de artistas que foram apresentados no começo da década passada, entretanto, basta uma audição atenta para perceber a linha temática que amarra todos os atos do registro.

Enquanto Quebra Azul apresentava cada faixa como uma peça isolada, revelando texturas e bases instrumentais específicas, com o presente álbum, todas as canções se amarram de forma atenta, como fragmentos de uma longa e detalhista composição. Oito blocos espalhados dentro dos 40 minutos de duração do disco. Salve exceções, caso da delicada Véspera, vozes, arranjos e batidas partem de uma mesma base conceitual, preferência que estimula o nascimento de uma obra homogênea, segura, mas que pode parecer repetitiva e monótona para ouvidos mais apressados.

É necessário tempo até que o ouvinte seja seduzido pela obra. Mesmo que músicas como Hiato, Duplo-Andantes e Salto pareçam funcionar isoladamente, está na delicada conexão entre cada uma das oito composições a real beleza de Atlas. Perceba como os ruídos ao fundo de Triz (Ida), terceira faixa do disco, se encaixam na base crescente de Volta. O mesmo encontro se repete na dobradinha Estrangeiro e Língua. Canções musicalmente distintas, mas que se amarram na base densa orquestrada ao fundo pela banda – hoje composta por Sofia Vaz, Gabriel Vaz, Cairê Rego, Felipe Ventura, David Rosenblit e João Pessanha.

Nos versos, a mesma sensação de proximidade que caracteriza a proposta instrumental do registro. Trata-se de uma obra sobre o isolamento de qualquer indivíduo dentro de um grande centro urbano. De fato, “a cidade” surge como o grande protagonista de Atlas. Um cenário vivo, propositadamente instável e que se apresenta na inaugural Hiato (“De manhã, tudo é explosão / A cidade, ela nunca foi gentil”), ganha força em Estrangeiro (“Cidade aqui, longe de mim”) e se espalha em pontos estratégicos da obra (“E eu vi / A cidade acender”; “A cidade se entorna”).

De essência experimental, como um delicado exercício de possibilidades, Atlas prova que o sexteto carioca parece longe de uma possível zona de conforto, colecionando fórmulas e temas diversos ao longo da obra. Se há cinco anos o grupo flertava abertamente com elementos do jazz – vide faixas como Killing Cupids -, hoje os integrantes do Baleia buscam por um material completamente novo. Uma propositada ausência de direção, rotas e caminhos marcados que continua a servir de estímulo para cada trabalho entregue pela banda.

 

Atlas (2016, Sony Music)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Cícero, Cabana Café e Tono
Ouça: Estrangeiro, Volta e Hiato

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.