Disco: “Audio, Video, Disco”, Justice

/ Por: Cleber Facchi 15/10/2011

Justice
French/Electronic/Dance
http://www.myspace.com/etjusticepourtous

Por: Gabriel Picanço

Audio, Video, Disco, é o segundo LP de Gaspard Augé e Xavier de Rosnay, os caras do Justice. Graças a essa dupla, em 2007, a cruz recebeu um novo significado. Já não fosse bastante o simbolismo que o objeto carrega, a cruz também virou sinônimo da melhor música eletrônica francesa desde muito tempo. A dupla produziu um álbum clássico que conquistou, mais do que fãs, seguidores. Aos poucos, a poeira levantada pelo disco assentou, mas até hoje as faixas de Cross, o primeiro álbum, permanecem vivas e capazes de por fogo em qualquer festa. O tempo foi passando, e o nome Justice era cada vez menos citado, mas nunca esquecido. Não lançavam nenhuma faixa nova e os remixes que a dupla soltava esporadicamente cessaram. A última música com aquele gostinho de Justice, um remix de Lenny Kravitz, é de 2009.

Até que, finalmente, em março de 2011, aimagem de uma cruz é postada na página oficial da dupla no Facebook. Era uma cruz diferente, mas todos sentiram que a espera estava próxima do fim. No mesmo mês, é lançada a poderosíssima Civilization, um pouco diferente do “velho” Justice, apesar dos mesmos efeitos, filtros e samples soando a rock progressivo italiano dos anos 70. Nessa faixa fica claro que a proposta havia mudado. Era cedo para saber se a mudança era para melhor ou para pior. E isso nem importava tanto. Depois de dois anos do último remix lançado, qualquer coisa com a tag “Justice” era motivo de comoção. Isso sem falar no vídeo da música, uma obra prima visual que segue a tradição de clipes memoráveis dos franceses. Logo veio a notícia que todos queriam ouvir: o álbum novo, Audio, Video, Disco estava a caminho.

Saber esperar é uma virtude, pena que muitas vezes não é bem recompensada. O segundo álbum do Justice não chega a ser um balde de água fria, nem uma panela de óleo quente, mas passa longe da emoção e dos olhos rasos d’água pelos quais Cross foi responsável. Nenhuma faixa de Audio, Video, Disco irá fazer os fãs repetirem os momentos de suor e loucura nas pistas de dança proporcionados por D.A.N.C.E, DVNO ou We Are Your Friends. Tudo bem que em 2007, ano de lançamento de Cross, o mundo era outro. Quase ninguém usava o Facebook, o Michael Jackson homenageado em D.A.N.C.E ainda estava vivo, o eletro maximal ainda era uma novidade. Muito mudou desde então, mas a essência de um disco divertido é atemporal e não está presente em Audio, Video, Disco.

Não era de se esperar que os produtores fizessem um álbum igual, a final, a experimentação é sempre bem-vinda. Mas podiam escolher mudanças e caminhos melhores. Audio, Video, Disco pode ser resumido como sendo um interminável, brega e maçante solo de guitarra. O peso das músicas arrastou a velocidade para baixo, deixando a coisa séria e dura demais. É impossível não sentir falta do clima sem vergonha e ofensivo, dos sintetizadores rasgados e do baixo destruidor e cheio de apelo sexual (sim, um baixo com apelo sexual) das faixas do primeiro disco. Justice ganhou peso, mas perdeu a potência. As músicas do álbum soam sem energia e muito sóbrias. Todas são muito bem compostas e produzidas, mas não é somente isso que se espera de uma banda como Justice.

Além do excesso das guitarras, outro elemento que incomoda durante Audio, Video, Disco são as cordas, que dão um tom muito sério e até pretensioso, como acontece em Hosrsepower, que abre o disco. Apesar de ser uma decepção no geral, o álbum é pontudo por alguns bons momentos, como a ótima Civilization. Outra faixa digna entre a confusão de guitarras arrastadas do álbum é On’n’On. Mas ela acaba sendo o triste retrato de um álbum (de french house, veja só) sem a mínima vocação para pista. A partir de Helix, faixa mais dançante, o trabalho dá sinais que ainda pode encontrar o caminho da salvação. Mas logo em seguida vem a bem composta e nada carismática faixa título, que encerra o segundo disco dos franceses.

Quem esperou tanto tempo, possivelmente não ficará satisfeito com o que foi entregue por Gaspard e Xavier. E não são as guitarras o que mais incomoda nesse disco, e sim a falta de frescor e energia, qualidades que faziam o Justice ser tão amado. Afinal, todos nós precisamos de alguma dose de música hedonista, e melhor ainda se for de qualidade. Audio, Video, Disco pode até ser um trabalho inspirado e bem realizado, mas não inspira quem ouve e muito menos faz transpirar

Audio, Video, Disco (2011, Ed Banger)

Nota: 6.0
Para quem gosta de: Daft Punk
Ouça: Civilization, Helix e Canon

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.