Disco: “Babylon By Gus – Vol. II: No Princípio Era O Verbo”, Black Alien

/ Por: Cleber Facchi 14/09/2015

Black Alien
Nacional/Hip-Hop/Rap
https://www.facebook.com/blackalienofficial

Poucos trabalhos foram aguardados com tamanha expectativa e ampla cobertura da imprensa nacional nos últimos dez anos quanto a segunda parte de Babylon By Gus. Desde o lançamento do clássico O Ano Do Macaco, em 2004, cada nova participação, clipe ou anúncio de Black Alien foi recebido com olhos (e ouvidos) bem abertos, efeito da bem-sucedida estreia solo do ex-Planet Hemp. Depois de um intervalo de 11 anos, diferentes conflitos e prazos adiadas, um respiro aliviado e a estreia oficial de Babylon By Gus – Vol. II: No Princípio Era O Verbo (2015, Independente).  

Longe de parecer uma continuação da obra entregue em 2004, com o presente registro, álbum de 12 faixas e pouco mais de 40 minutos de duração, o rapper lentamente parece assumir um novo percurso lírico. Depois de diversas batalhas contas as drogas, passagens por clínicas de reabilitação, depressão e até tentativas de suicídio, como detalhou em entrevista à Rolling Stone – “Eu já tentei me matar, já enchi o carrinho do supermercado de álcool e fui beber tudo…” -, a sobriedade explícita em cada versos faz do novo álbum uma obra regida pela esperança.

De proposta intimista, por vezes autobiográfico, Babylon By Gus – Vol. II soa como um passeio musical por diferentes fases e cenários da vida de Gustavo de Almeida Ribeiro, verdadeiro nome de Black Alien. Logo na abertura do trabalho, a introdução 1972 costura várias histórias de diferentes gerações da família do rapper fluminense, criando uma espécie de linha conceitual que se estende até a faixa de encerramento Cidadão Honorário, uma extensão desse mesmo universo e reflexo da presente fase do artista – “Tenho alguns esqueletos no armário / A luta, contínua, continua e não tem páreo“.

No interior da obra, melodias descomplicadas abrem passagem para uma seleção de faixas comerciais, voltadas ao pop, sempre íntimas do grande público. A julgar pela estrutura doce de músicas como Somos o Mundo, parceria com a cantora Céu, ou Quem é Você?, colaboração com o veterano Luiz Melodia, não seria um erro encarar o atual registro como um trabalho muito mais voltado à MPB do que ao Hip-Hop. Do jogo de rimas lançadas há uma década, pouco parece ter sobrevivido, transformação que amplia o domínio das vozes e cantos durante toda a obra, estímulo para a construção de músicas como Falando do Meu Bem, Identidade e Homem de Família.

Em Rolo Compressor, Rock’n’Roll e Skate no Pé, os instantes em que a rima de Black Alien cresce e se destaca. Enquanto a primeira, assumida individualmente pelo rapper, funciona como uma espécie de cartão de visita para a nova geração que desconhece a obra prévia do artista, nas duas outras composições são os convidados que assumem o controle. Primeiro Edy Rock (Racionais MC’s) em uma faixa que poderia facilmente no álbum solo Contra Nós Ninguém Será, de 2013. Depois é a vez de Parteum e Kamau, apresentando ao público a faixa que mais aproxima o trabalho de Black Alien da obra criada em 2004.

Composto em grande parte durante o ano de 2014, No Princípio Era O Verbo está longe de superar ou igualar o último trabalho do rapper. Trata-se de uma obra completamente diferente. Ainda que pequenas ponte se conectam a clássicos como Mister Niterói, Na Segunda Vinda, basta uma rápida audição para perceber o completa distanciamento do trabalho. Livre das metáforas e do universo cinza entregue em 2004, Ribeiro e Alexandre Basa, produtor responsável pelo disco, finalizam um álbum propositadamente deslocado, como um recomeço. Afinal, se o mundo mudou tanto nos últimos 11 anos, por que Black Alien ainda deveria viver de passado?

Babylon By Gus – Vol. II: No Princípio Era O Verbo (2015, Independente)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Kamau, Shawlin e Emicida
Ouça: Rolo Compressor, Somos o Mundo e Quem É Você?

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.