Disco: “Bad As Me”, Tom Waits

/ Por: Cleber Facchi 25/10/2011

Tom Waits
Blues/Ainger-Songwriter/Alternative
http://www.tomwaits.com/

 

Por: Gabriel Picanço

São poucos os artistas que atingem 40 anos de carreira e continuam produzindo com qualidade. Grande parte dos que chegam a esse patamar, não compõe tanto e passam a viver do passado, rodando o mundo em turnês para saudosistas, relembrando os tempos que não voltam mais e fazendo cover de si mesmo (cover esse, muitas vezes, de baixíssima qualidade). É muito comum, por exemplo, ver uma banda voltando da aposentadoria para fazer alguns shows, somente para levantar o dinheiro do aluguel.  Outros, até tentam produzir alguma coisa, mas, acomodados pelo conforto de já terem entrado para história, se acabam lançando discos meia-bocas. E mesmo esses receberam elogios – e aí de quem falar mal.

Felizmente, há ainda aqueles artistas com muita quilometragem que usam os anos de experiência a seu favor e continuam produzindo no mesmo nível que era esperado no auge de sua carreira.  Bad As Me atesta que Tom Waits é um membro desse restrito grupo que reúne uns poucos nomes realmente relevantes para a história da música pop. Mesmo em seus piores álbuns, não dá para dizer que o músico teve uma fase totalmente ruim, com discos e músicas que deveriam ser apagadas da história, algo que se aplica a muitos músicos cultuados como deuses.

Depois de sete anos sem um disco de inéditas, Waits volta a apresentar um trabalho arrebatador, no nível dos seus melhores trabalhos da década e 80 (como Swordfishtrombones e Rain Dogs), adicionando a sua discografia mais um clássico e mantendo em altíssimo nível a sua carreira que atravessa cinco décadas.

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É difícil explicar o modo como a música do norte-americano gera fascínio, mesmo sendo, sob um primeiro olhar, tão estranha e nada séria. A característica mais marcante pode ser a sua voz gutural, por vezes monstruosa. Mas, não se assustem, crianças. O homem também é responsável por canções belíssimas e frágeis. O ponto que mais impressiona na sua obra, é a incrível capacidade de nos  transportar para cenários bizarros com personagens tão estranhos e simpáticos. E isso está presente de modo muito forte em Bad As Me, com Tom Waits assumindo personagens diferentes em cada uma das músicas. Essa habilidade, talvez seja conseqüência de sua extensa carreira como ator.

Nas faixas de Bad As Me, Waits reuniu um time de monstrosinstrumentistas, como Keith Richards, Flea e Les Claypool, só para ficar nos nomes mais conhecidos. Mas a grande parceria de Waits nesse álbum continua sendo a sua esposa Kathleen Brennan, que divide os créditos na composição e produção de todas as músicas de Bad As Me. As faixas aqui continuam carregando a o clima circense e freak-blues característico de Tom Waits, com os momentos que nos vemos em cabarés enfumaçados ou mesas no fundo de bares sujos. As musicas variam entre os momentos de bagunça bêbada, como na faixa que abre o disco, Chicago e lamentações românticas como a balada coração-partido Back in The Crowd, passando por faixas mais soturnas como Talking At The Same Time onde Tom Waits canta de forma um pouco diferente do usual.

O grande destaque do álbum, tanto em termos de música quanto de interpretação, é a faixa título, onde, somente com a sua voz, apresenta dois personagens tão distintos que é quase possível vê-los em nossa frente. Kiss Me é outra canção lindíssima e simples, apenas com o contrabaixo de Marcus Shelby acompanhando a voz rasgada e o piano arrastado de Waits. Essa e outras faixas do álbum não pertencem a 2011, mas sim a uma longínqua década de 1940. Ela contrasta com Satisfied, onde Tom incorpora um James Brown meio torto e um pouco mais desbocado.  Last Leaf, respeitável dueto com o dinossauro  Keith Richards, é um momento histórico que completa o maravilhoso álbum. Na canção country sobre a idade, o resistente Waits canta o verso que resume o momento atual de sua carreira: “Eu sou a última folha da árvore. O outono levou o resto, mas eles não vão me levar”

Bad As Me (2011, ANTI)

 

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Nick Cave and The Bad Seeds, Bob Dylan e Johnny Cash
Ouça: Kiss Me, Bad As Me

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.