Disco: “Bad Vibes”, Shlohmo

/ Por: Cleber Facchi 11/08/2011

Shlohmo
Experimental/Electronic/Ambient
http://www.myspace.com/shlomoshun

 

Por: Cleber Facchi

Henry Laufer é definitivamente um artista solitário. Enquanto a música eletrônica contemporânea cresce através de distintos subgêneros, cada qual responsável por alavancar sua respectiva tendência, o produtor originário de Los Angeles, Califórnia parece trilhar seu caminho de forma solitária, mas nem por isso de maneira menos criativa. Em Bad Vibes (2011, FoF Music), seu primeiro trabalho lançado com o pseudônimo de Shlohmo, o californiano mostra que é capaz de desenvolver uma sonoridade em que mesmo sem se apoiar em algum estilo musical específico consegue suprir qualquer demanda.

Nada de dubstep, beats (os ritmos em maior ascensão atualmente), trip-hop, chillwave, witch house, ambient music ou qualquer outro gênero de destaque, em todas as 13 composições de seu estreia Laufer busca por uma única e imutável temática: a da experimentação. Instável desde o momento que começa até seus últimos ruídos, o disco é uma verdadeira sucessão de sons distintos, quebras instrumentais bruscas, grandes colagens de samplers, esquizofrenia, encontros de distintas vertentes e gêneros musicais em uma única canção.

Por mais que seja possível observar algumas mínimas similaridades ao longo do trabalho, sendo possível aproximar o disco de uma série de outros artistas que brincam com a música eletrônica de forma experimental, não há como prender Bad Vibes em uma única tendência ou frequência instrumental. Tentar absorver a estreia de Shlohmo por completo é uma tarefa simplesmente impossível, afinal, em cada novo segundo o artista já inverte totalmente suas próprias lógicas, mantendo o ouvinte cada vez mais fixo em cada pequena reverberação por ele proposta. É como buscar por algum tipo de apoio ou referência que parece nunca existir.

Fanático por Burial – algumas das primeiras composições do artista são remixes ou completas reformulações do clássico Untrue de 2007 -, Laufer busca o tempo todo transformar suas músicas em algo denso e climático, mas que ainda assim mantém seu ritmo de forma constante. Enquanto William Bevan, sua grande fonte de inspiração organiza suas criações de maneira em que mesmo atmosféricas as faixas vagam por uma sonoridade dançante, em Bad Vibes é constante a procura por uma construção mais branda, quase preguiçosa em alguns momentos e que podem até confundir o disco como alguma dissidência da Chillwave.

O aspecto caseiro do trabalho – não se preocupe, em nenhum momento ele se transforma em um penoso tratado Lo-Fi – possibilita que pequenos ruídos vão se manifestando ao longo de todo o trabalho, dessa forma, mesmo durante a construção de faixas como a doce Just Us, torna-se possível acompanhar ao fundo uma série de distintos acontecimentos. É quase como se o próprio Laufer estivesse escondido ao fundo das composições, apenas esperando pela reação do ouvinte ao se deparar com seu trabalho, involuntariamente tropeçando em alguns momentos ou esbarrando de maneira descuidada em alguma batida ou synth projetado.

Se fosse necessário apontar um erro em relação ao trabalho, este seria relacionado ao seu excesso de faixas. Embora as 13 composições funcionem naturalmente e em nenhum momento cansem o ouvinte, um número reduzido de canções traria ainda mais dinamismo e suavidade ao disco, tornando sua audição muito mais aprazível. Agridoce e cercado de diversos samplers e inusitadas manifestações sonoras, Bad Vibes (que na verdade poderia se chamar “Good Vibes”) é um registro que parece cercar o ouvinte lentamente, como se mesmo excêntricos, todos os sons repassados em seu desenvolvimento já fizessem parte do cotidiano do próprio ouvinte.

 

Bad Vibes (2011, FoF Music)

Nota: 8.1
Para quem gosta de: Teebs, GroundIsLava e Burial
Ouça: Just Us

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.