Disco: “Bahia Fantástica”, Rodrigo Campos

/ Por: Cleber Facchi 05/05/2012

Rodrigo Campos
Brazilian/MPB/Alternative
http://www.yb.com.br/

Por: Cleber Facchi

Rodrigo Campos

Por necessidade de simplificar ou talvez por erro, há quem classifique a atual cena paulistana como um movimento musical único, sem repartições ou agrupamentos individuais. Um erro. Enquanto Marcelo Jeneci, Tulipa Ruiz, Karina Buhr e tantos mais se envolvem com um alinhamento musical mais brando, voltado para um lado mais comercia e por vezes até pop, uma segunda vertente parece interessada em explorar um completo oposto disso. Focados em resgatar (mesmo que involuntariamente) as experiências impostas pela vanguarda paulistana no começo da década de 1980, nomes como Rômulo Fróes, Kiko Danuci, Thiago França construíram um pequeno cerco particular, um espaço imaterial onde colaboram, compõem e trocam influências.

Também parte de toda essa “cooperativa musical”, Rodrigo Campos é o mais novo integrante do coletivo a se aventurar com o lançamento de um novo trabalho “solo” – o segundo da carreira do artista. Sob o nome de Bahia Fantástica (2012, YB Music) o álbum dá um salto incrível em relação ao quase inexpressivo disco anterior, São Mateus Não É um Lugar Assim Tão Longe (2009), projeto que mesmo banhado pela mesma genialidade do compositor em construir crônicas e composições montadas em cima de personagens acabou devendo, como se o músico reservasse o verdadeiro ouro para o lançamento da recente e ainda mais rica obra.

Acompanhado de boa soma dos mesmos colaboradores (ou produtores, como assina no encarte do álbum) que integram essa suposta cooperativa imaginária, Campos se distancia da criação de um trabalho hermético, um oposto daquilo que os companheiros Fróes, França ou mesmo o próprio Passo Torto (banda da qual faz parte) insistem em explorar. Como resultado, o músico se aproxima de uma sonoridade muito mais abrangente, ainda calcada em cima de historietas cotidianas, personagens reais e imaginários, mas agora impregnadas por um toque sutil e sempre convidativo. O músico não apenas havia escondido o ouro no trabalho anterior, como todo um conjunto de minerais preciosos.

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Assinadas apenas por ele, todas as 12 letras que compõem o disco fazem um contraste ao corpo de colaboradores que preenchem tanto as vozes como as sonorizações no miolo do trabalho. Dos vocais de Criolo (Ribeirão), Luisa Maita (Morte na Bahia) e Juçara Amaral (Jardim Japão), passando pelo sax tenor de Thiago França, a bateria de Marcelo Takara (do Hurtmold), a guitarra de Kiko Dannuci até a gravação de Gustavo Lenza, tudo ecoa como fragmentos, pequenos recortes que ao serem posicionados de forma correta geram a estrutura que solidifica e sustenta o álbum. Estranho notar, mas boa parte do que se manifesta no novo disco já era encontrado no trabalho passado. Talvez Campos ainda não tivesse encontrado a mesma ordem e a exatidão que caracteriza o atual.

Mesmo repleto de colaboradores, cores, emoções e fragmentos, Bahia Fantástica é um disco inteiramente focado no próprio universo de Rodrigo Campos. Surgido de um período de depressão do músico – quando este passou uma pequena temporada em Salvador -, o álbum manifesta particularidades líricas que por vezes parecem apenas próximas dele. Assim, cabe ao seleto grupo de músicos auxiliarem o cantor a se aproximar do ouvinte, algo que o toque de afrobeat em Princesa do Mar e Morte na Bahia, jazz em General Geral e toques da MPB da década de 1980 em Beco revelam com primor, mantendo a audição do trabalho em clima leve, mas sempre em alta.

Talvez falte ao trabalho do artista ou mesmo dos outros integrantes dessa “facção” da música paulista um toque maior de grandiosidade e exagero, afinal, em boa parte do registro o autocontrole do músico e dos versos impede que o álbum alcance um maior domínio ou assuma um melhor desempenho. Todavia, ao manter a calmaria, posicionando os sons e letras até certo limite, o cantor estabelece uma atmosfera suave e que prende pela delicadeza. Ao final, não apenas a Bahia fictícia criada por Campos se revela como fantástica, mas todo o conjunto de casos, histórias, melancolias e personagens que ele sutilmente compõem.

Bahia Fantástica (2012, YB Music)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Rômulo Fróes, Passo Torto e Gui Amabis
Ouça: Princesa do Mar, Beco e General Geral

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.