Disco: “Baixo Augusta”, Cachorro Grande

/ Por: Cleber Facchi 03/12/2011

Cachorro Grande
Brazilian/Rock/Alternative
http://news.cachorrogrande.com.br/

 

Por: Cleber Facchi

 

Com o lançamento do disco Cinema em junho de 2009, o quinteto gaúcho Cachorro Grande completava um longo arco que havia iniciado ao final da década de 1990, quando as primeiras composições da banda nasceram em solo porto-alegrense. Em uma década de produções praticamente ininterruptas, shows por todo o território nacional, além de um forte diálogo com o público – que acabou os transformando em um dos artistas mais queridos dos anos 2000 –, os gaúchos já haviam provado de todas as possíveis experiências, prazeres e perdas que uma ex-banda independente pudesse alcançar.

Cada álbum lançado parece se amontoar em um grande mosaico de obviedades que perpassam a carreira de boa parte das bandas ao redor do mundo – sejam elas grandes ou pequenas. Enquanto os dois primeiros (e melhores) discos do grupo – Cachorro Grande (2001) e As Próximas Horas Serão Muito Boas (2004) – evidenciam uma banda em busca de uma direção própria, com o lançamento seguinte, Pista Livre de 2005, o então quarteto cairia de vez no gosto do público. Ainda divididos entre o underground e o mainstream, em 2007 viria Todos os Tempos, provavelmente o registro mais maduro da banda e um completo oposto do que o já mencionado álbum seguinte acabaria proporcionando.

Entre acertos e visíveis erros, o grupo parte agora para uma nova e essencial empreitada na carreira de qualquer banda: a hora de experimentar e arriscar novas possibilidades musicais. Há tempos longe da cidade de origem e bem posicionados em solo paulistano, o quinteto surge agora com o sexto trabalho da carreira, Baixo Augusta (2011, Trama), disco que se afasta das temáticas e possíveis ressaltos regionalistas de outrora, para mergulhar nos universos e submundos que somente a cidade de São Paulo é capaz de proporcionar.

Menos óbvio e contando com um acabamento musical primoroso, o álbum de 11 faixas vai lentamente desenrolando o novelo de possibilidades renovadas que se assumem a partir de agora na carreira da banda. Por mais que a dobradinha The Beatles e Rolling Stones ainda seja a base para qualquer mínima composição do grupo, ao longo dos 42 minutos do novo disco o quinteto destaca uma série de novos ritmos e fórmulas musicas, garantindo espaço seguro para que a banda flerte com alguns referências “eletrônicas” ou mesmo outros campos do próprio rock que eles nunca tenham alcançado.

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Das guitarras sujas e predisposições sintéticas que tomam conta de Não Entendo, Não Aguento aos sintetizadores propositalmente dançantes de Tudo Vai Mudar, todos os espaços do disco são ocupados por elementos que remetem às obras de bandas como Primal Scream (pós-XTRMNTR) e Pulp (fase Different Class), além dos “novatos” Kaiser Chiefs e Kasabian. Embora boa parte dessas referências já fossem materializadas ao longo de todo o último disco, é através do presente lançamento que a banda parece de fato ter se encontrado, desenvolvendo um álbum que mesmo radiofônico se distancia de velhos exageros e segue bem explorado até os últimos momentos.

Se instrumentalmente a banda dá um salto enorme em relação aos trabalhos anteriores, ao observarmos os versos explorados no decorrer do disco essa mesma percepção não se faz presente. Longe das afetações juvenis de outrora e dos berros muitas vezes desnecessários que preenchiam algumas faixas, agora os “paulistanos” prezam pela produção de uma música mais séria, o que obviamente garante alguns erros vergonhosos. O melhor (ou pior) exemplo disso está na fraca Cinema, música desenvolvida em cima de versos fraquíssimos e rimas tão pobres que aparentam uma possível regressão na maneira de compor do vocalista Beto Bruno, autor da faixa.

Os mesmos erros acabam se evidenciando em O Fantasma Do Natal Passado (também assumida individualmente por Bruno) e Mundo Diferente. Enquanto a primeira reverbera um ar pretensioso e um compêndio de versos nada relevantes ao contexto do disco, a segunda acaba se resumindo em uma mera música de amor barata, em que nem mesmo a condução suingada no melhor estilo Primal Scream consegue garantir salvação à faixa – onde estão músicas como Velha Amiga e Insatisfeito que davam fechamentos dignos aos trabalhos da banda?

Mais do que um mecanismo de renovação e uma fórmula que afaste o trabalho da banda de uma carreira e lançamentos redundantes, Baixo Augusta se orienta como um álbum montado para agregar novos seguidores ou ampliar os possíveis horizontes da banda. Sem medo de experimentar e felizmente se afastando de determinados vícios de outrora, o quinteto converte o presente álbum em um projeto de abertura, um disco inicial para um novo arco que o grupo deve movimentar no decorrer dos próximos anos.

Baixo Augusta (2011, Trama)

Nota: 6.5
Para quem gosta de: Bidê ou Balde, Pública e Cartolas
Ouça: Difícil de Segurar

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.