Disco: “Baptista Virou Máquina”, Burro Morto

/ Por: Cleber Facchi 09/01/2011

Burro Morto
Brazilian/Instrumental/Experimental
http://www.myspace.com/burromorto

Ouvir um disco de música instrumental em um país como o Brasil é um feito que deve sempre ser aproveitado. Em terras tupiniquins onde os versos que retratam a malandragem do povo, suas desilusões amorosas e a malícia da conquista são sempre tão expressivos, atentar os ouvidos para um álbum desprovido desses mesmos versos, frases ou mínimos suspiros é algo sempre gratificante e novo. Sem soltar uma única palavra os paraibanos do Burro Morto nos entregam seu segundo trabalho de estúdio repleto de uma ginga controlada e instrumentação que ecoa os anos 70.

Além da visível preferência pela construção melódica embalada por guitarras psicodélicas, as levadas de funk music que vão de James Brown à Tim Maia, somado a um pé muito bem cravado no Afrobeat de Fela Kuti, o grupo se afunda ainda mais nos toques de música eletrônica. Um quase Kraftwerk suingado, embora muito mais orgânico do que artificializado. O Jazz, o experimentalismo, a avant-garde e o regional, tudo em um amontoado referencial de camadas que a banda vai construindo no decorrer de Baptista Virou Máquina (2011).

Não há como respirar. Há cada termino de canção lá vem um engate que te puxa com tudo para a faixa seguinte. Não há paz, não há enchimento de linguiça, existe apenas coesão e a pertinência das canções que vão se apoderando de seus ouvidos. Através de uma sempre bem conduzida linha de baixo através das mãos de Daniel Jesi, circundada por uma bateria ritualística aos comandos de Ruy Oliveira, o Burro Morto mostra que de morto mesmo só tem o nome, já que o resto é puro vigor.

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Em Transistor Riddim o grupo parece beber da guitarrada paraense, porém sujando tal referência com camadas de distorção e um ritmo em looping que lentamente vai hipnotizando o ouvinte até a entrada de novas guitarras, agora fixas no rock psicodélico da década de 1970. E é dentro de faixas como essa que se percebe um maior favoritismo do grupo por gestar um álbum menos “dançante” do que o trabalho de estreia, o quase festivo Varadouro de 2009.

Tal qual o título que dá nome ao álbum, as faixas vão lentamente se “mecanizando”. Desde a primeira canção que os acordes vão se aglutinando cada vez mais dentro de uma massa sonora única, até que uma instrumentação quase matemática tome conta das canções definitivamente a partir de Volks Velho, essa sim um puro referencial krafwerkiano. Embora o grupo tente se resgatar em KalaKuta por meio de uma arrasta-pé  hermético, já é tarde: não só Baptista, mas a banda como um todo termina por se transformar em máquina. Contudo não há erro nessa transformação, já que é aí que de fato a banda mostra seu potencial se jogando de vez no experimentalismo.

O post-rock sujo se instala por completo e nem a quase orgânica Volte Amor consegue salvá-los da “maquinização” que havia tomado seus corpos e sonoridade. Toques minimalistas vão se apoderando das faixas e novas nuances aos gradativamente vão sendo captadas. A percussão discreta ao fundo, o baixo cada vez mais direto e as guitarras suavemente matemáticas vão ditando as regras das canções. Por fim a sonoridade regionalista de Luz Vermelha embalada por guitarras em tom raivoso fecham o álbum de maneira categórica mostrando um grupo de verdadeiros homens máquinas, embora no fundo, bem lá no fundo, ainda exista neles o sopro de um organismo vivo.

Baptista Virou Máquina (2011)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: A Banda de Jospeh Tourton, Hurtmold e Cidadão Instigado
Ouça: Foda do Futuro

Por: Cleber Facchi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.