Disco: “Battle Born”, The Killers

/ Por: Cleber Facchi 12/09/2012

The Killers
Indie/Alternative/Rock
http://www.thekillersmusic.com/battleborn

Por: Cleber Facchi 


Oculta pela chuva inspirada de sintetizadores e guitarras projetadas de forma épica, por trás dos dois primeiros discos da banda norte-americana The Killers se esconde uma notável relevância que alguns indivíduos insistem em abafar ou simplesmente negar. No ápice do cenário musical que se estabelecia há mais de uma década, Brendon Flowers e o trio de parceiros vindos da desértica e luminosa Las Vegas davam vida a um som tão grandioso e caricato, quanto a cidade que servia de base ao quarteto. Uma mistura remodelada (e colorida) do pós-punk de grupos como Joy Division e The Smiths, do synthpop empoeirado de bandas aos moldes de New Order (de onde veio o nome da banda) com uma lógica incorporação do que havia acabado explodir no panorama nova-iorquino daquele instante. Referências que não apenas surgiriam “inéditas” naquele momento, como serviriam de influência para uma avalanche de grupos posteriores.

Com base nessa soma de referências variadas e encaixes naturalmente dançantes, o grupo conseguiu transformar o debut Hot Fuss (2004) em uma sucessão de hits intermináveis, faixas como Somebody Told Me, Mr. Brightside e Jenny Was A Friend Of Mine que ainda hoje ecoam grandiosas em qualquer apresentação da banda, ou simples festa de fundo de quintal onde role uma discotecagem improvisada. A estrutura leve e dançante concedida ao disco rapidamente faria da banda um novo fenômeno musical, tornando quase inexistente os limites entre o underground e o mainstream em torno da obra do grupo. Intencionalmente fácil, ainda que protegido pela postura séria do quarteto, o álbum traria os elementos fundamentais para o que dois anos mais tarde seria convertido no patriótico Sam’s Town (2006), uma ode aos Estados Unidos, ao “Rock de Arena” e uma notável evolução do que o grupo havia proposto previamente.

Se a tonalidade séria concedida aos compostos da banda mantinha firme a construção dos dois primeiros discos, o aparecimento de Day & Age em 2008 transformaria toda essa mesma seriedade em galhofa. Musicalmente redundante e apoiado em sintetizadores que praticamente fluem de maneira a constranger o espectador, o terceiro álbum parece tão desnecessário que até ouvir a coletânea de B-Sides Sawdust (lançada um ano antes) soava de forma mais atrativa e interessante. De maneira intencional (ou não) o The Killers se converteria em uma versão moderna do que grupos como Man At Work e Roxette foram ao longo da década de 1980, soando como uma cópia (em alguns momentos de si própria) e dona de um som que em nada parecia reviver os acertos do passado recente. Para o desespero de uns e confirmação de outros é justamente dentro dessa mesma estrutura que a banda apresenta agora o quarto álbum da carreira: Battle Born (2012, Island).

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Sequência quase exata do que a banda interrompeu há quatro anos – antes de entrar em um hiato que aproximaria os membros do grupo de suas respectivas carreiras solo -, o novo disco deixa claro logo nos teclados que abrem a faixa Flesh and Bone quais direcionamentos serão explorados até o fechamento da obra. Sim, Brandon Flowers canta como nunca – talvez de forma até mais entusiasmada e bem conduzida do que nos primeiros discos -, entretanto, nem mesmo as notas mais altas conseguem evitar que o álbum se perca em uma esfera preguiçosa de neon e sintetizadores tolos. Battle Born é de maneira óbvia (e quase assumida) um mero combustível para que a banda consiga novamente vender discos e entrar em turnê, série de apresentações que devem se solidificar em cima de faixas penosas (Here with Me), artificialmente dançantes (A Matter of Time) e vendas de inúmeros kits comerciais para os fãs.   

Inteiramente pensado em cima da estética e das referências que marcaram a década de 1980, o disco passa longe de incorporar aquilo que Twin Shadow, Diamond Rings e tantos outros artistas recentes (também amantes do mesmo período e sonoridade) conseguiram acrescentar em seus trabalhos. É como se o grupo de Las Vegas quisesse esquecer os acertos e o ritmo que ditava os dois primeiros discos, se entregando a produção de um projeto que até chama as atenções nas duas primeiras faixas, mas logo cai em desajustes tão grandes que o tornam descartável em uma segunda execução – ou até antes disso. Faça o teste, quantas composições a partir de Deadlines and Commitments conseguem chamar tanto as atenções quanto as que a banda propunha na segunda metade dos discos anteriores?

Por mais previsível que já fosse o desempenho falho da banda com o novo disco – alguém realmente pensava que eles pudessem lançar um trabalho tão marcante quanto os anteriores? – Battle Born consegue parecer ainda pior do que o esperado, transformando Day & Age em uma obra prima de valor incontestável quando observado próximo do atual resultado do grupo estadunidense. Mais do que nunca o quarteto consegue manter a postura que carrega no título da banda, se prontificando como verdadeiros assassinos, da própria carreira, e conseguindo em poucos segundos nos matar, de vergonha.

Battle Born (2012, Island)

Nota: 4.0
Para quem gosta de: Brandon Flowers, Muse e Kaiser Chiefs
Ouça: Runaways

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.