Disco: “BBNG”, BADBADNOTGOOD

/ Por: Cleber Facchi 22/11/2011

BADBADNOTGOOD
Hip-Hop/Jazz/Experimental
http://badbadnotgood.bandcamp.com/

Por: Pedro Ferreira

 

O Jazz foi, no início do século passado, um dos grandes veículos de externação da cultura negra nos Estados Unidos. Oriundo de uma fusão inusitada entre Blues e Folk, tendo absorvido elementos diversos de outros tantos estilos, o gênero foi ganhando profusão nos guetos americanos e logo tomou de assalto o gosto dos mais intelectuais. Nas décadas seguintes, se ramificou em um sem número de subgêneros, como o Swing, o Free-Jazz, Avant-Garde Jazz e o Bebop.

Da mesma forma que o Jazz, o Hip Hop tem sua origem nas periferias, mas dessa vez crivado de cunho ideológico, de maneira mais acentuada. As poderosas rimas foram, por muito tempo, o grito dos excluídos: mostraram para o mundo que a situação de opressão em que seus executores se encontravam não era satisfatória para eles. O Hip Hop evoluiu muito, e hoje também possui diversas formas, temas e roupagens.

Não é só na origem que os gêneros são afins, entretanto. Quanto ao Jazz, vale lembrar que o grande diferencial desse estilo com relação ao Blues foi a inserção de improvisações nas apresentações dos músicos. Ao contrário das notas fielmente seguidas que antes se verificavam, os jazzistas emplacavam longos solos de saxofone, piano e até mesmo bateria, saindo do lugar comum musical de uma apresentação ensaiada. É sabido, também, que o Hip Hop se notabilizou pelas batalhas de freestyle, quando um MC se digladiava com outro por meio de rimas, sempre na base do pensamento rápido, ou seja, no improviso.

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Se os dois gêneros guardam charmosas similaridades, porque não fundi-los num único trabalho? Sob essa premissa, o trio canadense BADBADNOTGOOD – assim mesmo, em caixa alta – armou-se de piano, bateria, baixo elétrico e alguns elementos eletrônicos para fazer improváveis versões bebopianas de faixas de grandes rappers, criando, assim, o que chamam de Hip Bop.

A ideia soa de maneira estranha, mas, por isso mesmo, é genial. Versões de Orange JuiceLemonadeBastard e AssMilk, todas de membros do OFWGKTA, foram as primeiras faixas liberadas, e logo chamaram a atenção de Tyler, the Creator. Tendo o líder do grupo – dono do maior hype da música do momento, principalmente na Internet – entendido o conceito e abraçado a causa, gravando vídeos com o grupo, sua projeção ficou ainda maior. Um crescente grupo de fãs foi se acumulando, e fez-se necessário o lançamento de um full lenght.

BBNG é o disco de estreia, por assim dizer, e conta com versões de Nas, Ol’ Dirty Bastard, Gang Starr, Flying Lotus, Slum Village, dentre outros, além de algumas composições originais. Há predominância da bateria em quase todas as faixas, e o piano está quase sempre em tons agudos. Demarcaram seu estilo, e demonstram ser músicos de muito talento, que viram no underground – e na grande rede – uma maneira de serem vistos e ouvidos. E deu no que deu: da mistura improvável, resultou um trabalho inquestionável.

BBNG (2011, Independente)

Nota: 8.5
Pra quem gosta de: The Q4, The Jet Age of Tomorrow, Blazo
Ouça: Based Is How You Feel Inside, The World Is Yours / Brooklyn Zoo

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.