Disco: “BBNG2”, BADBADNOTGOOD

/ Por: Cleber Facchi 09/04/2012

BADBADNOTGOOD
Jazz/Hip-Hop/Experimental
http://badbadnotgood.bandcamp.com/

Por: Cleber Facchi

Em meio ao universo de revoluções que tomaram conta do hip-hop gringo no último ano – assim como do próprio cenário no Brasil -, poucos foram os trabalhos capazes de igualar a mesma desenvoltura e riqueza instrumental quanto o proposto pela tríade canadense BADBADNOTGOOD. Contraponto jazzístico e essencialmente experimental do que se estabeleceu naquele período, a estreia da banda – um álbum simplesmente denominado BBNG – conseguiu transportar o gênero (ou gêneros) em que estava inserido para novos patamares, algo bem justificável pelas formas musicais nunca cômodas ou redundantes que o grupo se propunha a desenvolver.

Agora, longe do aspecto demasiado precoce e por vezes simplista do primeiro disco, a banda formada por Matthew A. Tavares (pianos), Chester Hansen (baixo) e Alexander Sowinski (bateria e samples) vai de encontro a um trabalho muito mais autoral, provando de antigas referências do jazz, porém, com os ouvidos sempre atentos ao presente. Sai de cena o registro tomado pelo aspecto caseiro e totalmente iniciante da primeira obra, tomando esse mesmo lugar um álbum imerso em maturidade, novas possibilidades instrumentais e, claro, versões renovadas para alguns clássicos recentes do hip-hop ou mesmo de outros estilos musicais.

Ao mesmo tempo em que mantém os mesmos traços da identidade de outrora, BBNG2 (2012, Independente) se revela como um trabalho inteiramente atento aos sons do passado, algo facilmente captado nas constantes improvisações controladas que preenchem a obra, bem como no completo abandono do caráter anárquico que ocupava músicas como Salmonella ou mesmo Listeriosis do primeiro álbum. Todas as ideias dos canadenses parecem melhor catalogadas e postas em ordem, o que acaba se traduzindo em um trabalho muito mais centrado e aberto ao público, capaz de atender tanto a nova geração de ouvintes, quanto veteranos apreciadores do gênero.

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Se antes o trio parecia comicamente interessado em reviver clássicos instrumentais dos mais diversos estilos, indo de jogos como The Legend of Zelda: Ocarina of Time até recortes do pós-punk inglês, como em Transmissions do Joy Division, hoje o interesse é outro. Além da forte aproximação do grupo com o dubstep remodelado (e manhoso) de James Blake – que contou com Limit To Your Love e CYMK, duas de suas faixas reformuladas -, ao longo do álbum o grupo vai se cercando de novas referências, indo de Herbie Hancock da boa fase até os experimentos mais herméticos de Charles Mingus. Tudo ecoa crescimento e maturidade, não de forma forçada e monótona, mas de maneira natural e ainda tão enérgica e jovial quanto fora o resultado proposto no último disco.

Por vezes o jazz e o antes exclusivo hip-hop acabam se integrando a outros gêneros, algo facilmente observado dentro das emanações confortáveis de Vices, composição que passeia de maneira interessante por entre as vias do math rock, não buscando por um tratamento exagerado, mas incorporando um aspecto leve e até gracioso. A mesma percepção toma conta da gigante Flashing Lights – original do álbum Graduation (2007) de Kanye West -, que com quase oito minutos de duração olha atentamente para o pós-rock de meados da década de 1990, lembrando por vezes um Mogwai mais iluminado.

As pequenas inserções dos colaboradores Leland Whitty (saxofone) e Luan Phung (guitarras) no interior da obra apenas expandem os limites da banda – se é que algum dia eles existiram -, permitindo que o novo disco se mantenha dentro de um aspecto mutável até os instantes finais. Muito mais coerente que o primeiro registro do grupo, BBNG2 surge como um verdadeiro trabalho de estreia da banda ou quem sabe uma continuação aprimorada, muito mais complexa e tomada por detalhes que alguns grupos veteranos parecem simplesmente abstrair. Um trabalho capaz de apresentar o jazz ao público jovem e o hip-hop aos veteranos com a mesma flexibilidade.

BBNG2 (2012, Independente)

Nota: 8.6
Para quem gosta de: Flying Lotus, OFWGKTA e Shabazz Palaces
Ouça: Vices, Limit To Your Love e Flashing Lights

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.