Disco: “Beacon”, Two Door Cinema Club

/ Por: Cleber Facchi 31/07/2012

Two Door Cinema Club
Brisith/Indie Rock/Alternative
http://twodoorcinemaclub.com/

Por: Cleber Facchi

Two Door Cinema Club

Existe um motivo muito claro para termos gostado tanto do primeiro disco do Two Door Cinema Club: o ritmo. Por mais que as líricas acessíveis de faixas como Come Back Home e This Is The Life fossem capazes de atrair em uma primeira e despretensiosa audição, o segredo (ou a verdade) por trás de Tourist History está concentrado unicamente no fluxo instrumental dançante e nas guitarras quase suingadas que passeiam por todo o disco. Logo, não foi estranha a considerável ascensão do grupo britânico ao longo de 2011, se transformando em uma presença quase garantida nas mais variadas festas de discotecagem indie/alternativa ou mesmo em incontáveis festivais espalhados pelos quatro cantos do mundo.

A estrutura melódica e os encantamentos sonoros administrados por Alex Trimble, Kevin Baird e Sam Halliday praticamente excluíram a necessidade do ouvinte em conhecer a língua inglesa. É como se as palavras fossem meros complementos aleatórios, particularidades que dançam e existem unicamente por conta da sonoridade vigente do álbum. Da quase matemática faixa de abertura, Cigarettes in the Theatre, ao riff abrasileirado de What You Know até o leve enquadramento melancólico de Something Good Can Work, tudo flui de maneira a impressionar o público, fazendo com que mesmo os mais exigentes ouvintes se entregassem aos encantos e à dança involuntária que o trio imprimia ao longo das faixas.

Mesmo que em Beacon (2012, Kitsuné), segundo registro em estúdio da banda, a estratégia de manter o ritmo frenético em alta ainda seja a mesma, temos claramente o lançamento de um trabalho de mudanças e pequenas substituições na proposta do grupo. A sonoridade que definia a totalidade do primeiro álbum agora fica em segundo plano, com a banda aproveitando melhor as letras e assumindo o que parece ser uma postura adulta em relação ao projeto anterior. Construído inteiramente longe da casa dos britânicos – o disco foi gravado em Los Angeles, Califórnia -, do princípio ao fim no registro de 11 faixas a banda tenta se desligar da proposta adolescente do álbum passado, percepção que consome o volumoso e até sério arsenal de composições.

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Por mais que as guitarras ágeis de Halliday funcionem como uma linha guia para todo o novo disco (a exemplo do que a banda promoveu no debut), uma soma de novos instrumentos surge para remodelar musicalmente a carreira da banda, que flutua entre as métricas do Foals e o pop maduro do Phoenix. Sintetizadores, naipes de metais, vozes em coro e até a bateria que se afasta do propósito eletrônico de outrora aos poucos modifica os caminhos que tornaram Tourist History ainda mais acessível. Uma estratégia que evita a banda de encarar a mesmice do segundo disco – marca de grande parte das bandas britânicas atuais -, e os encaminham para a condução de um registro volumoso, temperado por detalhes e particularidades musicais que ampliam consideravelmente os horizontes dos ingleses.

Do princípio ao fim, Beacon é um trabalho que esbanja reações ensolaradas, versos que fisgam despretensiosos e os mesmos riffs (agora aprimorados) que apresentaram o grupo em 2010. Entretanto, há no decorrer do disco uma forte aproximação da banda com o mesmo pop épico que garantiu ao Phoenix o sucesso absoluto com lançamento do Wolfgang Amadeus Phoenix em 2009. Um ponto óbvio de evolução do trio e prova de que se a banda conseguir se livrar de alguns pequenos vícios e encontrar o apoio de um produtor de fato competente – Jacknife Lee mais uma vez parece desnecessário – pode lançar um registro tão acessível e inventivo quanto os promovidos por bandas como Passion Pit e Vampire Weekend.

Beacon definitivamente não é o disco que irá salvar a sua vida ou modificá-la drasticamente, mas vai te fazer dançar de forma bem humorada por pelo menos algumas horas. Mesmo que falte ao álbum hits da mesma proporção ou grandeza similar a que envolvia I Can Talk ou What You Know, a capacidade da banda em acrescentar algo mais no decorrer do trabalho e se sobressair em relação à média dos recentes grupos britânicos já é algo que impressiona. O ritmo que tanto atraiu seguidores para o trabalho do grupo ainda está lá, apenas diferente, em processo de aprimoramento. Resta apenas torcer para que o trio não caia em desajustes e acabe esquecendo-se do bom desempenho que acumulou até aqui. Apenas ouça e, se possível, dance.

Beacon (2012, Kitsuné)

Nota: 6.5
Para quem gosta de: The Wombats, Friendly Fires e Foals
Ouça: Wake Up e Beacon

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.