Disco: “Beams”, Matthew Dear

/ Por: Cleber Facchi 13/08/2012

Matthew Dear
Electonic/Minimal Techno/Dance
http://www.matthewdear.com/

Por: Cleber Facchi

Raros são os produtores que passaram por um processo de transformação tão grandioso e expressivo quanto o norte-americano Matthew Dear. Outrora imerso em um palco musical de proporções minimalistas e recheios sonoros que flertavam de maneira sutil com a eletrônica surgida em findos da década de 1980, o produtor texano fez de cada novo lançamento nos últimos dez anos um tratado de preparação para o que ele finaliza hoje com a chegada do complexo (e ainda assim pop) Beams (2012, Ghostly International). Quinto registro oficial do artista, o novo álbum é além de um rompimento com as fórmulas passadas um exercício de firmação, afinal, longe das reverberações pontuais do passado, com o novo disco Dear se posiciona como um artista de construções volumosas e que nos arrastam imediatamente para as pistas.

Do minimal techno que antes delimitava todos os espaços do trabalho de Dear pouco sobreviveu. Logo de cara a explosão de sons que definemHer Fantasy (a melhor música eletrônica de 2012, até agora) arrastam o artista para um cenário de construções musicais grandiosas que em alguns instantes absorvem uma atmosfera épica, quase monumental. Se antes o norte-americano passeava pelo mesmo terreno que Axel Willner (The Field), Pantha Du Prince e tantos outros produtores que preenchem o catalogo de selos como o alemão Kompakt, hoje ele se entrega à grandiosidade de produções que dialogam abertamente com o pop e outras frações menos reclusas.

Visível continuação do que fora aprimorado ao longo do disco Black City (2010), em Beams o norte-americano deixa fluir uma trama de reformulações eletrônicas que muito o aproximam daquilo que James Murphy construiu no decorrer de toda a curta trajetória do LCD Soundsystem. Entretanto, enquanto o produtor nova-iorquino garantia a produção de um tratado direto, com vozes, batidas e sonorizações diversas se agrupando de maneira uniforme e naturalmente comercial, Matthew Dear parece ir além disso, se entregando aos detalhes e sutilezas que por vezes abraçam a obra de Brian Eno (da década de 1970). Cada faixa, por mais “insignificante” que ela seja vem cercada pelas texturas, resultado que transforma cada audição do registro em um exercício de pura atenção.

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Ao mesmo tempo em que mantém a produção de um álbum recheado por melodias cativantes, vocais pegajosos e batidas que entusiasmam em curtos segundos, Dear utiliza do trabalho para experimentar. Enquanto Earthforms aproxima o disco de um lado mais rock, com uma linha de baixo bem elaborada servindo como instrumento de atração ao ouvinte, Headcage traz de volta os acertos minimalistas que definiram os registros iniciais do produtor. Entre samples de um nariz “cheirando” e sintetizadores pontuais que em alguns instantes tocam a obra do Cut Copy, o produtor fomenta a construção de um registro vasto, um álbum que se deixa aproximar tanto da melancolia (Ahead Of Myself) como de uma proposta estritamente dançante e simples (Fighting Is Futile).

Dentro dessa proposta de conceitos distintos, Dear acaba se aproximando muito da nova frente de produtores que encontram no resgate da House Music a força para suas obras. Se Up & Out lembra em alguma medida o regresso aos sons da década de 1990 na obra do Azari & III, Temptation dialoga de maneira competente com a obra do espanhol John Talabot. Surgem até traços do panorama britânico na atmosfera obscura de Shake Me, prova da versatilidade do produtor que encontra nessa variedade de gêneros e tendências a marca para o novo disco. Contudo, longe de apenas reviver uma série de preferências instrumentais recentes, Dear e a variedade de ruídos minimalistas que ele promove dão novo resultado à essa somatória, transformando Beams em um registro de limites ainda não calculados.

Há na grandiosidade de Beams a manifestação de um álbum de proporções monumentais, possibilitando que Matthew Dear alcance o mesmo resultado que Sound Of Silver (2007), Silent Shout (2006) e tantos outros clássicos recentes da música eletrônica conseguiram estabelecer. Longe de surgir como um registro de efeitos descartáveis e propósitos passageiros, ao brincar com os experimentos (ao mesmo tempo em que mantém firme a linearidade pop), o produtor faz nascer um álbum que atrai pela infinidade das composições e particularidades que o definem, tornando eterna a durabilidade da obra. Beams é um trabalho que naturalmente nos convida à dança, mas o bom desempenho de Dear faz com que possamos ir muito além desse “limite”.

Beams (2012, Ghostly International)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: John Talabot, Brian Eno e LCD Soundsystem
Ouça: Her Fantasy, Temptation e Earthforms

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.