Disco: “Beautiful Rewind”, Four Tet

/ Por: Cleber Facchi 16/10/2013

Four Tet
Electronic/Experimental/IDM
http://www.fourtet.net/

Por: Cleber Facchi

Four Tet

Quem esperava que o detalhamento sóbrio imposto em There Is Love In You (2010) pudesse aproximar Kieran Hebden de um cenário cada vez mais orgânico e sutil, encontrou logo no ano seguinte uma avalanche de novas experiências tortas. Longe dos ensaios psicodélicos, da interferência branda da IDM ou mesmo dos pequenos flertes experimentais, o artista inglês trouxe na relação íntima com a música Techno um ponto de transformação para o Four Tet. Não por acaso, Pink, obra de 2012, fez dos rumos autorais do produtor um salto para um novo cenário, exercício reaproveitado com certa dose de excentricidade e reforço no fluxo incerto que alimenta o recente Beautiful Rewind (2013, Tax).

Estranho em essência, o sétimo registro oficial de Hebden parece mais uma vez visitar o catálogo do produtor londrino, porém, agora desenvolvido em um sentido de fragmentar as próprias experiências. É como se toda a nuvem de sons, colagens e tendências que há mais de uma década ditam as regras do artista fossem diluídas em um cenário colorido e de proposital de desordem. Vozes arremessadas sem fluxo aparente, batidas que trafegam por distintos estágios da eletrônica e uma quebra dos princípios conceituais do britânico ditam de forma natural os rumos do trabalho.

Partidário de uma série de preferências já expostas em Everything Ecstatic, de 2005, Beautiful Rewind não é uma obra a ser observada em totalidade, mas em fragmentos. Cada composição parece arquitetada individualmente, exercício aprimorado no último ano, durante o lançamento de Pink, porém, ordenado de forma ainda mais curiosa na construção do recente disco. Mesmo isoladas, músicas como Kool FM revelam o completo desapego de Hebden em seguir por um caminho linear. Marcada pelo uso de uma ambientação tímida, a faixa em poucos instantes é arremessa para um grupo de vozes sampleadas e batidas que crescem e diminuem a todo o instante, prova de que a única intenção do produtor com o novo registro é a de bagunçar tudo.

Ainda que anárquico, Beautiful Rewind é uma obra que possibilita pequenas divisões e blocos específicos de faixas a serem observadas em conjunto. Enquanto músicas aos moldes de Parallel Jalebi e Our Navigation enveredam para o lado ambiental e sutil, condensando vozes e bases eletrônicas em um esforço de cuidado visível, outras como Gong e Buchla assumem uma direção completamente oposta desse efeito. São batidas que sobrepõe vozes, vozes que se transformam em ruídos e ruídos que se perdem em meio a loops cacofônicos. Enquanto faixas como Angel Echoes, Circling ou mesmo toda a construção do clássico Rounds parece desenvolvida em um cenário específico, hoje Hebden quer ir além.

A sensação de que o produtor estaria desnorteado, entretanto, aos poucos é substituída pela precisão a qual Hebden esculpe as canções. Ainda que Parallel Jalebi seja a melhores representação do esforço autêntico (e minuncioso) do britânico, resgatando marcas específicas e essencialmente detalhistas de There Is Love In You, é no eixo final que o álbum realmente manifesta todo o cuidado que o abastece. Onírica, Unicorn traz no posicionamento das harmonias sintéticas a abertura para um jogo doce de referências, condensando nos instantes finais a abertura para aquilo que Your Body Feels manifesta em um fechamento autêntico (e também desconcertante) para o disco.

No meio desse território de vozes desfiguradas e sons que apontam para todas as direções, Kieran Hebden curiosamente finaliza uma obra que se mantém coesa e naturalmente dinâmica. É como se toda a desordem intencionalmente projetada pelo artista fosse a base para um trabalho que tem todas as lacunas finalizadas em essência. Assentando todos os elementos em uma medida caótica, o produtor mais uma vez altera os cursos do Four Tet, exercício que parece seguido com autenticidade desde a estreia com Dialogue, em 1999, e ainda parece longe de provar do conforto.

 

Four Tet

Beautiful Rewind (2013, Tax)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Aphex Twin, Burial e Cairbou
Ouça: Parallel Jalebi, Unicorn e Ba Teaches Yoga

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.