Disco: “Beauty Behind the Madness”, The Weeknd

/ Por: Cleber Facchi 27/08/2015

The Weeknd
R&B/Soul/Pop
http://www.theweeknd.com/

Seja por pressão da gravadora ou dificuldade de adaptação, uma coisa é certa, perto da sequência de obras apresentadas por Abel Tesfaye em Trilogy (2012) – House of Balloons, Thursday e Echoes of Silence -, Kiss Land (2013) é um trabalho de qualidade inferior. Boas composições e letras fortes aparecem aqui e ali – caso de Live For, Wonderlust ou da própria faixa-título -, nada que se compare ao catálogo de versos e arranjos provocantes dos primeiros registros, elementos responsáveis por catapultar a obra do The Weeknd e sustentar músicas como Wicked Games, The Morning ou mesmo a poderosa The Fall.

Com a chegada de Beauty Behind the Madness (2015, XO / Republic), quinto registro de inéditas e segundo álbum lançado por uma grande gravador, uma grata surpresa. Ao mesmo tempo em Tesfaye que mantém firme a sonoridade explorada desde a estreia, em 2011, difícil não encarar o novo registro como um típico exemplar da música pop. Da estrutura descomplicada ao time de convidados – Lana Del Rey, Ed Sheeran e Kanye West -, o canadense conseguiu transformar o novo álbum em uma verdadeira metralhadora de hits.

Sem necessariamente buscar apoio em um tema ou conceito específico – marca do erótico Kiss Land -, Tesfaye encontra no presente disco um espaço para resolver os próprios conflitos. Faixas marcadas pelo completo desespero, relacionamentos fracassados, desilusões amorosas e boa dose de descrença, como se toda a base do registro fosse orquestrada pela vida amorosa e diferentes tormentos do cantor. “Quem é você para julgar, quem é você para julgar?”, questiona o Tesfaye no refrão de The Hills, uma espécie de resposta e precioso indicativo do aspecto confessional que orienta o trabalho.

De nada adiantaria uma obra tão expositiva se a base instrumental do trabalho não fosse capaz de transmitir o mesmo aspecto emocional dos versos. Não por acaso, grande parte das composições são recheadas de pianos entristecidos, guitarras íntimas do R&B dos anos 1980 e samples resgatados de diferentes campos da música negra. Exemplo do atento diálogo de Tesfaye com o passado está em The Hills. Enquanto a voz triste do canadense sufoca em meio a conflitos amorosos, ao fundo, Can’t Stop Loving You, música gravada em 1976 por Soul Dog serve de estímulo para o crescimento da faixa.

Tell Your Friends, Often, Erned It, The Hills e Prisioner, não importa o ponto do disco: Beauty Behind the Madness brilha como uma obra incrustada de boas composições. Curioso perceber que mesmo esse poderoso arsenal parece incapaz de igualar o acerto do músico em Can’t Feel My Face. Batidas, vozes, bases e instrumentos perfeitamente posicionados, irretocáveis. Se há quatro anos Tesfaye brincava de ser Michael Jackson na intensa adaptação de Dirty Diana, hoje o cantor parece igualar o mesmo domínio melódico do Rei do Pop em uma faixa tão comercial, quanto inventiva, explosiva em cada fragmento de voz. Merecidamente posicionada no topo das principais paradas de sucesso – caso do disputado Hot 100 da Billboard -, desbancando nomes como Taylor Swift e Major Lazer, a canção é a isca necessária para que The Weeknd fisgue de vez o grande público.  

Beauty Behind the Madness chega como a cereja no topo da sequência de grandes obras que marcaram o R&B/Pop em 2014 – caso de 1989 da cantora Taylor Swift, LP1 de FKA Twigs e My Everything de Ariana Grande. Uma obra de essência melancólica, pontuada por pequenas doses de experimento e ruídos atípicos em se tratando de um trabalho comercial, porém, ainda assim, sedutora, passagem direta de Abel Tesfaye para o mesmo clube de gigantes da música pop.

Beauty Behind the Madness (2015, XO / Republic)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Drake, Justin Bieber e Frank Ocean
Ouça: Can’t Feel My Face, The Hills e Often

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.