Disco: “Beija Flors Velho E Sujo”, São Paulo Underground

/ Por: Cleber Facchi 21/10/2013

São Paulo Underground
Experimental/Jazz/Avant-Garde
http://www.noropolis.net/saopaulounderground/

Por: Cleber Facchi

São Paulo Underground

Dois anos se passaram desde que Guilherme Granado, Mauricio Takara e Rob Mazurek deram vida aos experimentos assimiláveis de Três Cabeças Loucuras. Última obra de estúdio do São Paulo Underground, o trabalho lançado em 2011 trouxe na manifestação cuidadosa dos sons um ponto de melhor entendimento em relação aos efeitos impostos pelo coletivo em 2006, quando formado. Em busca de uma composição cada vez mais “abrasileirada” desse resultado, a tríade se reencontra para mais uma vez brincar com o cenário instável (ainda que conciso) da banda, transformando Beija Flors Velho E Sujo (2013, Cuneiform) em mais um espaço aberto ao invento.

Longe de qualquer distanciamento do público, tão logo tem início, o novo álbum autoriza o trio a passear pelas melodias em um exercício harmônico e de fácil assimilação. Ainda que orientado pela mesma fluidez jazzísitica do disco anterior, o projeto encontra em passagens pela tropicália, o pós-rock do Hurtmold e um toque quase “pop” dos temas a abertura para um novo cenário. Sem complicar, é como se a tríade assumisse com o registro apenas mais um exercício de criação, trazendo na estética quase descompromissada uma nova proposta em relação ao álbum anterior.

Desenvolvido em pequenos agregados instrumentais, o presente disco força na individualidade das faixas um exercício de engrandecimento temático. Isoladas, as canções passeiam por diferentes tendências, sustentando um catálogo não homogêneo, mas nem por isso menos convincente em relação aos inventos prévios do grupo. Entretanto, em uma tentativa de manter a relação de proximidade com o disco passado, até a chegada da quarta faixa, Over The Rainbow, todos os elementos parecem alinhados em uma mesma atmosfera conceitual, deixando para o meio final a expansão e consequente quebra na linearidade do trabalho. Um simples exercício de preparação antes da chegada do ponto de maior entusiasmo da obra.

Leve e pontuado com acerto pelos ritmos nacionais/tropicais, o álbum sustenta a partir de músicas como Evetch (homenagem a Ivete Sangalo) um percurso ensolarado dentro da obra. Esbarrando em diversos aspectos testados recentemente pelo Bixiga 70 com o segundo álbum de estúdio, o trio condensa o trompete instável de Mazurek em um jogo de batidas e ruídos que passeiam por diferentes épocas e experiências. Ora atento aos inventos de Miles Davis pós-Bitches Brew, em Six-Handed Casio, ora capaz de brincar com os sons em um efeito de intimidade com o grande público, vide The Love I Feel For You Is More Real Than Ever, com o presente exemplar a banda sustenta uma série de caminhos que buscam facilitar a absorção do ouvinte.

Ainda que orientado em frações, como se cada faixa fosse absorvida individualmente, Beija Flors Velho E Sujo em nenhum momento se revela como uma obra desconexa. De fato, se observarmos atentamente aos encaixes sujos das guitarras, há por todo o exemplar um empenho de aproximação que flui de maneira bastante lógica. Um território específico de desordem, mas que permite o agrupamento de mínimas bases instrumentais. Dessa forma, mesmo quebrado, o álbum ecoa similaridade, como um imenso quebra-cabeça espalhado de forma aleatória ou montado sem ordem aparente.

Diferente do álbum anterior, em que todos os elementos convergiam para a construção de um cenário musical típico de estúdio, hoje o trio implanta a projeção de um registro pensado para as apresentações ao vivo. Do clima convidativo em Basilio’s Crazy Wedding song ao resultado eufórico imposto em Ol’ Dirty Hummingbird, cada instante da obra se esparrama em uma grandeza para além de possíveis barreiras específicas, garantindo maior liberdade aos instrumentos e rumos que a tríade busca projetar.

 

São Paulo Underground

Beija Flors Velho E Sujo (2013, Cuneiform)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Sambanzo, Bixiga 70 e Hurtmold
Ouça: Evetch e The Love I Feel For You Is More Real Than Ever

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.