Disco: “Bend Beyond”, Woods

/ Por: Cleber Facchi 27/09/2012

Woods
Folk/Lo-Fi/Psychedelic
http://www.woodsist.com/woods/

Por: Cleber Facchi

Dentro do ensurdecedor e sempre inventivo cenário que se estabeleceu na região do Brooklyn há uma década, o (hoje) quarteto Woods sempre manteve uma postura de distinção em relação às demais bandas locais. Enquanto uma maioria absoluta de artistas construíram carreiras sólidas em cima de assertivos encaixes de guitarras e distorções exageradas, vide o trabalho de bandas como The Strokes ou os “novatos” do The Pains Of Being Pure At Heart, o projeto encabeçado por Jeremy Earl sempre manteve um acabamento diferenciado. É como se na selva de prédios que cresce na cosmopolita Nova York o grupo fosse um exemplo de contraste, funcionando como pequenos pontos esverdeados em meio aos tons de cinza que se esparrama física e musicalmente pela cidade.

Passada a construção do bem explorado Sun and Shade (2011), disco apresentado em junho do último ano, Earl e os parceiros de banda retornam para a continuação da ininterrupta sequência de lançamentos instalada desde idos de 2007, quando At Rear House – praticamente um trabalho solo do letrista e principal mente por trás do grupo – foi apresentado. Facilmente o registro mais atrativo e até comercial de toda a presente obra da banda, Bend Beyond (2012, Woodsist) mostra que mesmo íntimos de uma sonoridade mais próxima do grande público, os ensaios psicodélicos e o tom bucólico que há tempos acompanha o grupo ainda se mantém.

Menos soturno que o resultado entregue há pouco mais de um ano, o álbum mantém no conjunto rico de 12 composições um nítido destaque para os vocais e principalmente para o uso detalhado de guitarras que brincam com a psicodelia de forma “pop”. Como dito durante o lançamento de Cali in a Cup e Size Meets the Sound (antes de revelado o resultado final do disco), com o atual projeto vê-se uma clara relação do quarteto com a mesma sonoridade leve que ecoa no trabalho de grupos como The Shins (do disco Chutes Too Narrow, 2003) e até mesmo o Fleet Foxes do debut lançado há quatro anos. Tudo se desenvolve de maneira pacata e melódica, mesmo nos momentos mais raivosos do álbum, quando as guitarras aparecem curiosamente mergulhadas em um tom matinal que muito lembra o primeiro disco do Real Estate – longe da premissa litorânea, claro.

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Bend Beyond mantém uma característica que mesmo os bem planejados projetos anteriores do grupo, como Songs of Shame (2009) e At Echo Lake (2010) não conseguem manter: a linearidade e o acabamento rico das composições. Construído de maneira crescente, à medida que o trabalho se desenvolve as guitarras vão ocupando maior espaço, garantindo ao bloco inicial de composições um resultado sutil e sempre acolhedor, enquanto a segunda metade permite o crescimento de faixas mais intensas e firmes. Não é difícil se deixar encantar pela delicadeza de músicas como It Ain’t Easy (um folk-country temperado pela lisergia do Slide-Guitar) ou mesmo pelo tom sujo concedido a músicas como Find Them Empty, canção que torna pública toda a funcionalidade do grupo como inteligente coletivo.

Recheado por composições mais curtas, o álbum mantém até a última composição um resultado que não apenas prende o espectador, como fornece composições sempre atrativas e pegajosas. Com ares da década de 1970, o disco encontra óbvias referências no cenário musical que se construiu em Los Angeles e São Francisco ao longo do período, fazendo com que a banda soe como uma extensão recente (e até menos chapada) do instrumental hippie estabelecido naquele instante. A própria camada extra de ruídos e emanações suaves que se escondem ao fundo de cada composição justifica bem isso, proposta implantada tanto na inaugural faixa-título, como na pacata Something Surreal, a cuidadosa música de encerramento.

Prova incontestável da capacidade do grupo em produzir uma das mais ricas e consistentes discografias dos últimos anos – diga uma banda recente que conseguiu lançar quatro registros ininterruptos com a mesma qualidade -, Bend Beyond vai além do acabamento óbvio de um típico disco de música folk. Com os ouvidos atentos ao passado, mas interessado em escrever sobre o presente, Jeremy Earl e os colegas de banda tratam de cada espaço do disco com esmero, apresentando um disco que mesmo simples aos desatentos, revela uma infinidade de pequenas sutilezas que vão muito além do convencional. Doce, romântico e com um pé firma na psicodelia, o disco funciona como uma trilha sonora nostálgica para o habitante de qualquer grande centro urbano.

Bend Beyond (2012, Woodsist)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Real Estate, Julian Lynch e Kurt Ville
Ouça: Size Meets the Sound e Something Surreal

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.