Disco: “Benji”, Sun Kil Moon

/ Por: Cleber Facchi 10/02/2014

Sun Kil Moon
Indie/Singer-Songwriter/Folk
http://www.sunkilmoon.com/

Sun Kil Moon

Simplicidade é a palavra de ordem em Benji (2014, Caldo Verde). Sexto registro em estúdio de Mark Kozelek pelo Sun Kil Moon, o álbum é uma completa desconstrução da sonoridade prévia imposta pelo músico, ao mesmo tempo em que se revela como uma exata continuação de tudo o que vem sendo cultivado desde o começo dos anos 2000. Intimista em essência, o disco atravessa as confissões impostas pelo cantor de forma a projetar diálogos próximos do público, ato que se desliga da redundâncias típicas de álbuns do gênero – evidente nos discos mais rasos de Bright Eyes e Bonnie ‘Prince’ Billy – para trilhar uma atmosfera de plena confissão.

Ainda que a morte seja uma constante na trama lírica tecida por Kozelek, com o novo álbum, pela primeira vez o músico californiano vai além de um mero agregado de versos sombrios e melancólicos. Leve, mesmo quando passa por músicas como I Can’t Live Without My Mother’s Love, o disco mais parece um passeio pela memória recente do cantor, que movido pela trilha branda de violões passeia por aspectos típicos do cotidiano. A diferença em relação ao que o músico já havia testado em outras obras, principalmente Among The Leaves, de 2012, está na capacidade em traduzir sentimentos tão complexos de forma simples, acolhedora.

Como um dia na vida de Kozelek, Benji – o nome do trabalho é uma homenagem ao filme homônimo de 1974, sobre um cachorro que salva crianças sequestradas – é um disco que usa da particularidade das canções como um passo para se aproximar do ouvinte. São músicas pontuadas por temas familiares (I Love My Dad, Clarissa), amizade (Ben’s My Friend), ou mesmo personagens centrados no universo particular do cantor, algo explícito em Richard Ramirez Died Today Of Natural Causes. Faixas que pertencem de forma incontestável ao artista, mas aos poucos resgatam temas específicos do universo do ouvinte.

Verdadeira colcha de retalhos líricos, Benji vai além do período de produção que Kozelek levou para finalizar o álbum no último ano. Trata-se de um imenso concentrado de versos deixados para trás ao longo dos anos e agora resgatado. A proposta, curiosamente expande os limites do compositor, como se diferentes fragmentos esquecidos no interior dos outros álbuns fossem aos poucos resgatados e adaptados aos padrões do novo álbum. A estrutura rompe de forma atenta com a homogeneidade amarga dos discos passados, em grande parte dos casos centrados em uma trama única.

Em se tratando da arquitetura instrumental do disco, Kozelek não parece ir além de um parco conjunto de violões e brandas camadas acústicas. A simplicidade dos arranjos, longe de desfavorecer os versos instalados no registro, apenas expandem o sentimento de recolhimento fixado na obra. São guitarras tímidas, como no esboço Jim Wise, ou mesmo dedilhados sutis que se alongam por vários minutos, algo que I Watched The Film The Song Remains The Same, com mais de 10 minutos de duração sustenta com plena naturalidade. Assim como nos versos, Benji é uma obra em que a neutralidade sonora das peças funciona de forma complementar.

Mesmo orquestrado dentro do universo particular de Kozelek – que cuida tanto da produção das canções como da capa do álbum -, Benji é uma obra de evidente esforço coletivo. Acompanhado de perto por Steve Shelley (ex-Sonic Youth), Will Oldham (Bonnie ‘Prince’ Billy), Jen Wood e Owen Ashworth (Casiotone for the Painfully Alone), o músico apenas amplia o toque de sutileza instalado na obra, que termina como um dos retratos mais atentos sobre a família, amigos e também sobre a morte.

 

Benji

Benji (2014, Caldo Verde)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Bonnie ‘Prince’ Billy, Death Cab For Cutie e Bright Eyes
Ouça: I Love My Dad, I Can’t Live Without My Mother’s Love e Dogs

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.