Disco: “Best of Gloucester County”, Danielson

/ Por: Cleber Facchi 19/02/2011

Danielson
Indie/Folk/Indie Pop
http://www.myspace.com/danielson

 

Embora não seja um artista de grande destaque no Brasil Daniel Smith e seus diversos projetos – Danielson, Danielson Famile e Brother Danielson – são responsáveis pelo lançamento de grandes álbuns da música indie dos anos 90 e 2000. Fluindo dentro de uma temática que se converte em canções monumentais aos moldes de Of Montreal, The Unicorns e um pouco de Deerhoof, Smith sabe como ninguém como estabelecer faixas crescentes e que afloram o uso de um número grandioso de instrumentos.

Depois do lançar o álbum Ships, seu maior clássico em 2006 seria difícil o músico e seus diversos parceiros entregarem um trabalho à altura. Porém até a chegada de um álbum no mesmo nível é interessante ver o brilhante esforço de Smith e sua big band em Best of Gloucester County (2011) oitavo álbum da carreira do músico, que teve início em 1994 com o lançamento do álbum A Prayer for Every Hour, uma produção mediana, mas que já dava apontamentos de que ali viriam futuros acertos. Com uma banda cercada de familiares, sua própria esposa e até o músico Sufjan Stevens é difícil não se interessar pelo novo trabalho desse músico de New Jersey.

Depois de cinco anos sem nada inédito sendo lançado Complimentary Dismemberment Insurance abre o recente projeto de Smith, entregando a faceta folk do compositor, que vai aos poucos se completando por inserções de banjo, pianos, uma bateria espirituosa e guitarras discretas ao fundo. Arranjos de sopro chegam para acalentar ainda mais a canção que por conta do ritmo ascendente faz desse começo de álbum um excelente e explosivo retorno do Danielson.Na sequência a banda destila acordes acústicos e recheados de detalhes em This Day Is A Loaf. Os vocais em coro contribuem ainda mais para o clima de exaltação que toma conta do álbum, feito que só se extinguiria com a última canção do álbum.

Em Grow Up os falsetes de Smith chegam no melhor estilo Kevin Barnes do Of Montreal, que em composição com a instrumentação quase orquestrada transforma o álbum em uma verdadeira festa. Embora durante alguns momentos a sensação de desordem predomine, há inquestionavelmente um caos organizado dentro da faixa, algo que se exemplifica principalmente nos momentos mais pacatos da composição. Lil Norge traz a primeira participação do álbum. O sueco Jeans Lekman (não há escolha melhor) chega para emprestar sua voz à canção que se orienta por momentos de calmaria e explosão. Os vocais graves em oposição aos da esposa de Smith dão versatilidade à faixa que se traduz em um dos melhores momentos do álbum.

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Membros das bandas Cryptacize, Soul-Junk e US Maple se unem ao já enorme grupo para destacar o lado psicodélico do disco em But I Don’t Wanna Sing About Guitars, marcada pelas guitarras eficientes do músico Chris Cohen e mais uma vez pela sonoridade detalhista do grupo. Uma espécie de pop teatral e dançante é o que marca a instrumentação de People’s Partay com seu ritmo inconstante que mais uma vez demonstra a versatilidade de todos os integrantes da banda.

Se alguns toques de experimentalismo assumem boas partes das canções, Olympic Portions assume categoricamente esse lado do Danielson. A faixa acaba marcada pelo uso diversificado de elementos sonoros em um caráter muito mais abstrato e menos fácil do que vinha aparecendo nas primeiras canções do álbum. Vocais desconexos, instrumentos obtusos e um ritmo incerto tomam momentaneamente o rumo do álbum, já que You Sleep Good Now traz de volta o trabalho aos trilhos. Stevens e seu banjo tenro vão pontuando suavemente a composição, até a chegada categórica dos demais instrumentos.

Mesmo já próxima do final do disco Hovering Above That Hill em nenhum momento deixa transparecer a sensação de término. Mais uma vez Daniel Smith e seus parceiros se prendem a um ritmo muito mais experimentalista, reconfigurando os arranjos acústicos em ressonâncias excêntricas. Contudo, a cada tentativa de viagem sonora chega uma canção menos exótica para restabelecer o trabalho, dessa vez é Denominator Bluise quem tem esse objetivo. Essa é de longe a faixa mais comportada do álbum, mesmo preenchida por sofisticações esporádicas a sonoridade do grupo não se permite ir muito além.

Quem esperar por um final tão grandioso quanto as canções de abertura pode até se decepcionar. Mesmo que flua em um ritmo crescente Hosanna In The Forest se mostra uma composição pacata (apesar de linda) e indisposta do mesmo ritmo efusivo que nos estimula ao abrir do trabalho. Porém depois da quase overdose sonora através de This Day Is A Loaf, Grow Up e But I Don’t Wanna Sing About Guitars nada melhor do que a calma e o relaxamento das canções finais para aos poucos retomarmos nosso próprio ritmo.

 

Best of Gloucester County (2011)

 

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Of Montreal, Sufjan Stevens e The Unicorns
Ouça: People’s Partay

Por: Cleber Facchi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.