Disco: “Between The Times & The Tides”, Lee Ranaldo

/ Por: Cleber Facchi 30/03/2012

Lee Ranaldo
Singer-Songwriter/Alternative/Rock
http://www.myspace.com/leeranaldo

Por: Cleber Facchi

Lee Ranaldo

Ao lado de Thurston Moore o norte-americano de New Jersey Lee Ranaldo é responsável pela educação musical de mais de uma geração de ouvintes relacionados ao rock alternativo. Guitarrista e por vezes vocalista da temporariamente extinta Sonic Youth, o músico construiu em mais de três décadas de atuação as bases para toda uma soma de artistas, indivíduos que assim como ele se revelam verdadeiros interessados na construção de composições ruidosas, riffs instáveis e verdadeiras exaltações ao Noise Rock. A boa atuação em grupo, entretanto, poucas vezes se repetiu em carreira solo, feito que o artista tenta superar com o lançamento de Between The Times & The Tides (2012, Matador).

Enquanto o parceiro Moore resolveu em 2011 aposentar temporariamente as guitarras para investir na construção do semi-acústico Demolished Thoughts, Ranaldo vai de encontro ao que vem desenvolvendo há 30 anos, valorizando o uso de boas distorções e a velha poeira sonora que se encontra em cada faixa construída por ele dentro do Sonic Youth. Contudo, longe de produzir um trabalho que soe como uma continuação do que vinha desenvolvendo em sua antiga banda, o músico parte em busca de versos melódicos e toda uma instrumentação que por vezes o aproximam de um resultado mais comercial e longe de qualquer tipo de experimentação.

Dentro dessa linha envolvente, as guitarras opcionalmente sujas de Ranaldo vão dando formas a um registro atraente e que dialoga facilmente com o público. Nada extenso, o trabalho realça um estranho sentimento que consumia boa parte dos trabalhos da década de 1990, com uma linha fina de melancolia amarrando cada uma das canções presentes – mesmo aquelas tocadas por uma forte onda esperançosa. Surgem assim faixas que acabam lembrando o que o Sugar (banda comandada pelo ex-Hüsker Dü Bob Mould) conseguiu alcançar dentro do clássico Copper Blue, trabalho que assim como o presente disco de Lee mescla agressividade instrumental com letras essencialmente melódicas.

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Talvez por conta do vasto catálogo de clássicos em que está envolvido – incluindo Daydream Nation (1988), Goo (1990) e Dirty (1992) -, ouvir Between The Times & The Tides acabe por evidenciar um artista simples e direto. Não espere encontrar os mesmos colossais ruídos que se materializam pelas mãos de Ranaldo quando este se apresentava ao lado do SY. Tudo dentro do álbum se organiza de maneira confortável, rápida e estranhamente convidativa. Por conta dessa estrutura breve e envolvente surgem faixas como Hammer Blows e Stranded, que denotam uma face quase folk do artista, dialogando de maneira coesa com aquilo que o parceiro Moore ou mesmo J Mascis desenvolveram em seus últimos discos.

A “calmaria” que preenche o registro, porém, não impossibilita que algumas cruas composições acabem se revelando com o passar da obra. Angles, segundo single do trabalho representa exatamente isso, uma composição tomada por versos ágeis e guitarras impregnadas pelas crueza, uma quase oposição do que Ranaldo alcança com a épica Xtina As I Knew Her, música que bebe do pós-punk renovado que preenche a discografia do Interpol, além de elementos típicos do rock norte-americano de final dos anos 70. Mais do que um reflexo da estrutura proposta pelo músico ao lado da antiga banda, o disco é uma porta de entrada para conhecermos um pouco do que influencia e engrandece as criações de Lee, que pinça referências particulares dos mais distintos cantos da música.

Talvez por conta dessa necessidade do artista em propor um trabalho inteiramente próximo a ele acabe fazendo com que Between The Times & The Tides, mesmo dotado de boas composições, soe menor o que poderia ser. A boa abertura dada ao disco em oposição ao fechamento razoável acaba culminando na realização de um projeto que se limita, como se Ranaldo passeasse pelo álbum todo com o freio de mão constantemente puxado, se policiando na tentativa de desenvolver um disco maior do que aqueles conquistados com o Sonic Youth. Todavia, quem souber como absorver os bons momentos do disco verá a expressão de um artista único, um poeta em aprendizado e um guitarrista em plena forma.

Between The Times & The Tides (2012, Matador)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Thurstone Moore, Sonic Youth e J Mascis
Ouça: Angles e Off The Wall

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.