Disco: “Bicicletas de Atalaia”, Bicicletas de Atalaia

/ Por: Cleber Facchi 19/09/2013

Bicicletas de Atalaia
Brazilian/Indie Rock/Alternative
https://www.facebook.com/bicicletasdeatalaia

Por: Cleber Facchi

Bicicletas de Atalaia

As letras que refletem um típico coração partido e a comunhão de elementos musicais, em nenhum momento distanciam o grupo Bicicletas de Atalaia daquilo que tantos artistas nacionais há tempo proclamam. Entretanto, ao substituir a velha carga de dramatizações, tão típicas pós-Los Hermanos, por uma avalanche de emanações melódicas e íntimas da música pop, o grupo paulistano encontra uma suave lacuna. Com ares de quem tenta parecer grande, mas ainda busca por verdadeira identidade, o quarteto faz do primeiro álbum um rascunho nítido, mas que esboça pequenas referências autênticas e, claro, canções que se aconchegam facilmente nos ouvidos.

Carregado do princípio ao fim por guitarras que crescem ensolaradas, mesmo nos momentos mais soturnos da obra, o debut de 11 faixas é tudo, menos um trabalho a ser ignorado. Da abertura mezzo entristecida, mezzo esperançosa de A Flor da Espera saem todas as marcas e direções que se conectam ao fim do álbum. Arranjos de metais, batidas bem pontuadas e essências temáticas que vão da década de 1960 ao britpop dos anos 1990 em um piscar de olhos. Minutos de audição confortável e músicas que olham para o passado, mas sabem exatamente para onde apontar.

Seguindo as pistas de outros grupos nacionais, como Nevilton e Garotas Suecas, bandas que entendem, brincam e provocam o pop-rock, o quarteto alimentado por Bruno (Voz e Violão) e Leo Mattos (Bateria), Augusto Passos (Baixo) e Kaneo Ramos (Guitarra) faz da relação com as boas harmonias de vozes, um salto natural para a construção assertiva de cada música. Entre composições de simplicidade exposta (Ela Traz) e faixas adornadas pela variação de ritmos (O verão e o Absurdo), caminhar pelo autointitulado debut é ser constantemente surpreendido. Ainda que a atmosfera inicial dite o contrário, a delicada estreia passa longe de se sustentar como um registro comum.

Entre as manifestações que ultrapassam o limite do tradicional, está a relação acertada do grupo com o samba e, principalmente, a bossa nova. Na contramão do que tantos outros artistas nacionais há tempos manifestam com exagero nítido, repetindo a estética de Tom Jobim de forma pseudo-intelectual, a banda paulistana incorpora com leveza e faixas intencionalmente abrandadas. Basta apontar para O Menino e o Anzol, Talking About Love ou qualquer outra música no decorrer da obra que possibilite ao disco o cruzamento entre gêneros, princípio para o que, curiosamente, soa como novidade nas mãos da banda.

Entretanto, mesmo a relação estável com veteranos da música nacional está longe superar a capacidade da banda em arquitetar boas composições radiofônicas, pop. Sem qualquer dificuldade, O Verão e O Absurdo e Probabilidade ocupam um lugar de destaque na obra, ministrando vozes e versos em um teor de plena aproximação amigável entre os elementos. Até quando o grupo arrisca nos versos em inglês – Talking About Love e Alcoholic Dreams – o exagero é inexistente, amenizando as interferências musicais com todo o restante da obra.

Valorizando uma série de elementos que remetem ao trabalho da Apanhador Só, no primeiro álbum, ou mesmo de bandas já extintas, caso de Parafusa e outros grupos que ficaram para trás no meio da década passada, o debut da Bicicleta de Atalaias é uma obra que reflete com beleza as emoções de cada integrante. É difícil não se identificar com o romantismo confesso em Probabilidade ou o pós-relacionamento escancarado em Diga-lhe que mando a Meia, canções capazes de abrigar o trabalho em um ambiente que vai da desolação ao efeito simples do amor. Sim, algumas músicas ainda pecam pela simplicidade ou o excesso de autocontrole, mas para quem já soube como driblar as rimas fáceis e traz nos sons harmonias realmente próprias, o caminho pavimentado para o grupo já é seguro, basta apenas pedalar.

 

Bicicletas de Atalaia

Bicicletas de Atalaia (2013, Independente)

Nota: 7.3
Para quem gosta de: Apanhador Só, Nevilton e Bazar Pamplona
Ouça: Probabilidade, O Menino e o Anzol e A Flor da Espera

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.