Disco: “Big Black Coat”, Junior Boys

/ Por: Cleber Facchi 18/02/2016

Junior Boys
Electronic/Dance/Alternative
www.juniorboys.ca

 

Desde o primeiro registro de inéditas do Junior Boys, o (hoje) clássico Last Exit (2004), os parceiros Jeremy Greenspan e Matt Didemus decidiram investir em uma sonoridade pouco usual dentro da cena eletrônica. Uma curiosa desconstrução de diferentes fontes como House, Electropop e R&B, ponto de partida para uma seleção de obras bem-sucedidas – como So This Is Goodbye (2006) – e o combustível para o recém-lançado Big Black Coat (2016, City Slang), quinto álbum de estúdio do duo canadense.

Construído em cima de texturas, ruídos, batidas e vozes eletrônicas que se encaixam como um quebra-cabeças, Big Black Coat distancia completamente o ouvinte do mesmo som dançante testado pela dupla no antecessor It’s All True, de 2011. Trata-se de um delicado exercício de experimentação, conceito explícito logo na inaugural You Say That, uma verdadeira coleção de beats tortos, versos declamados e detalhes que se sobrepõem de forma a criar um imenso cenário de possibilidades.

De fato, a real beleza de Big Black Coat parece correr ao fundo da obra. São guitarras funkeadas em Baby Give Up on It, fragmentos de vozes e sintetizadores em And It’s Forever, ruídos atmosféricos em Love Is a Fire – música que parece ter saído de algum trabalho de Arthur Russell no começo dos anos 1980. A própria What You Won’t Do for Love, uma das principais canções do trabalho, parece ocultar uma sequência de pinceladas eletrônicas em cada fragmento de voz.

É necessário tempo até absorver o trabalho da dupla em essência. Livre de atalhos ou caminhos óbvios, cada canção oculta um universo de detalhes e “segredos”. Em Over It, por exemplo, enquanto a dupla cria um “remix em marcha lenta” do trabalho de Justin Timberlake em FutureSex/LoveSounds (2006), uma chuva fina de sintetizadores cresce paralelamente, flertando com a ambient music de Brian Eno e até com melodias típicas de Aphex Twin.

A mesma sensação de que Big Black Coat parece pensado como um álbum de “remixes” surge durante a construção da melancólica Baby Don’t Hurt Me. É como se What Is Love?, “clássico” do cantor Haddaway, e toda a avalanche de hits da Eurodance nos anos 1990 reduzissem a velocidade durante alguns segundos, sustentando no refrão cíclico da faixa – “Baby Don’t Hurt Me / No More” -, uma espécie de refúgio criativo (e sentimental) no interior da presente obra.

Primeiro registro de inéditas após um longo período de hiato, Big Black Coat carrega um pouco da sonoridade produzida em cada um dos projetos paralelos assumidos pela dupla. Trabalhos assinados em parceria com artistas como Jessy Lanza e Caribou – com quem Jeremy Greenspan colaborou nos últimos anos – e que parecem completar as pequenas lacunas propositadamente criadas ao longo do disco.

Big Black Coat (2016, City Slang)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Caribou, Jessy Lanza e Hot Chip
Ouça: Over It, Big Black Coat e Love Is a Fire

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.