Disco: “Big Wheel and Others”, Cass McCombs

/ Por: Cleber Facchi 13/11/2013

Cass McCombs
Indie/Singer-Songwriter/Folk
http://cassmccombs.com/

Cass McCombs

Cass McCombs pode até mudar de rumo e buscar por novos caminhos, mas o sofrimento sempre será uma constante na obra do cantor e compositor norte-americano. Do rústico debut, lançado há uma década, passando por obras essenciais, caso de Catacombs (2009) e Wit’s End (2011), cada registro assinado pelo artista original de Concord, California encontra na assumida amargura um inevitável sustento. São faixas que se esquivam da vergonha do abandono, assumem a solidão e discutem a angústia em um detalhamento raro, algo que Big Wheel and Others (2013, Domino), novo projeto do cantor, revela em um estágio aprimorado desse mesmo resultado.

Obra mais extensa já lançada pelo artista até o presente momento, o registro (duplo) concentra em 22 composições uma passagem direta para o mesmo cenário projetado há uma década pelo cantor. É como se todas as sensações, lamentos e o desespero anunciado previamente fosse encarado em um ponto de maior compreensão. Em diversos momentos a figura já madura de McCombs parece dialogar diretamente com a versão jovem de si próprio. Uma tentativa visível em garantir o tão almejado conforto sentimental.

Com uma liberdade instrumental maior do que a testada no sombrio Wit’s End, o novo disco mergulha no Folk, assume instantes de aproximação com o grande público e até ensaia boas melodias em um estágio constante de leveza. Dessa forma, mesmo quando soa melancólico, caso de There Can Be Only One, o álbum jamais se deixa consumir pelo mesmo desespero estafante de outrora. É explícita a percepção de que McCombs assume o domínio sobre o próprio sentimento, como se todas as faixas fossem tratadas em um estágio de ruptura ao cenário denso de antes. “Quem é dono do meu coração?”, pela primeira vez, cabe ao próprio autor essa resposta.

Ainda que desprovido do senso de ineditismo que detalhou os trabalhos passados, Big Wheel and Others em nenhum momento perde a beleza que há tempos circula pela obra de McCombs. Seja ao visitar a década de 1970 na country Morning Star, ou brincando com as guitarras na intensa Satan Is My Toy, cada música do registro assume o domínio de seu criador, fragmentado em diferentes propostas e distintas representações dos tormentos que pairam pela mente do artista. Talvez pelo manuseio das vozes ou a forma como os temas são aproveitados, não são poucos os momentos em que a relação com Kurt Vile em Wakin On A Pretty Daze (2013) se faz presente. Entretanto, enquanto o conterrâneo passeia por um cenário bucólico, Cass mantém firme o teor urbano do trabalho.

Esse detalhamento acinzentado dos sons e versos assumem o ponto de maior novidade da obra. Longe da atmosfera alcoólica e dos passeios por diferentes cenários nos discos passados, McCombs fixa a morada em um ponto específico, encontrando no centro urbano nas pessoas próximas um mecanismo de complemento e dinamismo para o trabalho. Esse resultado se faz bastante visível na construção de Brighter. Parceria com a cantora/atriz Karen Black – morta no começo de agosto, vítima de câncer -, a canção, assumida pelos vocais da convidada em sua segunda versão, reforça a capacidade do músico em se relacionar com o ouvinte, desenvolvendo peças melancólicas que representam toda a solidão de qualquer indivíduo.

Dividido em dois atos distintos – separado por trechos do documentário Sean, de 1969 -, Big Wheel and Others, mais do que assumir as angústias de McCombs, talvez seja a obra mais aberta do músico e próxima de outros personagens. Ainda que cada composição seja uma representação particular do cantor, a sensação é a de que Cass pela primeira vez tenta se encontrar nas outras pessoas, resgatando histórias que são tão dele, quanto de qualquer outro indivíduo. Com base nessa estratégia, há uma exigência natural de tempo para entender o propósito do disco, como se o ouvinte tivesse de voltar diversas vezes, até encontrar a si próprio no catálogo de representações do cantor.

Cass McCombs

Big Wheel and Others (2013, Domino)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Kurt Vile, Daughn Gibson e Bill Callahan
Ouça: There Can Be Only One, Brighter e The Burning of the Temple, 2012

[soundcloud url=”https://api.soundcloud.com/tracks/106516660″ width=”100%” height=”166″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.