Disco: “Bikinis”, Bikinis

/ Por: Cleber Facchi 11/10/2013

Bikinis
Indie/Garage Rock/Lo-Fi
http://bikinis.bandcamp.com/

Por: Cleber Facchi

Bikinis

Brasília não tem mar, mal conta com um lago artificial, mas ainda assim conseguiu transportar a dupla A. Brandt e Victor Y. do Bikinis para um cenário de detalhamentos litorâneos. Essencialmente conduzido por uma sonoridade preguiçosa de fim de tarde, o autointitulado debut é a passagem direta para que um jogo de guitarras velozes que destilem canções típicas de pós-adolescentes à beira mar. Construído em cima de ruídos que vão do Dream Pop ao Garage Rock  que movimenta as praias californianas, o álbum é um catálogo de canções raras, faixas que alternam entre vocais ásperos e delicadas melodias de (des)amor.

Tropical, o álbum de 12 rápidas canções parece ter saído de alguma fita VHS gravada no verão de 1990. São acordes simples, versos melódicos e um jogo de interferências típicas da cena estadunidense, mas que surgem com certo efeito de novidade nas mãos da dupla brasileira. Na mesma linha do que Wavves, Best Coast e Surfer Blood vinham desenvolvendo nos primeiros discos – quando ainda eram “Lo-Fi” -, o álbum ameniza vocais fragmentados em um cenário que vai da celebração à melancolia. Como se por trás das guitarras ensurdecedoras da obra, o duo buscasse revelar os próprios segredos.

Sem pressa, cada instante do trabalho organiza as canções individualmente. O exercício autoriza à dupla, principalmente ao guitarrista Victor Y., a testar gêneros e emular experiências. Assim como a curta faixa de abertura logo revela, a aproximação com o Dream Pop talvez seja o principal componente da obra, entretanto, não espere pela mesma suavidade que deu vida ao gênero em meados dos anos 1980. Como as vozes e arranjos de Pablo, faixa seguinte, bem revelam, o teor acelerado das canções distanciam o duo de qualquer cenário possivelmente etéreo ou arrastado. A estreia do Bikinis se apresenta de frente pro mar, e mesmo que algumas canções revelem um tratamento melancólico, o fluxo ensolarado ainda é a principal base da dupla.

bikinis

Com duas frentes distintas de canções, o álbum vai da agitação ao cenário introspectivo em questão de instantes. Enquanto músicas como Trapping Heat e Pack Leader Cont. reforçam a capacidade dos músicos em produzir versos de apelo intimista, apostando inclusive em um resultado próximo do experimental, outras como Redness demonstram a capacidade da dupla e manejar canções de fluidez pop, principalmente na forma como os versos chegam até o espectador. Dentro desse jogo de contrastes, a dupla passeia sem medo pelo Shoegaze, esbarra em aspectos do rock clássico e até flerta com a psicodelia em um manuseio sujo dos instrumentos.

Embora “rústico”, o álbum está longe de se manifestar como uma obra ausente de detalhes. Talvez o melhor exemplo de toda essa proposta da dupla esteja na construção de Reverb. Inicialmente ponderada, a canção passeia por sintetizadores, entrega guitarras de fluxo brando e até vozes flutuantes que caem no Dream Pop. Apenas um aquecimento. Em poucos instantes a melancolia dá lugar à exaltação, com batidas e acordes esbarrando em um ondulado totalmente instável. O mesmo efeito se instala na produção de Resolutions, música que dança suave ao som de um ukelele, rompendo completamente com a estética crua do restante da obra.

Desenvolvido dentro de um território desvendado em totalidade apenas pela dupla – quem sabe o “Litoral de Brasília” -, cada faixa que habita o trabalho flutua no tempo em uma medida que nunca escapa da aproximação. Ainda que algumas músicas se esparramem no final dos anos 1960, outras se revelam como típicos exemplares do rock alternativo dos anos 1990, fazendo crescer um espaço criativo que se estende até o presente. É justamente dentro desse jogo de recortes que parece fluir a obra do Bikinis, um trabalho que até esbarra em clássicos antigos e recentes, mas nunca perdem o tratamento de originalidade que a dupla firma de maneira ensolarada até os instantes finais do álbum.

 

Bikinis

Bikinis (2013, Independente)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Subburbia, Wavves e Bast Coast
Ouça: Reverb, Redness e Trapping Heat

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.