Disco: “Birth of An Icon”, Riff Raff

/ Por: Cleber Facchi 05/09/2012

Riff Raff
Rap/Hip-Hop/Electronic
https://www.facebook.com/pages/Riff-Raff/66311048241

Por: Gabriel Picanço

O corpo cheio de tatuagens bizarras (incluindo uma logo da MTV no pescoço), as roupas extravagantes, os acessórios incomuns (como um pingente com brilhantes no formato de um copo de milk-shake), os penteados únicos e um par de lentes de contato são algumas de suas marcas registradas. Soulja Boy e Andy Milonakis estão entre os seus colaboradores no mundo do Rap. Além disso, ele é ex-participante de um reality show B da MTV. E é, finalmente, o mais novo contratado do selo Mad Decent. Jody Christian, ou Riff Raff, nasceu pronto para ser odiado, ainda que essa não seja a sua intenção principal. Mas Riff Raff não se importa, ele não está nem aí pra nada. Exagerado até as ultimas consequências, O rapper hedonista deixa claro na sua estreia pelo selo do Inglês Diplo que as únicas coisa lhe interessam são a fama e o dinheiro.

O seu visual bizarro e sua postura polêmica parecem ter dado muito certo, uma vez que o contrato com a Diplo já rendeu alguns milhões para o rapper. Com muita rapidez, ele vem conquistando uma legião de fãs que o consideram o novo Deus do rap (tomara que seja só ironia) e já se instala de vez na cultura pop. Sua grande conquista fora da música, até agora, foi ter servido de inspiração para o personagem vivido por James Franco no novo filme do diretor indie-experimental Harmony Korine, Spring Breakers, estrelado por Selena Gomez e com trilha de Skrillex (É sério!). A verdade é que Riff Raff é um personagem instigante e que desperta, antes de qualquer sentimento de repulsa ou identificação, curiosidade. Como deve ser a vida desse cara? Quais são seus filmes favoritos? Qual o último livro que ele leu? Quem fez aquele desenho invocadíssimo em sua barba? E principalmente: Por que a sua música é tão ruim?

Em Birth of An Icon, a sua performance se resume a um freestyle fora de controle. Sua voz nasalada e o sotaque texano, com uma pronúncia bastante atrapalhada pela grande quantidade de ouro em seus dentes, lembram um idoso com uma dentadura frouxa, ou uma pessoa com pouquíssimos dentes na boca. As suas letras são um show a parte. Não que elas não façam sentido, pois vão bem além disso: elas são um fluxo direto do que se passa na mente de Riff Raff. E isso está além de qualquer interpretação.

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A mixtape é aberta com uma tentativa de dubstep romântico, Jody Highroller com a base fornecida pelo respeitado produtor britânico Caspa. Acompanhado da batida quebrada, graves e sintetizadores característicos, Riff Raff, ao invés de rimar, canta com uma quantidade ridícula de Auto-tune na voz. Bem-vindo ao mundo de Riff Raff. A abertura excêntrica se difere um pouco do que o álbum apresenta no geral: variações mínimas de uma fórmula fraquíssima, mesmo com a presença de alguns produtores importantes, como Flux Pavillion, DJA Allen, Davoodi (em um remix de Original Don do Major Lazer) e o já citado Caspa. A maioria das faixas apresentam produções preguiçosas e repetitivas que reúnem todos clichês e as formulas batidas do hip hop radiofônico atual. No eletro-rap Rap Game Tut, ele faz nos faz sentir saudades do LFMAO. E Riff Raff aparentemente usa a mesmíssima métrica em quase todas as músicas de Birth of An Icon, sempre com o flow demente e repetitivo e rimas sem sentido. Ele canta sobre carros, mulheres, festas, dinheiro (é claro) e sobre seus vários celulares (pelo visto, ele tem um Blackbarry, um iPhone e um Motorola com tela sensível ao toque).

O álbum tem muitas músicas (25) que não se ligam da melhor maneira e provocam cansaço. Além disso, por algum motivo inexplicável, nem todas as faixas trazem Riff Raff como artista principal. Essas músicas desencontradas, servem pelo menos para não deixar que o álbum caia na mesmice e chamam a atenção, ainda que via estranhamento. Como no Freestyle totalmente sem sentido e direção jogado de forma aleatória sobre e chapada e colorida faixa Pure Space, do Unicorn Kid. Imagine Riff Raff montado sobre um unicornio voador, passeando sobre um arco iris. Bad Trip. Bird On a Wire, de Action Bronson, é umas das poucas faixas em que, se ouvida isoladamente, Riff Raff pode parecer de um rapper comum. Bastante inspirado, ele dispara uma dúzia de versos e vai embora a tempo de não comprometer a música. Cuz My Gear, mesmo tendo Chief Keef como artista principal, é uma das poucas faixas simpatizáveis da mixtape.

A última faixa, Time, é outro momento interessante de Birth of a Icon. E não é somente porque ela significa que o álbum está chegando ao fim. Experimentando uma base diferente, levada por um violão de nilon, baixo e certa influência surfista, Raff pisa no freio e compartilha suas sábias reflexões sobre a liquidez do tempo e a velociade vertiginosa do cotidiano. “Time goes by / It goes on / and it dont stop”, canta no refrão. Ao fim do disco, surgem mais questões sobre Riff Raff. Seria tudo uma brincadeira e o rapper um personagem ficitício? Apenas uma trollagem de alguém que tenha muito bom humor, algum dinheiro sobrando e contatos no mundo da música? A verdade é que Riff Raff, sendo ou não uma piada, realizou em Birth of a Icon um trabalho com méritos que ninguem pode tirar. Do ínicio ao fim, foi fiel àquilo que não faz questão nehuma de esconder ou amenizar: ele mesmo.

Birth of An Icon (2012, Mad Decent)

Nota: 4.0
Para quem gosta de: Diplo, Action Bronson e Chief Keef
Ouça: Bird On a Wire

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.