Disco: “Black Grass”, Little Wings

/ Por: Cleber Facchi 20/02/2011

Little Wings
Lo-Fi/Indie/Folk
http://www.myspace.com/littlewings2

Alguns discos acabam chegando como pequenas surpresas involuntárias em nosso dia-a-dia, álbuns que você acaba baixando meio sem perspectiva, por alguma indicação que você não bota credibilidade, mas que ao acaso acabam impressionando. Black Grass (2011) o novo trabalho de estúdio do cantor e compositor Kyle Field através do seu projeto com o Little Wings é um desses discos. Basta uma audição para que logo você se sinta compelido a procurar por tudo que já foi feito por ele, questiona se a mesma textura lo-fi percorre as faixas dos trabalhos anteriores e vira um fã nato quase que imediatamente.

E não é pra menos. Basta aquela voz similar a de cantores de música country ecoando em seus ouvidos através de Gold Teth, para você já acabar encantado. Com um estilo vocálico que fica entre Matt Berninger do The National e Jeff Bridges (!) em Coração Solitário (é sério, parece muito), Field abre seu novo trabalho apoiando-se em uma composição semi-acústica e marcada por camadas quase ruidosas de gravações. É quase como um Wilco sem grandes solos ou como um Band Of Horses do álbum Infinite Arms (2010) em uma escala menos jovial. Algo simples, mas que por conta da sinceridade expressa tanto da voz quanto da letra da canção acaba de alguma forma tocando o ouvinte sem muito esforço.

Com o auxílio de um piano, uma bateria apoiada quase inteiramente nos pratos e num profundo toque melancólico How Come chega de maneira séria e emocional. O apoio de um backing vocal obscuro também entra como complemento à faixa que acaba quase se convertendo em uma milonga por conta do formato dos acordes. Menos melancólica e mais rodeada de instrumentos Mr. Natural entrega o lado mais romântico do disco, novamente o apoio de vocais acompanhando a voz de Field entrega um sentimento confessional e verdadeiro através da canção.

Quem se sentir incomodado com a gravação lo-fi dada às composições talvez devesse escutar os antigos discos do músico. Discover Worlds Of Wonder o álbum de estreia do cantor lançado em 1999, por exemplo, entrega o trabalho de maneira bem precária e suja.

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Tudo bem que a aura comportada do trabalho e o jeitão caseiro mostravam o Little Wings de um modo mais natural, a coisa do “Singer-songwriter”. Porém, quando rodeado de instrumentos e novas possibilidades de som o músico é tão bom quanto seus anteriores trabalhos, algo que se evidencia com I Grow Too em que mais uma vez os pianos e a instrumentação plural solidificam a sonoridade do álbum.

Kyle Field é antes de tudo um romântico, um cara que sofre por amor e assume isso com total naturalidade. Embora a sonoridade e os vocais evidenciem um homem maduro, as letras e a emoção incontida do músico demonstram um lado sofredor que poderia ser encontrado nas expressões de um jovem. Em Coming Fall ou na curtíssima Stay Joking o músico se prende em confissões sinceras e lamuriosas, o ritmo abafado e contido apenas contribui para o engrandecimento das faixas. Por mais que as composições encantem, não há segredos dentro de Black Grass. São acordes simples, batidas pacatas e uma fluência natural que se amplia através da voz e dos apelos reais do músico.

Embora a estrutura sonora e o ritmo das canções se alterem pouco no decorrer do trabalho, cada faixa surge como se fosse inédita e inovadora. Talvez Fall Skull com suas programações de guitarra e dona de um caráter mais experimental acabe se distanciando minimamente do restante do álbum. Nada que Little Bit não possa puxar de volta para o ritmo original que comando o disco. Falando nessa faixa, a dica é para que aqueles que se encontrem em um estágio de “fossa” evitem ao máximo uma aproximação com ela. É quase possível ver Kyle Field chorando ao entoar seus versos emocionados da canção, contando apenas com um violão para dar força à ela.

Menos compostas que as faixas iniciais Can I Knock On This Door? e Black Grass (a canção, não o disco) trazem o músico em um estado mais folk e simplista. Nada de ruídos ocasionais, apenas um estado mais relaxado e ainda assim sincero como nas demais criações do álbum. Tal qual Caminando Y Cantando, o novo disco de Wander Wildner esse recente trabalho do Little Wings é uma pérola triste da música folk que talvez só seja compatível com quem já vivenciou esse tipo de sentimento. Um trabalho sincero, triste e belo.

Black Grass (2011)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: The Microphones, Jeff Bridges e The National
Ouça: Little Bit

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Por: Cleber Facchi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.