Disco: “Black Hours”, Hamilton Leithauser

/ Por: Cleber Facchi 10/06/2014

Hamilton Leithauser
Indie Rock/Alternative/Singer-Songwriter
http://hamiltonleithauser.com/

Por: Cleber Facchi

Lindão!

A mudança de direção assumida em Heaven (2012), último trabalho em estúdio do grupo nova-iorquino The Walkmen, parece guiar a atuação do (ex-)vocalista Hamilton Leithauser em fase solo. Apostando em uma sonoridade menos soturna do que a lançada pelo grupo no debut Everyone Who Pretended to Like Me Is Gone, em 2002, o cantor usa do versátil Black Hours (2014, Ribbon Music) como uma ferramenta de expansão da própria herança. Sim, a relação com a antiga banda do músico é evidente, porém, os rumos agora assumidos são outros.

Apresentado há poucos meses durante o lançamento da intensa Alexandra, primeiro single do álbum, Black Hours é uma obra que usa de antigas interpretações do pop – nos anos 1960 ou na cena independente no começo dos anos 2000 – como uma ferramenta de estímulo. Enquanto ao lado dos antigos parceiros de banda a seriedade parecia guiar a voz e os temas cantados por Leithauser, hoje o resultado é diferente. “Tolo” em alguns aspectos, o debut do norte-americano é uma obra que sobrevive de emoções e temas simples, acertando justamente por conta dessa ferramenta de pura leveza.

Como um catálogo específico de pequenas possibilidades, o presente álbum é uma obra que se concentra na produção de faixas avulsas, como um típico cardápio pop. Enquanto músicas como 5AM e Self Pity revelam o lado mais sofredor do músico, outras como 11 O’Clock Friday Night e sua percussão festiva revelam um resultado opositivo, de pura celebração. Há também espaço para o Country Rock melodramático (I Retired) e até faixas que resgatam a essência confessional do The Walkmen (I Don’t Need Anyona), reforçando a completa versatilidade do registro.

Longe de assumir com individualmente todo o mérito em torno da formação do álbum, Leithauser encontra na aproximação com outros artistas da cena alternativa atual um evidente reforço. Além de Paul Maroon, velho parceiro do The Walkmen, Amber Coffman do Dirty Projectors e Richard Swift do The Shins aparecem pelo disco. Entretanto, é de Rostam Batmanglij parte substancial do acerto que guia a obra. Um dos produtores do disco, o multi-instrumentista do Vampire Weekend usa de Black Hours como uma obra para testar melodias, desenvolvendo desde bases comerciais (Alexandra), até arranjos que abraçam com leveza o experimento (Bless Your Heart).

A relação de Leithauser com outros nomes da música não está apenas na gravação do disco, mas em sua essência. Em entrevistas, o cantor não cansa de assumir a influência de veteranos como Frank Sinatra e Randy Newman durante a formação do disco. Mesmo Batmanglij aproveita do álbum para espalhar uma série de referências ao trabalho de Paul Simon, influência confessa do produtor.

Conduzido do princípio ao fim como uma obra que se distancia de argumentos complexos, Black Hours não oculta a inteligência dos arranjos e temas que florescem lentamente. Melhor exemplo disso está na pluralidade de Bless Your Heart, faixa que condensa batuques, distorções semi-psicodélicas e toda uma colorida base instrumental em sua construção. Mesmo o hit Alexandra ou a faixa seguinte, 11 O’Clock Friday Night, estão longe de se comportar como canções melódicas convencionais, reforçando o brilho raro que se esconde na simplicidade do trabalho. De fato, Hamilton Leithauser começou bem a nova fase.

 

Black Hours (2014, Ribbon Music)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: The Walkmen, Vampire Weekend e The Shins
Ouça: 11 O’Clock Friday Night, Bless Your Heart e Alexandra

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.