Disco: “Black Is Beautiful”, Dean Blunt and Inga Copeland

/ Por: Cleber Facchi 18/04/2012

Dean Blunt and Inga Copeland
Experimental/Lo-Fi/Electronic
http://www.hyperdub.net/

Por: Cleber Facchi

Existe apenas uma única regra direcionada ao trabalho da dupla formada por Dean Blunt e Inga Copeland: experimentar. Partindo desse princípio, o duo conseguiu ao longo do último ano estabelecer algumas raras, porém, expressivas estratégias musicais, transformando o primeiro álbum à frente do Hype Williams – o chapado One Nation – em uma espécie de projeto piloto para o que viria a ser desenvolvido logo no ano seguinte. Agora, distantes do amadorismo de outrora, a dupla (assumindo os próprios nomes) faz nascer um disco ainda mais complexo e inteligentemente hipnótico, mostrando que o mar de experimentações descoberto no registro anterior ainda não chegou ao fim.

Espécie de contraponto europeu ao que o casal californiano Peaking Lights realizou com o álbum 936 no último ano, Black Is Beautiful (2012, Hyperdub) proclama a criação de um verdadeiro labirinto de sensações e influências, agrupando dub, psicodelia, dubstep, hip-hop e todo uma coletânea de sons e experiências organizadas com uma capa Lo-Fi e flutuante. Mesmo disperso conceitualmente, o disco mantém uma linearidade e um padrão constante entre as faixas, impedindo que o álbum se aproxime dos excessos de caminhos percorridos com o último disco, quando a dupla ainda parecia buscar por uma linguagem particular.

Com exceção da primeira faixa, nenhuma das demais composições conta com algum título em específico. Assim, o duo organiza as músicas dentro de uma ordem numérica crescente, o que acaba contribuindo para o caráter de unidade e natural ordem dentro do álbum, como se todas as faixas fossem na verdade frações de uma imensa canção. A necessidade de ouvir o trabalho como um todo e não em partes também estava presente dentro do anterior disco montado pela dupla, porém, a mesma estratégia se estabelece de forma resolvida dentro do novo registro, que agora ganha ares conceituais e uma frequência musical que parece costurar cada uma das canções.

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Black Is Beautiful não é o tipo de trabalho capaz de prender o ouvinte em uma primeira ou rápida audição. Os contornos instrumentais nada óbvios produzidos por Blunt – que assim como Inga segue uma carreira particular fora deste projeto – levam certo tempo até se acomodarem nos tímpanos do espectador comum, que pode encontrar dificuldades ao se acostumar com os ruídos nada acessíveis ou emanações místicas do duo. Mesmo próximos daquilo que o casal Aaron Coyes e Indra Dunis promoveram com o Peaking Lights, a massa sonora que acompanha os europeus foca em um resultado mais urbano e menos neo-hippie, sendo a chave para entender grande parte do que movimenta o disco.

De maneira ampla o álbum estimula uma estranha sensação de pós-festa e leve depressão, como se Blunt e Copeland construíssem ao longo do registro um ambiente inebriante, ora se encontrando com os blocos de sons densos produzidos por Andy Sttot, ora se acomodando em sequências intimistas e levemente coloridas que até lembram um High Places remodelado. Tomado por vinhetas e rápidas composições, o álbum alcança o ápice justamente quando aposta no oposto, em músicas mais extensas, faixas aos moldes da gigante 10, com mais de nove minutos de duração, e 9, que mantém na extensão e na bem resolvida estrutura uma forte aproximação com o Ariel Pink dos primeiros discos.

Espécie de hipnose por encomenda, o registro não perde em nenhum momento a oportunidade de imprimir no ouvinte um delicioso transe musical. As batidas não lineares e vocais picotados (repletos de efeitos e eco) circundam de maneira suave o espectador, que mesmo incomodado com o estranho resultado proposto pelo casal se sente obrigado a mergulhar cada vez mais no peculiar ambiente do disco. Múltiplo, o álbum alterna suas formas como uma amena nuvem de fumaça, soando como um tratado diferente a cada novo ponto do vista ou em cada nova audição.

Black Is Beautiful(2012, Hyperdub)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Peaking Lights, Hype Williams e Sun Araw
Ouça: 10, 2 e 9

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.