Disco: “Bloody, Fuzzy, Cozy”, The Sorry Shop

/ Por: Cleber Facchi 29/03/2012

The Sorry Shop
Brazilian/Shoegaze/Alternative Rock
http://www.facebook.com/sorryshop

Por: Cleber Facchi

O The Sorry Shop, assim como boa parte das grandes bandas independentes, surgiu do esforço e da entrega total de um único indivíduo para sua realização, nesse caso o gaúcho Régis Garcia. Profundo conhecedor dos ensinamentos repassados por grandes mestres da guitarra como J Mascis e Kevin Shields, o músico foi ao longo do último ano construindo todo um imenso conjunto de paredões sólidos de distorção, microfonias e ruídos, indo da inofensiva Not The One, lançada em julho do ano passado, para o conjunto de 15 músicas reveladas ao longo do sujo e nostálgico Bloody, Fuzzy, Cozy (2012, Independente).

Visivelmente inserido na nova onda de representantes do Shoegaze nacional – que apenas em solo gaúcho conta com representantes Loomer, Medialunas, Badhoneys e Lautmuzik -, o músico transforma o primeiro grande álbum da carreira em um registro tomado pela crueza e a constante valorização do que fora proposto há duas décadas em solo inglês ou mesmo em focos da cultura alternativa norte-americana. Caseiro, o registro absorve a lógica do D.I.Y. de maneira particular, com Garcia utilizando das captações toscas da gravação a seu favor, convertendo cada ruído natural em um “instrumento” certeiro para as sujas canções do disco.

Assim como aconteceu com o primeiro álbum do Yuck no ano passado, Bloody, Fuzzy, Cozy – o título é excelente – não parece orientado a absorver um único período musical ou vertente instrumental única, afinal, cada uma das composições abordadas se propõem a estudar (de maneira aplicada) distintas frentes sonoras. Enquanto Gone Again é um fino exemplo da herança deixada pelo Dinosaur Jr nos clássicos da banda lançados nos anos 80, About Kings and Queens I vai de encontro ao que o Nirvana desenvolveu no álbum Bleach, somando guitarras raivosas e vocais intensos. Até sobra espaço para que o Pós-Punk de A Distant Song possa se anunciar, tornando o disco um colosso de nuances musicais acinzentadas.

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Consumido pela dureza e organizado de forma a fritar os tímpanos do ouvinte em grande parte do tempo, ao longo do álbum são diversos os momentos em que o registro abandona o tom agressivo para mergulhar em momentos de pura calmaria e dor. Embora canções como Go On e Stranged Again assumam essa particularidade do disco com esforço, é na execução da música título que a tristeza se abate sobre a obra. Com uma letra chorosa e vocais divididos entre Régis e a namorada Mônica Reguffe, o The Sorry Shop alcança seu melhor desempenho, provando tanto do que Kevin Shields lançou há duas décadas no clássico Loveless, como o que os nova-iorquinos do The Pains Of Being Pure At Heart evidenciaram recentemente.

Se há algum defeito dentro do disco ele se encontra no excesso de composições. Com um total te 15 faixas, o gaúcho deveria encerrar o trabalho ao som da épica (e perfeita) Glass Jar, música instrumental que garante o fechamento exato ao disco e que praticamente torna obsoletas as quatro faixas restantes do lançamento. A partir de The Highway é como se o músico abrisse um novo trabalho, repassando a constante noção de que as últimas músicas – tão boas quanto as demais faixas do disco – fossem melhor aproveitadas em um futuro álbum ou mesmo um certeiro EP.

Mesmo com alguns excessos, algo mais do que natural em um trabalho iniciante, Bloody, Fuzzy, Cozy encanta pelo aspecto caseiro que domina seu interior, com o músico lançando um álbum que é praticamente capaz de conversar com o ouvinte. O uso de letras com foco no cotidiano do artista, bem como a construção hipnótica da instrumentação que absorve as faixas faz com que o registro agrade em inúmeros aspectos, com cada canção orientada a dialogar com um público diferente. Ao fim, o trabalho se revela como uma imensa coletânea não intencional de tudo que foi construído ao longo das últimas três décadas de expansão do rock alternativo, sendo Garcia o grande curador desse intenso condensado.

Bloody, Fuzzy, Cozy (2012, Independente)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Loomer, This Lonely Crowd e Badhoneys
Ouça: Bloody, Fuzzy, Cozy e About Kings and Queens I

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.