Disco: “Bloodsports”, Suede

/ Por: Cleber Facchi 02/04/2013

Suede
British/Alternative/Rock
http://www.suede.co.uk/

 

Por: Bruno Leonel

Suede

Em 1989, uma edição publicada do semanário britânico New Musical Express (NME) trazia o anúncio de uma então iniciante banda que procurava um guitarrista. O texto que apontava referências como Smiths e Commotions trazia um aviso aos candidatos: “Algumas coisas são mais importantes do que habilidade”. Em pouco tempo o anúncio seria respondido pelo músico Bernard Butler. Surgia ali o começo da formação do Suede, ainda uma jovem banda procurando por direção. Tempo depois, o grupo procurou também por um baterista e um dos candidatos que apareceu, para a surpresa de todos foi Mike Joyce (ex-baterista dos Smiths) que recusou o trabalho. Achava que fazer parte de uma banda que já tinha seu antigo grupo como referência não seria bom, fazendo mais mal do que bem para o projeto que tentava estabelecer uma identidade.

De fato, buscar identidade é algo que marcou toda a carreira do grupo inglês. Embora tenham um conjunto respeitável de discos e canções, os trabalhos da banda sempre soaram irregulares em relação uns aos outros, o que muitas vezes impediu a banda de estabelecer um padrão coeso de sonoridade. Enquanto o primeiro álbum é um disco mais rock, Dog Man Star (1994) mostrava uma faceta da banda mais obscura e de sonoridades sofisticadas. O terceiro, Coming Up (1996) mostrou um lado pop e melódico da banda, sendo até hoje o disco do Suede mais bem sucedido comercialmente. Depois de experimentalismo em excesso com Head Music (1999) a banda lançou A New Morning (2002), trabalho cheio de arranjos acústicos e que apesar da qualidade não chamou atenção do grande público. Foi o último disco antes da banda encerrar atividades.

Eis que a banda retorna agora, com um novo álbum de material inédito Bloodsports (2013, Warner). Para muitos a volta do Suede serviu como chance de relembrar velhos tempos ao vivo. Mas, e quanto ao futuro? Seria a banda capaz de lançar canções de qualidade e finalmente estabelecer a tal identidade que tanto buscou? Ao ouvir o disco, fica uma impressão: Se a banda não “chegou lá” de fato, ao menos é possível ver no trabalho um caminho promissor. Em entrevistas recentes Brett Anderson citou que o novo álbum combinaria o lado mais lírico de Coming Up com os elementos obscuros de Dog Man Star. Embora soe estranho, é mais ou menos esse o clima que permeia grande parte das faixas no novo trabalho.


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Mesmo tendo lá seus momentos fracos, o disco apresenta arranjos envolventes e uma sensibilidade melódica que o torna atraente logo na primeira audição. Há vários arranjos e riffs inspirados como em Snowblind e Starts and ends with you (com um refrão crescente e belo arranjo que remete a melhor fase da banda durante os anos 90). A melódica For the Strangers mostra um competente trabalho do guitarrista Richard Oakes e um clima de “balada não balada” que o Suede sempre explorou de forma criativa. A primeira faixa do álbum, Barriers, talvez seja um dos pontos mais fracos do disco. Não chega a ser ruim, mas parece ser um ponto em que a banda não havia definido uma sonoridade a ser explorada. Ecos usados à exaustão acabam fazendo a banda soar como um pastiche de U2 (o que de fato, não é motivo nenhum de orgulho).

A soturna Sometimes i feel i’ll float Away começa atmosférica e esparsa mas acaba seguindo um rumo mais linear em certo momento. De fato ela mostra um lado novo da banda que parecia ainda não ser explorado em discos anteriores – ou pelo menos, não havia sido explorado de forma tão bem resolvida. A grandiosa Hit Me intercala uma excelente interpretação de Anderson com um trabalho habilidoso do restante da banda, resultando em uma das melhores faixas do disco. Já a fúnebre Always traz sons modulados e camadas sonoras que dão à ela um clima espectral. A faixa expande o já extenso leque sonoro do grupo. Pra quebrar o clima há também a fraca e piegas What Are you not telling me?.

De fato, as poucas faixas fracas não chegam a afetar a qualidade do conjunto, entretanto servem pra deixar ele com uma cara irregular (mais uma vez). A banda acerta mais do que erra no novo trabalho, mas de fato alguns erros a menos teriam feito total diferença no disco. Pra comparar, algumas edições do trabalho foram lançadas com faixas bônus que superam de longe algumas das canções que entraram na seleção final de Bloodsports. Caso da excelente Dawn Chorus, lançada na versão japonesa do álbum. Se lá no início de carreira a banda já sabia que “Algumas coisas são mais importantes que habilidade” após tantos discos lançados talvez o grupo não tenha ainda chegado a um consenso sobre o que seriam essas “outras coisas” e talvez seja apenas o que falta para o grupo garantir mais acertos nos trabalhos futuros.

 

Suede

Bloodsports (2013, Warner)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Brett Anderson, Pulp e Manic Street Preachers
Ouça: Hit Me, Snowblind e Always

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.