Disco: “Blue Chips”, Action Bronson

/ Por: Cleber Facchi 24/04/2012

Action Bronson
Hip-Hop/Rap/Alternative
http://www.facebook.com/pages/Action-Bronson/

Por: Cleber Facchi

Action Bronson é provavelmente uma das figuras mais interessantes e peculiares do hip-hop atual. Como se não bastasse a cor de pele branca em um território musical dominado por uma imensa maioria negra, o nova-iorquino de 27 anos divide o trabalho de rapper com o cargo de chef de cozinha em um restaurante na região do Queens, bairro onde nasceu em meados da década de 1980 e foi um dos principais pontos de expansão da cultura hip-hop. De origem italiana e albanesa, o rapper – que tem o nome inspirado em um gângster da década de 1940 e no ator Charles Bronson – usa dessa mistura de referências para dar cozimento e distinção aos trabalhos que lança, álbuns que parecem melhores e mais completos a cada novo lançamento.

Ainda imerso no mesma clima comercial e melódico da mixtape anterior – a cômica e excelente Dr. Lecter -, Action faz do recente Blue Chips (2012, Fool’s Gold/Reebok Classics) uma nova comprovação de sua própria relevância dentro do cenário recente. Longe dos experimentos ou quaisquer exageros (e acertos) que preencham o hip-hop atual, Bronson se concentra na produção de um registro “simples”, movimentando versos comercialmente viáveis e samples que parecem feitos para colar nos ouvidos carentes de um som mais pop. Todavia, a grande sacada do rapper está em transformar essa suposta simplicidade em um caminho fácil para capturar os ouvintes (mesmo os mais exigentes) sem grandes esforços.

Claramente inspirado na sonoridade montada ao longo da década de 80 – ou nos momentos mais “fáceis” dos anos 1990 -, Bronson se concentra inteiramente em alcançar uma linguagem musical constantemente agradável e comandada pela proliferação de hits. A exemplo do que Kendrick Lamar alcançou no último ano com a chegada de Section.80, o nova-iorquino esculpe cada fração do álbum com uma linguagem dançante, radiofônica e estranhamente nostálgica. Por vezes é como se estivéssemos dentro de algum clássico lançado há três décadas, como os primeiros discos Run DMC (as guitarras sampleadas em Expensive Pens lembram isso) ou quando o Public Enemy se concentrava em faixas menos politizados.

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=EONhJ9qvCPY]

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=WAWfe4uXelo]

Da mesma forma que nos lançamentos anteriores, em Blue Chips a força do trabalho não está nos versos – na maior parte do tempo bem humorados – de Bronson, mas nas melodias e recortes instrumentais que vão costurando a obra. Interessante observar o quanto o trabalho do rapper parece se aproximar de um universo totalmente externo ao hip-hop ou mesmo da própria música pop. Melhor exemplo disso está na escolha de faixas como Return To Me (de 1958) do cantor Dean Martin ou na empoeirada Get Out of My Life, Woman (de 1967) – já sampleada pelo Cypress Hill -, faixas que parecem resgatadas de alguma loja de discos antigos e que ganham novo acabamento nas mãos do norte-americano e seus parceiros produtores.

A maneira como o rapper passeia por diferentes épocas da música possibilita que o álbum alcance um resultado atemporal, como se o disco (e cada pequena parcela dele) fosse capaz de alcançar o mesmo resultado satisfatório de hoje caso fosse lançado há duas ou três décadas. Esse tipo de estrutura parece muito próxima daquilo que Schoolboy Q alcançou no lançamento de Habits & Contradictions há alguns meses: um registro que mesmo fruto do presente cenário musical, parece capaz de dialogar com públicos e referências dos mais distantes gostos e épocas. Mais do que um mero reduto de composições populares e versos vendáveis, a estrutura diversificada do álbum é o que acaba dando sustento a ele, fazendo com que Bronson atinja um trabalho comercial, porém, em nenhum momento óbvio ou cansativo.

Na imensa panela que o chef-rapper utiliza para preparar seus pratos, é possível encontrar não apenas ingredientes frescos, mas todo um raro conjunto de temperos e condimentos antigos que apenas garantem novo sabor ao trabalho do nova-iorquino. O resultado dessa cuidadosa produção está na possibilidade de saborear uma suculenta iguaria, um prato que você até já pode ter provado algumas vezes em outras ocasiões, mas nas mãos de Action Bronson ganha novos e surpreendente sabores.

Blue Chips (2012, )

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Schoolboy Q, Kendrick Lamar e Meyhem Lauren
Ouça: 9-24-11 e Hookers At The Point

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/39548588″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.