Disco: “Boa Parte De Mim Vai Embora”, Vanguart

/ Por: Cleber Facchi 18/08/2011

Vanguart
Brazilian/Folk Rock/Indie
http://www.myspace.com/vanguart

Por: Cleber Facchi

Em setembro de 2010, durante uma rápida passagem do Vanguart pelos estados do sul lembro de ter me encontrado com os membros do grupo após uma de suas apresentações na cidade de Ponta Grossa, Paraná. Entre goles de cerveja, fotos com as fãs e um pequeno “comercial” feito para um suposto prato típico local acabei questionado Hélio Flanders sobre o que o público poderia encontrar no próximo trabalho de sua banda. Na ocasião, Flanders, profundamente emocionado por ter acabado de ouvir Deus e o Diabo no Liquidificador do Cérebro Eletrônico alguns meses antes de seu lançamento tratou o novo disco do Vanguart como “um desafio”.

Segundo o músico, a banda toda havia entrado em consenso que em seu próximo trabalho todas as composições teriam seus versos cantados apenas em português. Quem acompanhava o grupo cuiabano desde que seus primeiros singles começaram a despontar pela internet sabe o quanto essa mudança seria radical, afinal, na homônima estreia do quinteto lançada em 2007, apenas seis das 14 faixas do disco eram entoadas em idioma nacional, sendo o restante dividido entre faixas em inglês e uma em espanhol. Como o próprio Flanders havia dito, o próximo trabalho da banda – na época ainda sem nome – seria um disco mais “popular” e pensado para aproximar o grupo do público.

Passado quase um ano desde a despojada conversa, ao ouvir Boa Parte De Mim Vai Embora (2011, Vigilante), segundo álbum da banda mato-grossense é que realmente se torna possível materializar todo o conceito de “popular” que o grupo tanto buscava, afinal, em cada canto do disco, a banda deixa transparecer um tipo de unidade instrumental e (principalmente) poética que tornam o álbum essencialmente próximo de seu público. Um tipo de concisão que até o presente momento o quinteto jamais havia alcançado, mesmo em suas antigas faixas cantadas em português e muito menos em seu memorável hit, o famigerado Semáforo.

Perdido em algum lugar da década de 1960, mas ainda assim capaz de dialogar com diferentes décadas da música brasileira – seja o que fora proposto nos anos 80 ou a partir do novo século -, em seu novo álbum a banda se distancia de forma visível de suas antigas criações, soando muito mais fácil, porém de nenhuma maneira descartável ou inconsistente. É o típico disco que poderia tocar tanto em uma rádio convencional, atendendo fortemente todas as demandas do público, como no player de algum ouvinte que busca por um som conceitual.

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Mi Vida Eres Tu, faixa que abre o álbum de forma fenomenal deixa transparecer muito do que será encontrado ao longo do disco, com letras que mobilizam seus esforços em tratar da saudade, da perda e da dor, além de uma instrumentação que mesmo próxima do folk rock conta com uma aura de música brega da década de 1970. Diferente do álbum anterior, em que todas as faixas pareciam amarradas de maneira densa, com uma instrumentação que pouco se modificava, com o novo disco é possível absorver cada mínima textura, seja através dos teclados peculiares de Luiz Lazzaroto ou das sempre similares bases de guitarras entrelaçadas por David Dafré.

Havia no decorrer do primeiro disco a construção de um cenário musical que puxava sempre os rumos do trabalho para baixo, não por seus versos melancólicos ou a busca por uma sonoridade exposta de forma dolorosa, mas uma espécie de excessivo controle do grupo, algo que não se fazia presente em suas apresentações ao vivo e que de certa maneira quebrava o bom rendimento da pequena obra do Vanguart. Era só quando tocava Para Abrir Os Olhos, no fechamento do álbum que a banda conseguia repassar o mesmo entusiasmo e a mesma energia que se fazia presente em seus shows, algo que felizmente parece muito bem resolvido em Boa Parte De Mim Vai Embora.

Em suas composições, o álbum soa grande, como se fosse cantado com entusiasmo, tocado com energia e absorvido de forma muito mais intensa e entusiasmada pelo ouvinte. Mesmo em seus momentos de dor, tricotados pelo uso de versos intensamente pensos há sempre um pequeno elemento ou acréscimo que alavanca o disco, fazendo com que o registro se manifeste de forma agradável do minuto que começa até seu fechamento com a quase dançante Depressa, música que mais uma vez repassa um toque de brasilidade ao álbum.

Boa Parte De Mim Vai Embora não é em nenhum momento uma continuação daquilo que o Vanguart vinha desenvolvendo, muito pelo contrário, já que grande parte do que se desenvolve ao longo do registro talvez jamais pudesse ser visto no primeiro álbum do grupo. É quase como se uma nova banda, dona do mesmo nome do grupo cuiabano resolvesse se lançar, investindo em um tipo de som mais comercial, fácil, porém, belo e inteligente na mesma medida.

Boa Parte De Mim Vai Embora (2011, Vigilante)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Pélico, Mallu Magalhães e Thiago Pethit
Ouça: Mi Vida Eres Tu e Engole (Arde Mais Que Brasa Em Pele Quente)

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.