Disco: “Body Music”, AlunaGeorge

/ Por: Cleber Facchi 25/07/2013

AlunaGeorge
Electronic/Pop/R&B
http://www.alunageorge.com/

Representantes do lado mais nostálgico da nova safra de artistas/produtores da cena britânica, o casal Aluna Francis (vocais) e George Reid (produção) encontra no bem planejado alinhamento dos sons e vocais uma relação de novidade com a música negra e o pop trabalhados há duas décadas. Mais do que reviver marcas específicas da música conquistada nos anos 1990 – e até depois disso -, o duo londrino converte o aguardado primeiro registro de estúdio em um catálogo convincente de hits. Faixas que pervertem a nostalgia empoeirada do R&B, estreitam o laço com a eletrônica e trazem nas confissões dos versos um esforço para além do básico.

Construído sob os ouvidos atentos do público, que viu boa parte das 14 faixas de Body Music (2013, Island) serem apresentadas ao longo dos meses, o álbum incorpora no exercício bem resolvido das batidas e temas melancólicos uma morada natural para os inventos do casal. Seguindo as pistas deixadas pelos parceiros do Disclosure em Settle, Reid assume individualmente a busca de canções que ausentam do teor experimental da eletrônica, resumindo o disco em um perfeito exemplar da música comercial. Todavia, longe de saborear as sobras do trabalho de Aaliyah e Destiny’s Child, o produtor resolve ir além, fragmentando toda a sonoridade do registro em um exercício que força a atenção do ouvinte.

Enquanto as temáticas abordadas em You Know You Like It EP (2012) vinham sob forte teor de descoberta, como se Francis e Reid estivessem se conhecendo lentamente, ao pisar no território do novo trabalho, o produtor e a parceira sabem exatamente para onde ir. Dentro dessa completa visão do cenário, Reid encaixa melodias de forma a alimentar um som dançante (Bad Idea), diluir doses imoderadas de sofrimento (Friends To Lovers) e até mesmo brincar com as redundâncias do pop (Superstar). Body Music – como o próprio título revela -, se comporta como um catálogo de “músicas para o corpo”, indo do descompromisso dançante à completa letargia dos movimentos.

Mais do que dançar de acordo com o ritmo imposto pelo parceiro, Aluna Francis é quem assume por diversas vezes o rumo que orienta o trabalho. Outlines, logo na abertura do disco, esforça na voz pueril da cantora um sentido de confissão. Dolorosa, a música traz os versos (que clamam por um antigo amor) para frente dos sons, tornando a presença de Reid muito mais “complementar” do que indicadora em si. O mesmo exercício se repete em Attracting Flies, dessa vez, com os vocais de Francis sendo explorados como um instrumento para o parceiro, que ainda amplia a mesma tonalidade no manuseio torto de Your Drums, Your Love, outra velha conhecida dos ouvintes.

Quem acreditava que o melhor já havia sido entregue antes mesmo da estreia de Body Music – com parte expressiva das faixas já lançadas em singles -, verá que a dupla ainda tem muito a oferecer. Com uma maior relação com o Hip-Hop (em Lost & Found) e interações criativas na música pop (em Superstar e This Is How We Do It), o disco amplia visivelmente o território do casal, que mesmo agora aponta para o que pode vir a orientar as canções do AlunaGeorge em um futuro próximo. Entretanto, é no maior aproveitamento do R&B que o álbum realmente convence. Enquanto Best Be Believing soa um encontro entre Rihanna e Charli XCX, Outlines se aproveita de elementos típicos do trabalho de Frank Ocean, revelando o lado mais ponderado da dupla – repetido ainda em Kaleidoscope Love e Diver.

Dinâmico e resolvido em uma estrutura tímida quando próximo de outros trabalhos do gênero, Body Music assume um conceito distinto em relação ao que orienta a produção estadunidense e a face mais comercial do Pop-R&B-Eletrônica, frequentes em uma série de outras obras. Apoiado no mesmo compromisso com o UK Garage e outras variantes implantadas na música britânica, o registro se permite adornar pelo invento sem necessariamente forçar isso, prova de que o Pop não precisa ser fútil para cumprir com suas funções, e a dupla sabe bem disso.

AlunaGeorge

Body Music (2013, Island)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Disclosure, Jessie Ware e Charli XCX
Ouça: Kaleidoscope Love, Attracting Flies e Just a Touch

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.