Disco: “Bom Retiro”, Mauro Motoki

/ Por: Cleber Facchi 10/12/2011

Mauro Motoki
Brazilian/Indie/Alternative
http://soundcloud.com/mauromotoki

Por: Cleber Facchi

 

Aos que observam o trabalho da paulistana Ludov com certo distanciamento, talvez Mauro Motoki seja apenas um mero coadjuvante em um afastado plano de fundo, uma imagem que traz como elemento de foco a personagem de voz forte da vocalista Vanessa Krongold. Se engana quem enxerga o músico com essa perspectiva. Responsável por grande parte das composições do grupo e vocalista em algumas poucas músicas ao longo de toda a discografia da banda, o brasiliense chega agora com o primeiro registro em carreira solo, aproveitando das férias de seu principal grupo para dar continuidade ao trabalho que promove há mais de uma década.

Seguindo pelo mesmo caminho musical apresentado no EP Dois a Rodar de 2003, porém, explorando uma via um pouco menos sofisticada e estranhamente mais atrativa, Motoki vai ao longo de 42 minutos ressaltando todo o lirismo delicado que promove ao lado da Ludov, transformando as 10 composições do álbum em uma espécie de retrato de si próprio. Ao mesmo tempo em que fala suas angústias e pequenos casos de amor (ou separação), o disco ainda parece delinear o bairro que o cerca, o Bom Retiro, região paulistana onde gravou o trabalho – no estúdio que mantém com Fabio Pinczowski, o 12 dólares – e localidade que inclusive garante título ao trabalho.

Perdido em contornos modestos, o cantor movimenta a já tradicional instrumentação que o acompanha há anos, talvez desde o tempo da extinta Maybees. Entre guitarras melódicas, alguns parcos teclados e uma linha de baixo decisiva, o músico evidencia um pequeno compendio trabalhado nas obviedades do pop rock, contudo, distanciado dos clichês e prováveis repetições do gênero. Fazendo uso destes elementos, Motoki (agora o cantor), passeia por todo o trabalho de maneira suave, pontuando cada música do disco com sua voz básica e satisfatória.

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Entre canções que parecem vindas dos primeiros álbuns da Ludov, como Grandes Esperanças e Um Rio Só Cai, o brasiliense acaba se afundando lentamente em uma maré de reverberações sorumbáticas, estabelecendo o que parece ser a maior característica do álbum. Surgem assim músicas como a doída As Invasões Bárbaras e Quando Foi que a Solidão Aconteceu pra Gente?, que assim como o própria anuncia logo nos primeiros versos parece se voltar para um passado recente e marcante na vida de Motoki.

Ao mesmo tempo em que honra as velhas referências que o acompanham desde registros passados, o músico aproveita ainda para atravessar pequenos experimentos, algo que o toque quase brega de Meus Fones (uma das melhores e mais pegajosas do álbum) e a envolvente Imagens do Japão, com um misto de romance e melancolia dissolvido em um belo naipe de metais, exemplificam com perfeição. Dentro desse pequeno jogo de variedades o artista vai alavancando um amplo conjunto de memoráveis composições, músicas conduzidas por uma fluência radiofônica tão natural que se torna praticamente impossível não se deixar conduzir pela maestria de Motoki.

Feito para ser apreciado do começo ao fim sem interrupções, o registro deixa mais do que claro que não são necessários grandes artifícios ou maquiagens instrumentais tomadas por experimentos para que se desenvolva um grande álbum. Mais do que um mero produto radiofônico, a estreia solo do “paulistano” parece se anunciar um tipo de recanto melancólico, um bom retiro simplista e acolhedor tanto para Motoki como para o próprio ouvinte.

Bom Retiro (2011, Independente)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Ludov, Pullovers e Pato Fu
Ouça: Grandes Esperanças e Imagens do Japão

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.