Disco: “Bona Fortuna”, Bona Fortuna

/ Por: Cleber Facchi 12/06/2012

Bona Fortuna
Brazilian/Indie/Folk
https://www.facebook.com/bona.fortuna.oficial

Por: Cleber Facchi

Há cinco anos o lançamento do homônimo primeiro disco da banda Vanguart fez com que pela primeira vez o público e a crítica pudessem enxergar uma tímida, porém, crescente cena folk em solo verde e amarelo. Como se estivesse adormecido (ou talvez esquecido), em poucos meses uma nova frente de seguidores do gênero começou a brotar nos mais remotos cantos do país, contando com o apoio de nomes até prévios a este lançamento, mas que acabaram posteriormente incluídos no mesmo pacote. Logo, foi difícil não se encantar pelo primeiro registro solo de Mallu Magalhães ou mesmo tratados mais obscuros, como os iniciais lançamentos da Lestics e Bonifrate, afinal, os violões estavam de novo na moda e todo mundo queria um acorde disso.

Se há meia década o estilo tomava fôlego, incontáveis são os projetos que hoje se entregam aos enquadramentos acústicos do gênero. Da melancolia country que flutua no primeiro disco dos paranaenses do Rosie and Me – Arrow Of My Ways -, passando pelos sufocantes versos em bom português entoados pelo sergipano Arthur Matos no disco Seu Lugar, cada ponto do país parece enviar seus representantes. Artistas que se deixam conduzir por registros confessionais e uma sonoridade em que as cordas de nylon e a clareza dos sons falam mais alto. Dentro dessa nova leva está o quarteto mineiro Bona Fortuna, uma autoproclamada banda de folk rock, mas só até a primeira faixa.

Distantes do que outros colegas têm buscado dentro do folk tupiniquim, o quarteto formado em Mariana, interior de Minas Gerais utiliza de uma capa planejada em tramas acústicas, mas seus interesses são outros, estão além do que a banda aponta na inicial canção de seu primeiro disco. Por mais que o grupo até assuma Mumford and Sons, Bob Dylan e Johnny Cash como suas grandes referências, a tonalidade colorida que envolve o primeiro e autointitulado disco da banda pende para um toque diversificado, com o disco se relacionando bem mais com o pop-rock nacional do que com a música folk em si. O que antes vinha com um discurso genuíno e orgânico, logo deixa as influências dylanianas de lado para logo se entregar (mais uma vez) ao que fora deixado pelo Los Hermanos no disco Bloco do Eu Sozinho (2001).

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A relação com a obra do quarteto carioca é tão assustadoramente constante que torna-se difícil escutar faixas como Parece Que Perdi a Fé (um misto entre Retrato Pra Iaiá com Eleanor Rigby dos Beatles, outra influência forte da banda), Ornamentos (Horizonte Distante) e O Duelo (Azedume) sem esbarrar em visíveis e por vezes constrangedoras exaltações das influências do grupo mineiro ao grupo de barbudos do Rio de Janeiro. É como se a banda deixasse de lado a chance de viver um som próprio e possivelmente inventivo para seguir por um caminho sem surpresas, raso e fácil de ser esquecido. Mesmo a delicadeza de algumas composições acaba passando despercebida mediante a baixa originalidade do trabalho.

Talvez a banda até alcançasse um melhor desempenho se deixasse de lado toda a adoração que estabelece em torno da herança deixada por Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante e passasse a andar com as pernas próprias. Não há como negar que o acerto reside na obra do Bona Fortuna, não neste primeiro e pouco expressivo registro, mas em seus integrantes. Enquanto André Araújo ocupa de forma competente os vocais (tudo bem, errando um pouco aqui e ali), Queiroz e sua guitarra deixam evidente a habilidade em reproduzir doces melodias, manifestação que acaba abrindo espaço para que o ainda tímido baixo de Filipe Oliveira possa se anunciar enquanto a bateria de Oliveira corre pontual ao fundo das canções.

A somatória de acertos, entretanto, não consegue salvar o disco, que a todo o momento soa velho e deveras atrasado, afinal, quantas não já foram as bandas apenas nessa última década que acabaram esquecidas por justamente usurpar das mesmas referências reaproveitadas pelo grupo mineiro? Falta inovação e esforço para que o quarteto alcance um som próprio, algo que eles até chegam próximos de alcançar com a ensolarada e abertamente pop No Bar, mas acabam esquecendo na totalidade pouco criativa do registro. Esqueçam o rótulo de folk e a tentativa de manter um estanho autocontrole no decorrer das canções, a Bona Fortuna pode soar maior, basta apenas que os integrantes achem o caminho certo para isso.

Bona Fortuna (2012, Independente)

Nota: 5.0
Para quem gosta de: Los Hermanos, Vanguart e Bangs
Ouça: No Bar e O Que Você Vê

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.